Capítulo XXXI

409 53 5
                                    


Os dias de Elizabeth foram mergulhados em som e silêncio. O som era fornecido pelas crianças, as suas e as de George, que apresentavam constantes melhoras e se agitavam querendo sair para brincar. O silêncio descia a noite quando ela contemplava o quarto vazio. O seu racional e seu bom senso lhe dizia para recusar George pelos filhos, mas o corpo, marcado pelo toque do duque, e o coração doiam e latejavam a cada pensamento de recusa e a cada rascunho de carta colocando um fim no que mal havia começado. Naqueles dias, lady Graham não apareceu em bailes e saraus tão pouco cuidou dos negócios. Pela primeira vez em anos, ela não tinha espírito para se focar em nada além daquela proposta e nas crianças.

"Lizzie, minha criança!", exclamou uma voz ansiosa com sotaque. A baronesa estava sentada no escritório, rascunhando mais uma carta de recusa quando ouviu sua tia, lady Dungavan, num entrar no recinto num estado agitado. "Minha querida, mal sabe o que acabo de ver!", a velha exclamou esbaforida sentando-se em uma poltrona. "Oh, céus, bem que toda cidade estava falando!".

"Tia Dungavan, acalme-se ou a senhora vai ter um infarto", interrompeu por enfim Elizabeth tornando a atenção para a dama. "O que a senhora acabou de ver que a deixou tão agitada?", inquiriu a baronesa sem emoção.

"Oh, querida criança! Acabo de ver nosso lord Milford descer da carruagem com uma mulher belíssima", contou a viscondessa quase não cabendo em si de euforia, não era uma mulher dada a fofocas, mas quando o fazia ficava num estado agitado de nervoso.

"Oh, sim?", foi tudo o que lady Graham conseguiu dizer com indiferença. A verdade é que uma pequena chama de ciúmes foi acessa diante disso, mas ficou controlada no interior da baronesa.

"Sim. Isso confirma os rumores que andaram por Londres nos últimos dias", prosseguiu lady Dungavan. "Soube por lady Michels que o duque havia ido a Hampshire conhecer a família de uma pretendente ao cargo de lady Milford e me parece que a empreitada deu certo. Os dois pareciam bem íntimos...", comentou com alguma ironia.

A pequena chama que ardia em Elizabeth foi crescendo a medida em que a tia ia falando sobre os rumores e sobre George. Aquele incêndio nervoso era alimentado pelo ciúmes, pela tristeza e por uma raiva. Como George poderia pedí-la em casamento e surgir como uma noiva?, pensava ela controlado todo ímpeto de destilar sua ira na frente da tia. A cabeça girava e o peito ardia ante aquela perspectiva da traição do duque e também de perdê-lo mais uma vez.

"Tia, me perdoe", ela disse transtornada entre a raiva e a tristeza. "Mas eu....lembrei qe eu preciso sair. Preciso resolver uma questão urgente...", enquato falava se movida em direção a porta.

"Pelos Céus, você me parece...transtornada, meu anjo. Quer companhia?", ofereceu a velha observando que o semblante da sobrinha estava carregado.

"Não, não. Eu preciso que a senhora fique de olho as crianças", disse Elizabeth já fora do escritório, andando apressada com lágrimas repressadas nos olhos enquanto caminhava em direção a saída. "Burns! A carruagem!", ela gritou e o esforço fez uma lágrima cair pelo rosto, a qual ela secou com violência. "Às favas!", resmungou impaciente saindo como um raio em direção de Grosvenor Square onde Stanfield Manor ficava.

Caminhava com um vento trazendo no peito e nos lábios impropérios e um tormento violento pronto a ser despejado em George. Respirava com dificuldade quando chegou ao número 25 de Grosvenor Square Garden.

"Lady Graham!", cumprimentou o mordomo dando-lhe passagem para entrar.

"O duque...é urgente", foi tudo o que conseguiu dizer. Com presteza, o mordomo a levou para uma sala privada e a deixou para chamar seu mestre. Não podendo ficar sentada, ela caminhou de um lado a outro do recinto, resmungando baixo. Foi ao se aproximar da janela que dava para o jardim interno de Stanfield que ela viu a tal mulher. "Então é verdade", sussurrou reprimindo as lagrimas de descerem pelo rosto. Sua adversária era alta e esguia, parecia mais nova que Elizabeth e tinha cabelos escuros. Ela lia sentada num dos bancos do jardim parecendo confortável consigo e com o local. "Certamente já está de posse da casa", disse a si mesma.

