O azul dos olhos teus

Capítulo XXIV

O cheiro de chá e gengibre invadiu uma elegante sala de paredes de um verde pálido tão logo o mordomo serviu os presentes. O chá e seus acompanhamentos pareciam feitos com ainda mais gosto pela cozinheira que, ao saber da presença do duque, acrescentou ao cardápio um ou dois quitutes preferidos de lord Milford. Tudo estava disposto numa mesinha de marchetaria numa elegante prataria e na melhor porcelana chinesa da casa.

O conde de Alton ainda estava presente e tinha nos lábios um sorriso presunçoso além de ares sedutores que a baronesa Graham pouco gostava. Seriam aqueles olhos famintos ou era sua impressão?, perguntava-se enquanto servia os presentes. Apesar deste julgamento, ela se divertia incentivando os flertes para ver até onde ele chegaria antes da queda. Lord Alton, por sua vez, falava alegremente com poesias e metáforas usando um tom macio e charmoso para a baronesa, sendo sempre solícito e elogioso causando risos em lady Graham. Não eram os risos tímidos de quem estava lisonjeada, mas risos de quem parecia debochar da situação, mas esta diferença sutil não fora percebida por nenhum dos cavalheiros. O pretensioso conde ficou animado e se esmerou em seguir por aquela vereda enquanto um leve tom vermelho subia pela face do duque que permanecia quieto, apenas respondendo aquilo que Elizabeth o demandava. Tudo o que George mais desejava era acabar com aquela ceninha tola e descarregar sua impaciência em algo ou alguém.

"Tinha a esperança de falar a sós com a senhora", ele disse quando já havia terminado o chá e o assunto pareceu morrer. "Mas temo que o conde monopolizou todo o tempo livre de que dispõe", ficou claro a Elizabeth a indisposição de lord Milford para com o outro. Apesar de não ser uma pessoa conhecida por ser rude, era assim que ele pareceu a ela.

"Se o senhor deseja, pode ficar mais um pouco e todo meu tempo será seu", respondeu a mulher assumindo um ar grave, sem denunciar o quão intrigada estava com o assunto que deixava George tão nervoso.

Lord Alton não se fez de surdo a este claro convite para se retirar. Despediu-se prontamente, não sem declarar num dramático que as horas e os dias de sua vida vagariam a passar sem a presença da baronesa. Beijou as mãos da dama por mais tempo que era devido, o duque observou, e se retirou enfim.

Um silêncio se instalou entre Elizabeth e George e, por longos minutos, tudo o que se ouviu foi o tilintar de uma xícara contra o pires de quando em quando. Ele a observou com certa rigidez e fazendo isto fazia lembrar um pouco o capitão da marinha que fora na década passada. Por sua vez, ela seguia com o ritual do chá mesmo que já houvesse satisfeito sua vontade pela bebida.

"Não gosto do Alton", declarou o duque enfim tratando de conter vários impropérios para qualificar a figura do conde.

"Um tanto incisivo, mas não é um homem mau", a baronesa disse levantando o olhar. Ao fazer isto, encontrou uma ferocidade numa antes vista nos olhos do duque.

"É um homem ao qual uma dama não deveria se associar", discursou sem piedade. "É um libertino!".

Elizabeth encarou o duque em silêncio com os lábios levemente comprimidos num claro sinal de desaprovação daquele discurso. Se havia algo que ela não gostava era que a tratassem como a uma débil cuja a capacidade de enxergar as situações fosse questionável. A baronesa ergueu um pouco a cabeça ajeitando a postura e logo o duque tinha diante de si uma figura altiva, decidida e de pouco humor. Aquela era a mulher que geria propriedades e uma fortuna; a cabeça de uma casa, a senhora de suas terras e a mãe de seus filhos, mais independente que qualquer outra mulher jamais seria. Essa era a figura que Elizabeth mostrava ao encarar George ereta e com um olhar seguro.

"Conheço bem o tipo, milord", disse num tom que misturava o aço cortante da sua segurança com o doce de sua personalidade. "Deve se lembrar que não existem homens mais libertinos e sedutores que os meus irmãos escoceses. Sou uma conhecedora profícua das artimanhas das quais os homens se valem para seduzir".