[NOVA VERSÃO] CAPÍTULO 22

641 69 10
                                    

Para quebrar o clima meio tenso que ficou entre a gente, Rafa sugeriu um passeio de pedalinho e eu aceitei, sem saber no que exatamente estava me metendo. Escolhemos um que imitava um cisne branco e precisamos de muita força nas pernas para chegar a uma área mais isolada. Tentei pedalar mais rápido e mais forte, para que a Rafa não precisasse se esforçar muito. Quando ficamos afastados dos demais, finalmente relaxamos. O sol começava a se despedir de nós e o céu parecia em dúvida sobre os tons de laranja e rosa que se mesclavam com perfeição.

Respirei fundo.

Eu precisava contar. Precisava contar de uma vez. O momento nem havia chegado e eu já estava sofrendo por antecipação. Não era justo nos envolvermos sem que ela soubesse tudo sobre mim. Rafa precisava saber onde estava se metendo. E se ela reagisse mal, então eu precisaria ser forte para entender que havia me encantado pela pessoa que imaginei que era, e não pela real. Na teoria? Moleza. Na prática? Não tenho certeza.

Eu sou transexual, Rafa... Sou um homem que nasceu no corpo de uma menina – despejando aquela confissão ali, no meio da Lagoa, ela não teria para onde fugir. Seria obrigada a conversar comigo, pelo menos. O problema é que eu não queria ter que obrigá-la a nada. Como eu saberia qual é o momento certo? E como começaria a contar?

− Está tudo bem? – questionou-me, com um sorriso terno e os olhos preocupados. Era óbvio que havia muita coisa passando pela minha cabeça naquele momento.

− Acho que preciso de um pouco de privacidade com você essa noite – sussurrei e ela instantaneamente corou. Ah Rafa! Ficar a sós com ela também me despertava aquele efeito, mas antes eu precisava lhe contar toda a verdade. E o que aconteceria a partir dali, não dependeria de mim. – Você pode me encontrar no meu apartamento? Tomamos um banho, descansamos um pouco e depois nos vemos... Que tal?

− Seus amigos não estarão lá? – quis saber.

− Estarão, provavelmente. Mas podemos trancar a porta do quarto e não seremos incomodados – ela pretendia responder, mas sua frase morreu antes mesmo de ganhar vida. Ela pareceu apreensiva de repente. – Ei, não estou tendo pensamentos impróprios... – tentei acalmá-la. Ela ergueu a sobrancelha na minha direção e um sorriso desafiador tomou a sua face. – Ok, talvez um pouco... – me rendi e acabei ganhando um leve tapa em resposta. E o sorriso mais bonito que eu já havia visto em toda a minha vida. Aquele que me tirava o ar.

− Noah? – chamou, me arrancando do meu estado abobalhado, que era de total e absoluta responsabilidade dela.

− Sim?

− Essa é a hora que você me beija... E me deixa sem fôlego até a próxima geração – ela sussurrou bem baixinho, ainda que não houvesse ninguém por perto para nos ouvir. Aquilo era tão sexy, será que ela fazia ideia?

Ignorei todo e qualquer pensamento para me concentrar naquela magnífica tarefa. Cada beijo com ela era inédito... Eu sentia que nunca me acostumaria, que nunca perderia a graça e que eu nunca ficaria satisfeito.

****

− Meia hora é suficiente? – perguntei, já em frente aos nossos apartamentos. Segurava Rafaella pela cintura, incapaz de largá-la.

− Para tomar banho, comer e relaxar? – ela riu, como se eu tivesse acabado de contar uma piada, mas eu estava falando sério.

− Vou sentir saudades... – confessei embora soubesse muito bem o quão meloso e irritante devia estar sendo. Bem, que se dane! Rafaella parece gostar e é só o que importa.

SINGULAR (degustação)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora