Nessa noite Selena não dormiu. A sua mente chegaram as inúmeras histórias sobre os seus pais contadas por Conan. Vagueava sobre os primeiros incidentes, quando era ainda uma pequena criança, onde atacara um menino no parque por ele acidentalmente ter partido o seu balde de brincar na areia. Nessa altura Conan sabia que estava na hora de pô-la a par sobre o que ela realmente era. A partir daí aprendeu a controlar o seu ser com a ajuda das porções de calmantes que Conan lhe dava. No entanto apenas soube do assassinato do seu pai aos quinze anos, quando encontrou uma carta aparentemente da sua mãe a implorar a Conan que cuidasse de Selena como se ele fosse o seu falecido amado. A sua reação foi previsível. Quando Conan chegou a casa encontrou a mesma de pernas para o ar. Sofás revirados, jarras partidas e vidros espalhados em torno do tapete. Primeiramente pensou que tinha sido assaltado, mas assim que viu Selena encolhida na sua cama coberta por lagrimas entendeu o que havia acontecido.

Sobressaltada, Selena voltou ao mundo real. Sentada na cama, olhou para tudo a sua volta. Para tudo o que conquistou durante os vinte e seis anos em que habita na terra. Graças a ajuda de Conan e dos calmantes diários, mantêm um emprego fixo como chefe do pessoal no Mc Donald's, é uma aluna de medicina brilhante. Tudo o que é lhe deve a ele. Naquele momento, teve vontade de o acordar e dizer um obrigado. Mas resistiu a essa vontade e voltou a deitar-se.

Já eram seis da manhã, Conan preparava-se para ir para o Céu.Como anjo, Conan tinha obrigação permanente de proteger pessoas, só isso contribuía para a sua felicidade. Desde a morte de Thomas, que acumula a função de educador de Selena com a de Anjo-mor.

Conan aproximou-se do corpo adormecido da Selena e beijou a sua testa. Lentamente Selena abriu os olhos preenchidos de olheiras e olhou para Conan.

- Já vais? - Perguntou Selena com uma voz ensonada.

- Tem que ser. - Respondeu Conan com um meio sorriso. - Já vi que não passaste uma boa noite.

Selena espreguiçou-se e logo se sentou na cama.

- Não consegui deixar de pensar na situação da Amanda... - Fez uma breve pausa e focou o seu olhar no cobertor que remexia. - Lembrei-me de tudo desde que descobri sobre eles, sobre mim.

Conan olhou-a apreensivo. - Eu preciso que me prometas uma coisa. - Dito isto Selena olhou para ele e assentiu com os olhos marejados. - Não te armes em detetive e tentes descobrir quem matou a Amanda. Deixa esse trabalho para a polícia.

- O que é que a policia vai fazer Conan? Questionar meia dúzia de pessoas que pensam ser suspeitos e no fim liberta-los a todos por falta de provas e arquivarem o processo? - A sua voz saiu rápida sem lhe dar tempo de respirar.

- Eu sei que é difícil, mas ao meteres-te nisto vais estar a por a tua propria segurança em risco! - A voz de Conan acabou por sair num tom mais elevado do que ele esperava. - És tudo o que eu tenho Selena. Eu nao te posso perder. - Declarou.

A lagrimas que a Selena tentava segurar com todas as suas forças caíram com as palavras de Conan. - Está bem.

Conan sorriu vitorioso e beijou Selena. - Tenho que ir. Porta-te bem.

Dito isto virou-se e caminhou até desaparecer da vista da Selena.

Logo levantou-se e caminhou para o seu guarda-fatos a procura de uma roupa para usar. Depois de vestir umas calças de ganga justas e uma camisola de malha branca, Selena dirigiu-se ao seu telemóvel e marcou o número de Melissa. Após ter chamado cinco vezes a amiga finalmente atendeu.

- Selena?

- Melissa! Como estas?

- Como achas que estou? - Disse Melissa num tom frio.

Selena não se abalou. Entendia que a amiga não estava bem e fizera uma pergunta estupida.

- Achas que posso passar por aí? - Perguntou Selena esperançosa de uma resposta positiva.

- Agradeço. - Murmurou Melissa.

Selena sorriu com o que ouvira. - Estou aí dentro de dez minutos.

Desligou o telemóvel e correu para fora da sua casa. Quando chegou á garagem procurou o seu carro. Entrou nele e não hesitou em liga-lo. Passaram dez minutos e Selena ja estava com o carro estacionado na frente do prédio onde Melissa vivia.

Quando Selena entrou no sujo e recôndito apartamento da amiga, encontrou uma Melissa envelhecida e derrotada. Alguém achara por bem, sugar a vontade de viver e toda a energia única que caracterizavam Melissa.

- Então que te trouxe cá?- Pergunta Melissa, um pouco curiosa

- Se foram eles que fizeram isto a Amanda, não saíram impunes, de maneira nenhuma. Ambas sabemos como isto será, se deixar mos a investigação encarregue dos policias.

- Tu não estás a propor aquilo que eu estou a pensar pois não.

- É mesmo isso que eu estou a pensar.

Num ataque de fúria, Melissa desata aos gritos e escorraça Selena de sua casa.

- És um monstro. Como é que te atreves a resgatar esse capítulo fechado da nossa vida?

- Eu não o fiz por mal. Eu apenas achei...

- Achaste o quê? Que ressuscitar aquilo que levou a Amanda a morrer, era uma boa hipótese.

- Agora que penso nisso, tu tens razão. Mas eu não o fiz por mal.

- Sabes qual é o teu problema? Nunca fazes nada por mal. Não fizeste por mal quando espancaste o meu namorado, não fizeste por mal quando alvejaste a Amanda na perna, quando- Melissa para por uns instantes e tenta avaliar as consequências do que se prepara para dizer. Lança um olhar de censura na amiga e prossegue-mataste a Amanda...

Guardiões do SubsoloWhere stories live. Discover now