Capítulo VII

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Passava das oito da manhã quando o duque de Milford e seu filho mais velho foram conduzidos a elegante sala âmbar de Ayton pelo mordomo. Pai e filho trajavam vestes luto fechado e carregavam expressões graves, mas o pequeno William deixava trair alguma curiosidade no semblante. Seu pai, pelo contrário, tinha a mesma carranca séria e cumpridora dos deveres, o que, ao menos para o garoto, não era de causar espanto. Era uma aventura para o menino estar apenas ele e o pai tão longe de casa e tudo para se despedir do tio James e conhecer a misteriosa tia Elizabeth. Os irmãos mais novos, sobretudo Alexandra, o invejaram por poder embarcar a sós com o pai, figura que lhe inspirava medo e admiração, o que era suficiente para causar algum contentamento no menino.

Lord Milford sobretudo observava. Os olhos azuis límpidos varreram a sala a procura de algo que nem mesmo sabia o que era. Talvez coragem de enfrentar a situação e o desconforto inerente a ela. Como seria ver Elizabeth de novo? Como ela estaria? Como confortá-la tendo ainda no fundo do peito, escondida a sete chaves, sufocada a duras penas, aquela ligação com ela? Tudo isso passou pela sua cabeça enquanto observava a disposição dos móveis, a decoração do ambiente e sua iluminação.

Tão logo ouviu a maçaneta da porta girar ele se virou e viu a entrada de uma mulher vestida de negro. Os inconfundíveis cabelos castanhos avermelhados logo indicaram de quem se tratava. A figura da menina a dançar reels dera lugar a uma mulher que trazia os olhos cansados, mas uma expressão de acolhimento, acima de qualquer tristeza. A aura de Elizabeth era toda maternal mesmo que ainda conservasse a elegância e a graça dos dias de solteira. Estava rechonchuda por conta da quinta criança Graham que carregava, pensou enquanto caminhava até ela.

Num silêncio quase eterno, ela o avaliou. Ele mantivera a barba que ainda lhe conferia um aspecto de um ligeiramente de bárbaro invasor, o qual era reforçado pela altura e robustez de seu corpo, que conservara o mesmo tônus muscular. Os cabelos mantinham ainda o mesmo tom escuro, mas raros e precoces fios prateados nas têmporas conferiam o ar de maturidade ao duque. Já quanto aos olhos, estavam tão imutáveis e mesmo a capacidade natural de Elizabeth de ler as emoções por eles gritadas, não havia se alterado.

"Milady é a tia Elizabeth?", perguntou um menino com ares de importância do alto dos seus sete anos. Os olhos logo denunciaram a paternidade da criança, mas os cabelos mais claros e o tom vermelho de suas faces revelavam os traços certamente maternos.

"Sim, senhor, milord. Sou a tia Elizabeth. Devo estar diante do bravo William de que tanto ouvi falar", ela abriu um sorriso gentil e estendeu a mão cumprimentando assim aquele infante. George percebeu que a disposição sapeca e sedutora do sorriso dela havia ficado nos dias do passado dando lugar a doçura do sorriso materno, igualmente bonito e atrativo. Tanto o duque quando sua anfitriã viram divertidos a pomposa reverência que William fez a baronesa após beijar sua mão como tinha visto o pai fazer com damas em várias ocasiões.

"Se a ocasião não fosse tão triste e grave, faria uma ou duas observações divertidas sobre a situação", George deixou escapar enquanto olhava para o filho com um orgulho travesso.

"Não tenho a menor dúvida, milord", assentiu lady Graham um tanto nervosa estendendo a mão para cumprimentar lord Milford. Ele hesitou e eles se olharam. Ela parecia nervosa perante ele, desviava o olhar e mordia os lábios como sempre fazia quando estava desconfortável. Ele ainda estava ansioso. As poucas palavras que ela havia dito não indicava se estava indisposta ou não com ele. Só indicavam que permanecia o mesmo ser adorável de anos antes. Mas por fim, tocaram-se licitamente e o cumprimento foi realizado com rapidez ímpar.

"Sinto que voltemos a nos encontrar nessa situação", uma nota de tristeza e de real pesar foram identificadas no olhar do duque. James lhe era próximo mais próximo do que o irmão jamais fora. Mesmo que houvesse casado com a mulher que George desejava para si, James sempre esteve nas boas graças do amigo e eles sempre se viam quando o barão Graham ia a Londres.

