Capítulo 30

3K 411 53
                                    

Rafa estava segurando as lágrimas e pediu licença para ir ao banheiro. Estávamos incertos sobre como agir, afinal, Lila e Rafa eram amigas... Ou deveriam ser. Mas amizades tóxicas como aquela deveriam ser repensadas com mais frequência. Para que serve um amigo que te critica, te coloca para baixo quando deveria fazer exatamente o contrário?! Foi Nina quem me tirou dos meus pensamentos, aconselhando que eu fosse atrás da ruiva carioca. E assim eu fiz. Saí da mesa e fui em direção ao banheiro, sem saber ao certo se encontraria com a Rafa lá ou não. "Ir ao banheiro" poderia ser, sem dúvidas, apenas uma desculpa adequada para se afastar e ficar sozinha. Eu mesmo tenho esse hábito.

Cheguei ao pequeno corredor que abrigava dois sanitários: feminino e masculino. Aquilo era uma tremenda ironia, se vocês querem saber. Durante anos, me senti péssimo por ser obrigado a usar o banheiro feminino quando eu, visivelmente, era (sou) um garoto. Agora, no entanto, eu queria poder irromper o banheiro para mulheres sem ser censurado.

Entrar ou não entrar? Fiquei encarando a porta por alguns segundos, aguardando que alguma alma viva saísse de lá para me dizer se seria apropriado entrar ou não. Se não houvesse mais ninguém lá além da Rafa, era exatamente isso que eu faria. Acontece que ninguém apareceu para sanar minha dúvida. Bati na porta uma e duas vezes... Sem reposta. Então arrisquei, mesmo que estivesse correndo o risco de levar uma bolsada na cabeça ou um tapa na cara. Ah, vai... Era por uma causa nobre. E caso tudo desse errado, eu poderia me valer do meu charme.

Entrei e... Ninguém. O local estava completamente vazio. Exceto pelo ruído que vinha da última cabine. Aproximei-me e tive certeza de que havia alguém chorando ali dentro. Só podia ser ela. Tinha que ser ela.

− Rafa, abre a porta... – sussurrei na tentativa de persuadi-la. O choro cessou e não obtive resposta alguma. – Por favor... – mais silêncio. Respirei fundo e resolvi mudar minha estratégia. – Abra a droga dessa porta ou eu terei que derrubá-la – ameacei, embora meu tom de voz fosse brincalhão. E então, finalmente, uma resposta. Não era uma frase nem nada, apenas uma risada fraca que soava inacreditável. Esperei. E esperei mais um pouco. E só então ela resolveu falar.

− Você não seria capaz – duvidou e aquilo soava como um tentador desafio.

− Você já reparou nos meus braços, garota? Eu, absolutamente, seria capaz. Que afronta! – mais uma risada fraca.

− Não estou duvidando da sua capacidade física, mas da sua capacidade moral.

− Você tem cinco segundos para desistir dessa teoria... – indiquei, em seguida iniciando minha contagem. – Um. Dois. Três... – nesse momento, ouvi a porta da cabine sendo destrancada. – Quatro... – a porta se abriu lentamente. – Cinco... – e finalmente, lá estava ela.

Seus olhos estavam vermelhos, como todo o resto de seu rosto. Sua pele, demasiado branca, não lhe permitia omitir esse detalhe. Eu podia buscar por palavras de conforto que amenizassem a situação, mas não era tão bom com isso. Havia, entretanto, uma coisa que eu fazia muitíssimo bem: dar abraços reconfortantes. E foi o que fiz. Envolvi a ruiva nos meus braços e apertei seu corpo como se pudesse protegê-la de toda a crueldade mundana. Quando minha mãe, tia Mel, Nina, Marcela, ou até mesmo meu irmão faziam isso, eu me sentia protegido e amado, e era difícil ficar triste nessas circunstâncias. Secretamente, torcia para que acontecesse o mesmo com Rafaella.

− Obrigada – sussurrou contra o meu ouvido, me causando arrepios imediatos. Não sei se ela notou.

− Vamos embora? – sugeri. E Rafa, parecendo infinitamente grata, concordou.

Quando voltamos à mesa, Nico, Nina e Marcela estavam a nossa espera e pareciam preocupados. Eles já haviam pedido e pago a conta.