"Elizabeth!", exclamou a voz potente de George que entrou na sala com pressa. "O que foi? O que aconteceu? Você está bem?", perguntou se aproximando dela.

"Ora, o que aconteceu, homem?", respondeu ela com uma pitada de ironia. "Aconteceu que eu descobri sua farsa, sua duplicidade! Eu, que achei que você era um homem decente, cai no seu engodo. Oh, eu o desprezo! Desde quando você faz juras a mim e está com outra? Aposto que desde que nos conhecemos", ela falava com a voz entrecortada com o sotaque ainda mais carregado.

"Mas do que você está falando, minha querida? O que eu fiz para merecer seu desprezo?", perguntou o duque se sentindo perdido como aquele rompante da baronesa, que parecia atordoada com os olhos vermelhos e a respiração descontrolada.

"Ah, ele ainda finge!", impacientou-se ela. "Que tipo de mulher você acha que eu sou, George? Uma com quem você pode se deitar e fazer promessas e depois trocar por uma mais nova?", Elizabeth gesticulava ameaçadoramente, mas sua voz não se elevava. "Eu sou mais mãe dos seus filhos que qualquer outra mulher nesse mundo. Não se esqueça! Qualquer outra mulher como esta que você arranjou vai tratar os meninos como coisa secundária, mas eu...eles são meus, George!"

"Eu não estou entendendo nada", bufou o duque com um início de mau humor. "De que outra que eu arranjei, pelos Ceus?".

Eles guardaram silêncio e se observaram como se fossem dois estranhos. Ele tentava entender sobre o que ela falava e ela tentava entender porque ele não se defendia. Por fim, Elizabeth tomou uma resolução:

"Livre-se dessa sua noiva e eu aceito me casar com você", ordenou olhando-o nos olhos. "Não que você mereça todo amor que eu guardo por você, mas pelas crianças".

"Elizabeth, que noiva? Você está ficando louca!", balançou a cabeça como se não acreditasse.

"Então quem é essa mulher no jardim, hm?", a baronesa botou a mão na cintura ao inquirir o duque. "Toda a cidade diz que você saiu para tomar uma noiva",

George gargalhou ao ouvir aquele absurdo e se aproximou de Elizabeth, que recuou dois passos. Em silêncio e com firmeza, ele avançou e a dominou pela cintura, trazendo-a junto a si.

"Olhe para mim", ordenou com doçura e ela o encarou contrariada. "A única mulher no mundo que quero desposar e de quem já estou noivo é você, sua tola. Você não deveria nem ao menos duvidar de mim quando digo isso, pois meus sentimentos são constantes por você desde que a vi. Você é minha mulher e vamos apenas oficializar o que está posto", ele fez uma pausa e sorriu para ela. Elizabeth tentou falar, mas ele a calou falando por cima dela. "E a mulher no jardim é minha irmã mais nova, lady Judith Charlston, senhora ciumenta".

Elizabeth sustinha o olhar no de George, buscava algo, uma centelha de mentira revelada pelos olhos azuis dele, mas não havia nada que o denunciasse contra o olhar dele. Será que tinha sido tola a este ponto?, pensou ainda em silêncio.

"Sim, você foi", ele sussurrou com um sorriso.

"Fui o quê?", inquiriu ela arqueando a sobrancelha.

"Tola em pensar que eu a deixaria escapar mais uma vez", respondeu acariciando o rosto dela. "Era isso que você estava pensando"

"Poderia ser outra coisa", retrucou com um meio sorriso.

"Mas não era, Lizzie", respondeu o duque. "Eu a conheço até quando está em aparente silêncio".

"Eu o odeio por isso", ela resmungou torcendo o nariz.

"Mentirosa", ele sussurrou beijando-lhe a ponta do nariz dela.

"George", interpelou com um tom não tão seguro. "Jura que isto não é um sonho e você não está comprometido com ninguém?"

"Só há uma mulher com quem estou comprometido desde sempre", lord Stanfield disse baixo com os olhos fixos na mulher quem sempre amou. "E ela é você, Lizzie".



O azul dos olhos teusWhere stories live. Discover now