"Também sinto, milord", ela indicou um sofá para que as visitas sentassem e fez o mesmo por conta do peso de sua barriga. Percebendo que o assunto iria morrer se ela não continuasse a falar, a baronesa prosseguiu. "O barão iria adorar tê-lo em Ayton. Reclamava do quão pouco tinha o prazer em receber o senhor a Escócia"

"Se ainda estivesse em meu poder me esforçaria mais para estar aqui com meu bom amigo", confessou o duque ainda de pé. Ele se calou e observou ela desviar o olhar de si e fitar o pequeno William. "Me parece cansada. É um fardo muito grande para levar sozinha".

"Se fossem em outros tempos discordaria do senhor, mas, dadas as circunstâncias, tudo fica um pouco mais cansativo", ao dizer isso pousou a mão no ventre dilatado de oito meses e o acariciou. "O que mais me pesa é o fato de que a esta criança, James não vai conhecer".

Uma nota indistinta de emoção foi ouvida na voz, até então, firme da baronesa. Percebendo aquilo, ela parou e piscou os olhos muitas vezes para evitar que as emoções a traíssem. Não seria um choro apenas pelo marido. James morrera como sempre quisera, junto aos seus homens num navio. Seria um choro porque a vida privava os filhos de terem um grande pai. O momento emotivo foi quebrado por um som de pés correndo e se aproximando. Não demorou nada para que quatro meninos invadissem a sala com um estrondo.

"Fui o primeiro", decretou Patrick, o mais velho, que, carregava o mesmo vermelho nos cabelos que sua mãe.

"Não vale, Pat. Você saiu correndo na frente e depois desafiou.", protestou Colin, o mais magro dos gêmeos Graham, ambos com quatro anos e a mesma cor de cabelo do pai.

"Meninos", chamou a mãe com voz suave. Quatro cabecinhas se viraram para a baronesa e deram sorrisos de desculpa para a mesma. "Acredito não ser muito educado discutir os negócios de vocês diante de nossos visitantes. Não acham?"

"Sim, mamãe", um coro uníssono respondeu a lady Graham como um jogral ensaiado.

"Muito bem. Meninos, este é o melhor amigo do papai, o duque de Milford, e seu filho, lord William", ela apresentou os pequenos aos visitantes e os quatro se viraram ao mesmo tempo na direção onde os dois outros estavam.

"Pat, ele é mesmo gigante", exclamou Ian, o gêmeo rechonchudo de bochechas robustas e coradas.

"Maior do que o papai", Gregory, o sério segundo Graham cochichou com os irmãos.

"Mas acho que o papai o venceria num duelo", avaliou Patrick com um tom impertinente. Logo, o menino sorriu travesso para George e fez uma educada reverência sendo seguido e fielmente imitado pelos outros.

A mãe parecia perto de cair numa gargalhada ante aquele atrevimento dos meninos, o que era surpresa para o duque cuja esposa não tinha a menor paciência para aqueles modos de crianças.

"Não sei se o seu pai venceria, lord Patrick. Mas seria uma briga interessante de se ver", comentou o duque e deu uma piscadela a garoto, não sem antes fazer um respeitoso meneio de cabeça ao quarteto Graham.

"Acho que venceria sim, papai", opinou William sem se intimidar com a presença de garotos diferentes.

"Meninos, todos vocês", a voz da baronesa chamou a atenção e lançou um olhar geral que incluiu duque, que encolheu o ombro levemente como um menino faria ante a uma bronca. "Não preciso dizer da inconveniência desse assunto num momento assim, não é?"

O efeito daquela bronca doce foi um imediato baixar de cabeça dos meninos incluindo o recém chegado Stanfield e um pequeno o meneio da parte do duque, que se impressionava com a maneira firme e amorosa de lady Graham. E novamente, para infelicidade de George, seu cérebro voltou a comparar aquela atitude a histeria da duquesa diante da travessura dos filhos.

"As carruagens estão prontas, milady", informou o mordomo que adentrara na sala durante o silêncio instalado ali.

"Obrigada, Burns", agradeceu enquanto se colocava de pé. "Pois bem. Antes de irmos, não preciso dizer, meninos, que quero um comportamento mais do que exemplar. Lembrem-se que qualquer comportamento inadequado seria reprovado pelo papai, o capitão, pelo vovô, o almirante e por mim, comandante interina desta embarcação. Me fiz clara, senhores?", inquiriu a mãe com autoridade cálida. Os quatro meninos assentiram e mesmo William fez o mesmo.

Tão logo tudo foi organizado, os Graham, os dois Stanfield e os criados de Ayton seguiram em cortejo de carruagens até a igreja de St. Thomas.


O azul dos olhos teusNơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