Capítulo IV

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Os caminhos de George e Elizabeth começaram a separar com a morte de lord William Stanfield, o irmão mais velho de George e o herdeiro do ducado de Milford. A partida de George lançou Elizabeth num estado silencioso no qual ela se aproveitava para trabalhar redobrado nos afazeres da propriedade, suprimindo assim a dor da situação. James Graham acompanhou de perto aquele processo afinal, como barão Graham de Ayton, propriedade que ficava na Escócia, ele não precisava se deslocar para tão longe quanto o amigo. Portanto, ele permaneceu em Kenbridge por mais um mês, sendo uma companhia constante para o almirante

"Este estado de minha filha me preocupa", confessou o velho Mackenzie numa noite quando ambos tomavam um porto após o jantar. Elizabeth já havia se recolhido. "Realmente gostaria de saber o que aconteceu".

"Tenho a sensação de que se trata apenas de enfado", mentiu o capitão Graham que sabia exatamente o que havia se passado. "Numa hora, está rodeada de oficiais e risos e agora só tem este que vos fala. E eu posso ser bem cansativo", e um sorriso franco surgiu nos lábios do jovem.

O almirante deu uma sonora risada com o comentário, mas desconfiou de que aquele não fosse o motivo. Elizabeth nunca fora dada a frivolidades como não ter um séquito de homens ao seu redor.

"Talvez, meu jovem. Talvez", suspirou Mackenzie. "Tem notícias do nosso bom Stanfield? O pobre homem sofreu um revés terrível".

"Mandou-me uma carta por esses dias. Vai se casar em um mês com a tal lady Agnes. Ele está desolado com essa peça que o destino lhe pregou.", respondeu James com um ar sério. "Nunca pretendeu ser duque e nem casar com alguém cheio de futilidades e sem um pingo de força moral como parece ser o caso. Mas ele é homem grandioso colocando o dever acima das próprias vontades"

"Do mar para as burocracias aristocráticas, um revés odioso de fato", assentiu. "Por sorte, o amigo consegue conciliar as duas coisas".

"De fato. Meu bom primo Adam cuida de Ayton enquanto posso servir nossa Marinha. Não pretendo deixar esta vida tão cedo, mas depois desses embates, preciso de uns meses de descanso".

"Precisa se assentar na vida, rapaz. Uma mulher para quem voltar é um verdadeiro bálsamo para a alma de um guerreiro", disse o mais velho enquanto observava o aspecto encorpado do líquido em sua taça.

"Incita-me ao casamento, meu senhor?", James deu um riso divertido ao ouvir aquilo. "Sempre achei uma temeridade impor a uma dama a ausência da qual nós, homens do mar, temos durante nossa carreira."

"Minha Octavia, que Deus a tenha, nunca reclamou de ausência. Tínhamos saudades um do outro, mas gozamos de liberdade. Brigamos pouco e muitos nos amamos", o almirante Mackenzie pareceu nostálgico ao falar da falecida esposa. Um sorriso aberto e saudoso surgiu no rosto redondo do homem, observou James. "Deve haver uma mulher assim para você", decretou.

"Almirante, vai perdoar minha incisão, mas a única jovem com fibra capaz de suportar algo assim, é a senhorita Mackenzie", comentou James introduzindo o assunto com naturalidade.

Os dois homens se olharam. Havia uma expressão de estranhamento no rosto do almirante, afinal não havia dito aquilo tendo em mente a figura de sua filha. Mas tão logo refletiu um pouco viu que o arranjo não seria mau de todo. Afinal, durante a ausência do marido, sua pequena poderia permanecer um pouco consigo em Kenbridge.

Já James se surpreendeu com o próprio comentário, mas a única jovem que lhe vinha a mente era Elizabeth. Além de ser um exemplo da beleza escocesa, ela não era feita do mesmo material das demais. Era forte, decidida e administrava a casa e a propriedade com habilidade. E, para completar, ela era filha de um almirante e, portanto, conhecia a rotina de um lobo do mar. Uma união assim não era assustador, como sempre julgou. Não a toa George estava tão decidido a tê-la como sua esposa, não tivesse ocorrido a drástica mudança.

"Elizabeth seria uma boa escolha para qualquer homem do mar", comentou o pai quebrando o silêncio.

"Ela é uma ótima escolha para qualquer homem de juízo. E ela não passou despercebida por mim, devo dizer", confessou aquela pequena mentira. Tinha sim lançando olhares para ela, mas tão logo viu o interesse do amigo, retirou suas atenções. O almirante não precisava ter ciência disso para que seus ânimos não se indispusessem com George e muito menos com ele.

"Ora, meu amigo...", remexeu-se Mackenzie, "É uma boa coisa de se ouvir. Mas nada poderia dizer sobre esse assunto sem saber a opinião de Elizabeth", um sorriso cúmplice surgiu nos lábios do pai.

"Pouco conheço sua filha, meu senhor, mas não seria nem ao menos louco de prosseguir isso sem a conivência da senhorita Mackenzie", James retribuiu o sorriso e aquele pequeno plano ficou acertado entre os dois homens.    

O azul dos olhos teusWhere stories live. Discover now