10. SALVADOR

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PEDRO

Ser o irmão mais velho às vezes é uma grande dor de cabeça, principalmente quando a sua caçula resolve aprontar de maneira inesperada e sai sem te avisar para onde vai. Aí, depois de perder quase uma hora ligando para ela e todos os possíveis amigos com quem ela poderia estar à toa, você entra em um estado de desespero que jamais admitirá novamente e é seu vizinho e veterano da faculdade quem acende uma luz aos seus problemas e sugere que a irmã fujona pode estar com a irmã maluca dele. Foi assim que acabei vindo parar com Anderson no meio de uma mata, na beira de um lago.

—Não fica com raiva, Pedro, eu não fiz por mal... —Mariana tenta aliviar a situação para o lado dela, mas, no momento, o meu sangue ferve e nada do que ela disser diminuirá a minha irritação. Quero só ver o que a mamãe e o Ricardo falarão quando souberem de sua aventura. É sabido por todo mundo de Horizonte do Sul que, no verão, o lago Luna é perigoso por estar com um maior volume de água em razão do período chuvoso.

—A gente conversa em casa—, afirmo, notando pelo canto do olho quando o único rapaz do grupo sai do lago vestindo um short de banho que me faria rir em uma situação comum.

—Alexandra, sai logo daí! Já deu por hoje —, ouço Anderson dizer.

—Já vou! —A irmã maluca dele grita de volta.

Depois disso, Alexandra mergulha. O rapaz do grupo veste suas roupas sem se preocupar muito em se secar e Charlotte faz a mesma coisa. Nesse meio tempo, Alex já devia ter chegado a margem, pois o lago não é tão extenso, apesar de profundo. No entanto, ela não sai. Conseguimos vê-la na superfície de vez em quando, mas é como se não saísse do lugar...

—Tem alguma coisa errada. —Anderson afirma.

E antes mesmo que a minha mente processe a informação direito, ele e eu já estamos tirando nossos calçados e entrando no lago. Assim que a água alcança a minha cintura, nado até o centro do lago e mergulho para olhar dentro da água. Anderson encontra Alex primeiro e a leva até a superfície, mas sou eu que percebo que o pé dela está preso e mergulho para desenroscá-lo.

—Ela está desmaiada. —Anderson me informa de modo tenso, ainda dentro do lago.

—Precisamos tirá-la daqui e reanimá-la.

Anderson assente. É ele quem segura Alexandra com um braço em volta de seus ombros e a puxa até a margem, mas meu vizinho parece angustiado demais para pensar com clareza sobre o que fazer depois de deitar Alexandra na margem do lago quando saímos. Por isso, assumo a responsabilidade e tento uma massagem torácica para que Alex acorde e vomite e água que engoliu.

—Ela não está morta, né? —Ouço a voz chorosa de Charlotte perguntar.

—Cale a boca. —É o que Anderson diz. —E faça alguma coisa mais eficiente, Pedro!

Começo a me desesperar tanto quanto ele quando percebo que a massagem não funciona, mas me obrigo a ser racional. Sem pensar muito, aproximo a minha boca da de Alex e tento a respiração boca a boca em conjunto com a massagem. A situação toda é esquisita pra caralho e parecia muito mais eficiente nos dramas da TV. Quase penduro a toalha, desisto de tentar e grito para que alguém chame pelo SAMU, mas então... Alexandra levanta de repente e vira para o lado, vomitando.

—Graças a Deus! —Mariana afirma atrás de mim. —Isso foi bem nojento e provavelmente nos traumatizará para sempre, mas graças a Deus!

Sinto alívio e quase deito no chão, sentindo como se meu espírito tivesse abandonado o meu corpo por um momento. Isso foi adrenalina demais para qualquer um suportar.

FOGO ENCONTRA GASOLINA [COMPLETO]Where stories live. Discover now