Capítulo XVII

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Os dias iam passando lentos e preguiçosos em Kenbridge que, de residência silenciosa, passou a um lugar barulhento, cheio de risos e gritos infantis que faziam transbordar uma alegria pouco comum a uma casa enlutada. A baronesa Graham conduzia as crianças Stanfield e seu pai num mundo novo e numa relação mais profunda do que apenas a de transmitir conhecimento. Ao fazer o duque participar de atividades como cavalgar, nadar no lago, passear pela criação de ovelhas e tantas outras junto às crianças, ela forçou uma convivência mais próxima demonstrando dia a dia que os pequenos só precisavam ter um tempo com o pai.

Outra mudança percebida era a aparência dos Stanfield, sobretudo da pequena Elizabeth, que para não ser confundida com sua madrinha ganhara o apelido de Ella. Antes pálido e sem vida, o rosto da pequena adquirira cores saudáveis e uma robustez que indicava que ela vinha sendo bem alimentada. Além disso, George observou que ela estava consideravelmente mais pesada de se carregar. A menina se enchera de vida e passara do constante mau humor para um riso fácil e musical de se ouvir.

Aquele estado de ânimo de todas as coisas que o rodeavam era tudo o que George precisava. Tudo aquilo vinha de apenas uma fonte: Elizabeth. Era ela que, mesmo enlutada e tendo que lidar com suas próprias dores, abrira a casa e a vida para ele e seus filhos, tratando de auxiliar que os Stanfield lidassem não com o luto, mas com o novo arranjo das coisas.

Numa tarde, um mês depois da chegada a Kenbridge, o duque saia da biblioteca da residência, bem guarnecida de livros sobre o mar e caminhava pelo corredor que guiava ao berçario. As crianças estavam colhendo morangos no parque na companhia do senhor Burns e do senhor Smith, o administrador da propriedade. Aquela hora do dia, imaginou que lady Graham e lady Dungarvan descansavam e, portanto, os bebês estaria livres para sua companhia. Desde que se hospedou ali, costumava a visitar as meninas mais novas para mimá-las como Deus manda.

Findada a caminhada pelo corredor, parou em frente a porta de algo que parecia uma saleta privada. Ao entrar, viu que ali estavam três mulheres juntas num ato puro. As pequenas Elizabeth Stanfield e Audrey Graham estava languidamente deitadas, cada uma em um almofadão confortável com a cabeça posicionada estrategicamente abaixo dos seios desnudos de lady Graham, que segurava as meninas para que não caíssem de onde estavam.

Era uma cena íntima, mas revelava um lado sereno de Elizabeth, que parecia matronal alimentando as crianças daquela forma. A presença de George, de início não foi percebida, pois os olhos de lady Graham estavam fechados como que descansando enquanto que as meninas se esmeravam em mamar gulosamente. O duque deixou-se distrair, talvez pela necessidade masculina ou pelo desejo reprimido por aquela mulher, e desceu o olhar até o busto de sua anfitriã.

Dar leite era sempre algo muito cansativo, ainda mais quando eram duas bocas a serem alimentadas, por isso tão logo Audrey se juntou a pequena Stanfield, Elizabeth sentiu um topor tomando conta de seu corpo, sendo esta sensação intensificada pelo calor e pelas roupas escuras que vestia. Por sorte, tinha o busto descoberto podendo dar algum alívio aquela onda de calor.

Os olhos da baronesa passavam cinco minutos abertos e cinco fechados, talvez mais fechados do que abertos. Num abrir de olhos em certo momento, viu uma figura desfocada a fitá-la da porta. O sono pesava-lhe os olhos de tal forma que ela demorou a reagir quando percebeu que George observava fixamente não as meninas, mas seus seios.

"George!", ela exclamou com a voz mole quando a parte decorosa do cérebro deu o alerta de que aquilo, aquele olhar era indecente. Mas havia uma outra parte, não tão moralmente regrada, que fez o corpo sentir-se em brasas com aquele olhar.

"Me...me..me perdoe...é que...eu", tentou se explicar o duque desviando o olhar daquela parte tão chamativa do corpo de Elizabeth. Ele pigarreou e tossiu, ficou de lado apenas para desviar o olhar para os seios dela. "Pensei que uma criada estava com as meninas", mentiu para tentar remediar a situação.

"Audrey estava reclamando e vim dar leite para elas", lady Graham respondeu mantendo o olhar na menina que estava entregue a um pré sono de quem não dormia há dias. Aproveitando o desvio de olhar dele, ela se recompos abotoando a parte da frente do vestido. "Já estou...composta", disse timidamente enquanto sentia o rosto arder pela vergonha e pelo desejo.

"Não sabia que era você quem as alimentava", comentou ao voltar o olhar para lady Graham que tinha um ar cansado.

"Não delego essas coisas aos criados", disse com firmeza. Ela não olhava para ele, mas podia sentir o olhar de lord Milford dirigido a ela. Portanto, detinha toda sua atenção às meninas que, depois do leite, ficavam menos agitadas.

"Você precisa descansar...", a voz dele veio de mais perto, ela percebeu. "Deixe-as comigo e vá se deitar um pouco, Elizabeth", havia um pouco de autoridade naquela voz grave, mas não havia imposição, apenas a natural propensão ao cuidado.

Por fim ela o fitou e viu que havia todos aqueles sentimentos que sabia que estariam ali no olhar dele. Somado a isso, o duque sorria para ela. Era um sorriso discreto e que transmitia segurança. O duque se aproximou mais e ajoelhou-se diante de Elizabeth, e ali, tocou a cabeça das meninas, depositando um beijo na testa de cada uma.

"As meninas logo vão pegar no sono, não é?", ele tinha um tom mais baixo todo especial que comoveu Elizabeth.

"Chame as criadas se precisar", disse se erguendo não sem antes se dirigir as meninas com afeto estremado e se afastou.

"Senhoritas, agora quem assume é o comandante Stanfield", ela ouviu o lord Milford dizer enquanto assumia o posto. Depois que ela saiu, George completou baixinho. "A mamãe foi descansar..."

O azul dos olhos teusOnde histórias criam vida. Descubra agora