06. DE MAL A PIOR

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ALEXANDRA

Talvez eu seja uma bisbilhoteira e extremamente mal-educada por ter feito o que fiz (certamente é isso o que Pedro deve pensar), mas alego que a culpa disso tudo é da curiosidade e não minha.

Logo depois de eu ter atendido a porta para a garota baixinha de cabelo escuro, Pedro apareceu e fez cara de susto ao vê-la. Entendendo que eles precisavam conversar sozinhos, fingi que estava indo para o meu quarto, quando, na verdade, fiquei escutando a conversa dele com a garota, que posteriormente descobri se chamar Agatha.

Do meu esconderijo no topo da escada, pude ouvir o seguinte diálogo entre os dois, o qual não valia nem esperar três minutos estourando milho de pipoca no micro-ondas para acompanhar enquanto comia:

—O que você veio fazer aqui, Agatha? — Pedro perguntou, parecendo perturbado com a presença dela, que devia ter metade do seu tamanho se não usasse uns bons centímetros de salto alto agora.

—Vim conversar com você e acertar as coisas entre nós, é claro. — Retrucou ela— Mas daí eu fui até a sua casa e tive que ouvir da sua irmã que você estava na casa da Alex, Pedro Arthur. O que diabos essa Alex é sua?

Tudo bem, talvez valha a pena sim ficar esperando a pipoca ficar pronta.

—Minha vizinha— Respondeu Pedro em tom de obviedade— E irmã de um dos meus veteranos da faculdade.

—Que seja— Pude ver quando Agatha revirou os olhos, fazendo pouco caso —De qualquer forma, vim porque nós dois precisamos conversar.

—Conversar sobre a sua obsessão por mim, que te fez mudar de faculdade para poder me perseguir, mesmo depois de dois meses de término? — Indagou ele.

—Pedro...

—Tudo bem, Agatha— Ele pareceu, se é que é possível, calmo, mas, ao mesmo tempo, prestes a perder a paciência com a menina ao falar isso— Me espera aí fora enquanto eu me despeço do Anderson— E aí, em um exemplo nato de cavalheirismo, Pedro Mendes fechou a porta na cara da sua suposta ex-namorada e respirou fundo antes de me flagrar no topo da escada, bisbilhotando a sua conversa— Cuidando das vidas alheias, Alexandra?

Eu, em um grande exemplo de coragem, somente lhe dei as costas, fingi que não era comigo, e saí praticamente correndo para me trancar em meu quarto, que é onde eu estou até agora.

Fiz todos os deveres de casa, assisti dois episódios de Orange Is The New Black e fiz um rascunho de um desenho do João Augusto vestido como Kilian do seriado Once Upon A Time; um estranho pedido de uma amiga da Mariana que está a fim dele. E eu realmente não sei se o mais esquisito disso tudo é desenhá-lo como Kilian ou alguém estar a fim dele.

O fato é que depois de ter cumprido tudo que tinha para fazer, só me restou o tédio. É muito difícil que eu fique entediada em uma quarta-feira à noite, considerando que meus professores não brincam na hora de mandar dever de casa, mas também não significa que esteja reclamando. É só que ficar no tédio faz com que os efeitos do meu remédio me acometam com mais força, e um deles é me fazer sentir sono o suficiente para dormir em horários que não deveria, o que acaba desregulando completamente o meu ciclo sono-vigília.

Logo, não é nem uma surpresa quando acordo de madruga completamente alerta, mas é frustrante. Sem sono, pego o meu cobertor com a ideia de ir sentar na cadeira de balanço da varanda e esperar que a brisa noturna de Horizonte do Norte me embale como uma música de ninar e me faça dormir mais um pouco. O problema nisso é que quando me aproximo das portas que dão acesso à varada, vejo Pedro andando de um lado para o outro da varanda dele, parecendo transtornado, pensativo, ou os dois. E o detalhe inconveniente disso tudo é que ele está usando somente uma calça de moletom, exibindo uma barriga inesperadamente em boa forma para os animais noturnos e eu.

FOGO ENCONTRA GASOLINA [COMPLETO]Where stories live. Discover now