− Digam-me quanto foi – Rafa insistia, mesmo depois de lhe ter dito que não adiantaria.

− Peça para suas amigas virem buscar suas bolsas... E aí vamos para casa – era meu irmão, que havia pago a conta sozinho.

Rafa insistiu mais um pouco, até a Nina lhe explicar que não adiantaria de porcaria nenhuma. Eu havia dito o mesmo instantes antes, mas parece que a minha adorável cunhada consegue ser mais convincente e persuasiva que eu.

Camile (acho que é esse seu nome; elas são muito parecidas) foi ao nosso encontro buscar as bolsas e insistiu para que Rafa ficasse mais um pouco. Ela usava a desculpa de que essa viagem tinha o intuito de aproximá-las, mas isso era realmente difícil considerando que cada uma delas estava grudada no pescoço de um desconhecido. E mesmo que, contrariando toda a racionalidade, a Rafa quisesse ficar, eu daria uma de homem das cavernas, agarraria suas pernas e sairia arrastando-a para longe dali.

Na saída do bar, conhecemos um taxista gente boa que não se importou de transportar nós cinco, embora não fosse permitido. Marcela era muito magra e valia por metade de uma pessoa... Essa foi a nossa justificativa! E funcionou!!! Acomodada no colo de sua melhor amiga, ela realmente não fez muito mais peso no carro. Chegamos ao condomínio minutos depois e eu não estava pronto para me despedir da ruivinha que em poucas horas me causara tanta preocupação e empatia. Nossos amigos se despediram de nós, mas Rafa e eu ficamos no corredor, sem saber ao certo como devíamos nos afastar. A questão era que eu não queria me despedir dela. Não tão cedo, ao menos. Não eram nem três da manhã ainda. Eu precisava de uma desculpa... Pense, Noah. Qualquer coisa que não soe imoral, de preferência.

− Hm... Boa noite, eu acho – foi ela quem disse. Pense, cacete. Mais rápido ou ela vai fechar a porta.

A noite. A lua. As estrelas. Que cafonice, mas era o que tinha para hoje.

− O céu está muito bonito hoje... – comecei, novamente me embolando no meu nervosismo. – E há uma vista deslumbrante da sacada – eu nem sabia se dava para ver qualquer coisa da sacada. Eu podia ter acabado de cometer uma mancada das grandes. – E não estou com sono – eu estava dando voltas e mais voltas, incapaz de fazer uma droga simples de convite.

− Eu adoro observar as estrelas – ela se pronunciou, não me encarando diretamente e corando de um jeito que eu notaria até do outro lado do continente. – Posso te acompanhar?

GRAÇAS A DEUS!

Antes que minhas palavras pudessem estragar aquele pequeno milagre, segurei sua mão direita e a puxei para dentro do apartamento. Levei-a até a varanda e... GRAÇAS A DEUS parte dois! Havia, de fato, uma bela vista do céu carioca.

A vida costuma ser muito irônica, mas não é que às vezes ela sabe o que faz?!

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

Gente, chamem o SAMU! Tô apaixonada por esse Noah e não é pouca coisa não ♥ Sei que a maioria de vocês é #TeamNocelaForever, mas a Rafa, meu povo... Foi feita pro Noah, assim como o Noah foi feito pra Rafa! Amo tanto esse casal que nem consigo sentir ciúmes!!! 

No capítulo anterior, troquei os corazones, mas a Kelly, leitora PODEROSA, me avisou logo em seguida. Coloquei Carazón Partío do Alejandro Sánz, mas escrevi Corazón Espinado do Santana oO KKKKKK Desculpem-me pela confusão. Já acertei tudo e entre mortos e feridos, salvaram-se todos :D

Estou mega ansiosa para as duas edições do 2016 LITERÁRIO! Quem vai marcar presença por lá? Dia 17/01 (domingo), às 15, na Livraria da Travessa do Barra Shopping (RJ) e dia 23/01 (sábado), às 16h, na Livraria Cultura da Avenida Paulista (SP). Meus dois livros estarão à venda no dia, mas quem quiser garantir o valor promocional do combo deve fazer o seu pedido através do blog e pegar em mãos o/ É só acessar nemteconto.org/thatimachado *------* 

E por hoje é só... Espero que tenham gostado do capítulo. Até quarta que vem.
Câmbio, desligo. 


SINGULAR (degustação)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora