Capítulo Quatro

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Os minutos seguintes formaram grandes abismos no quarto, e eu estava posicionado na beira de um. Já o meu ego, logo atrás, pronto pra dá o pontapé e me jogar na fraqueza. Mas toda aquela situação... Era algo injusto.

Já faz quatro anos que vim para a capital com a esperança de mudar a situação de minha vida. Precisava ativar o botão UP. Precisava mostrar pra os meus pais, que não sou a pessoa que eles tanto pensam. Precisava viver. Mas eu tenho a leve impressão de que apertei o botão errado. Será que todo esse azar que estou tendo, é porque eu não repassava aquelas correntes no Orkut?

Para tentar esquecer toda situação, pego meu celular que estava bem ao lado. Precisava ligar pra Cacau. Ela sim é a única que me entenderia.

Está desligado. Provavelmente para não me incomodar. Fico agradecido, já bastava aquele barulho irritante do monitor cardíaco. Aperto o botão Power para ativa-lo e espero alguns segundos para ele carregar suas configurações. E depois de alguns segundos, já era de esperar. Sessenta ligações perdidas. Todas da Cacau.

Clico em seu nome para retornar, e adivinhem? Créditos insuficientes. Aderir o 9090. Não demora muito para ela retornar, mas preciso afastar o celular um pouco do ouvido. São muito úteis para mim, mas eles não vão durar se ela continuar gritando tão alto.

_Onde é que você está? São dez horas da noite!

_No hospital. – Falo com toda a calma do mundo.

_Como assim Nicholas? E você passou o dia todo sem entrar em contato comigo?

_Uma longa história. Só queria você aqui.

Apesar de estarmos em uma ligação, consigo enxergar seus olhos de compaixão.

­_É só me repassar o endereço que chego já guri.

***

Minutos depois da ligação da Cacau, alguém abre de supetão a porta do meu quarto. Inicialmente levo um susto, mas fico tranquilo quando vejo aquela pele morena e aqueles cabelos castanhos encaracolados, que conheço muito bem. Era a própria Cacau, e pela sua respiração ofegante, percebo que ela veio o mais rápido que pôde.

_Seu Moleque! – E então ela corre para os meus braços.

Queria permanecer ali pra sempre. O calor do seu corpo me confortava e faziam meus pensamentos se encaixarem em suas devidas posições. O cheiro doce de sua pela invadiu minhas narinas e me fez relembrar momentos de nossa infância juntos. Nossos sonhos, nossas brincadeiras, nossos sorrisos e abraços.

Estávamos no alto da colina da fazenda de seu pai, debaixo de um grande ipê amarelo, tomando todo o fôlego possível depois daquela subida íngreme. O céu estava num azul entorpecedor, e as nuvens pareciam estar bem próximas de nós. Pareciam a lã das ovelhas que o meu pai tosava em serviço ao pai da Cacau. Tudo estava lindo e perfeito para contar a ela o segredo que eu tanto temia. Foi quando o medo de perde sua amizade voltou à tona, e deixou o cenário escuro.

Desde que minha família foi chamada para morar e trabalhar no rancho do doutor Castanhari, foi plantado em nosso meio, uma semente de amizade que até hoje germina frutos lindos. Não queria que aquela árvore caísse morta no chão. Mas também, ela era A minha amiga. Não queria que ela se sentisse enganada. Sempre joguei a verdade com ela. Foi quando resolvi falar:

_Tenho um segredo pra contar pra você.

_Se for sobre os bolinhos que você sempre come antes do jantar, eu sempre desconfiei.

_Não – soltei uma gargalhada – Não são sobre bolinhos. Seria até mais fácil pra te contar.

_Então me fala logo, e deixa de me matar de curiosidade.

Avenida PaulistaTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang