Capítulo 45

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            De volta ao meu apartamento, precisei beber um grande copo de água gelada para acalmar os ânimos. Além do ocorrido minutos antes com a Rafa, ainda havia a expectativa da revelação. Eu tentava me manter positivo, dizendo para mim mesmo que a ruivinha da porta da frente receberia a notícia numa boa e retomaria a situação inacabada do corredor; eu tentava pensar em todas as coisas que me faziam, em tão pouco tempo, admirá-la, na esperança de que ela não me decepcionasse como tantas outras fizeram.

Bastou uma busca breve pelo apartamento para constatar que Nina e Nico ainda não haviam terminado de arrumar suas coisas e que Marcela, para variar, estava desaparecida. Ela deixou um bilhete em cima da sua cama dizendo "não me esperem para o jantar" e apenas isso. Nenhuma explicação ou informação adicional. Estamos falando da Marcela, afinal de contas.

Tomei um banho demorado, apesar de não ser do meu feitio. Eu vivia preocupado com o planeta e uma possível falta d'água, então tentava economizar o máximo possível, mas daquela vez não pude evitar. A água gelada refrescava o meu corpo e o acolhia de maneira relaxante, como se estivesse me prometendo que tudo ficaria bem. Eu não tinha outra opção a não ser torcer para que ela estivesse certa.

Coloquei uma bermuda e uma camiseta... O calor era intenso, ficar dentro do apartamento sem ligar o ar condicionado era impossível. Joguei-me na cama de casal e liguei para a minha mãe, que pedia notícias com assustadora frequência. Dona Elena, é claro, quis saber se eu estava me alimentando bem, se estava evitando álcool e gordura, se continuava me exercitando, enfim, ela fez pelo menos vinte perguntas para garantir que seu adorado filho mais novo estava como devia estar. Ela havia visto algumas fotos e queria saber quem era "a linda garota ruiva" (palavras dela), mas não foquei muito no assunto. Eu poderia dizer que estava encantado por ela, mas e se ela reagisse mal à minha revelação? Precisaria explicar a situação para a minha mãe, que ficaria ainda mais magoada que eu. Poupá-la parecia a melhor decisão.

Assim que finalizei a chamada com a minha mãe, resolvi tirar um cochilo, mas deixei o celular bem perto, para o caso da Rafa ligar. Peguei no sono e fui invadido pelos bons momentos vividos naquele breve, mas já inesquecível, carnaval. Minha ruivinha dominava as boas lembranças e a sensação de paz que a acompanhava me permitiu um descanso leve e revigorante.

****

Meu corpo, ainda nada desperto, foi tomado por uma estranha corrente elétrica que costumava ser de responsabilidade de uma única pessoa. Abri os olhos, duvidoso sobre o que podia me despertar daquela forma inusitada e fui surpreendido pelo par de olhos castanhos mais lindos que já conheci em toda minha vida. Pisquei, aturdido, achando que se tratava de uma miragem ou brincadeira sem graça. Meus olhos baixaram um pouco e aquele sorriso inconfundível também estava ali, me saudando em toda sua beleza. Esfreguei os olhos e me sentei na cama o mais rápido que pude... Senti meu mundo girar e precisei fechar os olhos novamente.

− Vai com calma – sussurrou, tocando meu rosto e me fazendo esquecer de respirar. – Seu irmão e sua cunhada estavam de saída e me deixaram entrar... Não queria acordá-lo, porque você estava realmente lindo, mas não consegui controlar a ansiedade. Você me desculpa?

Se eu a desculpava? Que tipo de piada era aquela? Eu estava louco por aquele momento e ficava feliz por ele não ter demorado tanto. Agora que o momento havia chegado, no entanto, senti meu estômago embrulhar instantaneamente.

Sinceridade... Eu precisava e queria ser sincero com ela. Respirei fundo, baguncei (ainda mais) o cabelo e tentei encontrar a melhor forma de começar.

SINGULAR (degustação)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora