Capítulo Seis

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Assim que terminamos de devorar toda a lasanha, me ofereço para lavar a louça. Era o mínimo que eu podia fazer em troca daquela lasanha deliciosa que a Cacau fez.

_Você tem que descansar – falo já recolhendo os pratos da mesa –, amanhã você irá ter aula. Creio que seu dia foi bastante cansativo depois da viagem que você fez com sua turma, e sei que tudo piorou, quando fui "inventar" de me meter dentro de um hospital.

_E é justamente por isso que quero lavar a louça – ela implica mais uma vez –, você precisa repousar. Faz poucas horas que você saiu de um hospital. Faz poucas horas que você sofreu um acidente...

Aquelas palavras foram semelhantes a um soco no meu estômago. Apesar de ter sido algo recente, os momentos de descontração que tive com a Cacau alguns minutos atrás naquela mesa, me fizeram esquecer o acidente. Suas palavras de arrependimento vêm logo em seguida.

– Desculpa Nicholas. Não tive essa intenção...

_Tudo bem Cacau. A realidade é uma armadilha que não conseguimos escapar. – Falava enquanto colocava o avental em volta da minha cintura. – Agora, suba pro seu quarto antes que eu me arrependa de ter pedido para lavar a louça. – Olho por cima do meu obro e dou uma piscadela em sua direção.

Então, ela levanta da cadeira, dá a volta na mesa e para bem atrás de mim, e as ações seguintes se resumem a um beijo no cangote, e um abraço bem forte que me faz levantar do chão.

­_Para quem teve um dia cansativo, nada mal com a força. – Digo de forma sarcástica. Ela dá uma risada de leve.

_Te amo seu moleque. Nunca esqueça que sempre estarei aqui, para todo e qualquer apoio.

_Irei precisar de uma boa massagem depois da louça.

_Engraçadinho. – Falava enquanto caminhava em direção do seu quarto. – Excelente noite.

E o barulho da água fluindo da torneira, e de uma buzina que ressoava em minha cabeça, passou a serem minhas companheiras naquela cozinha.

***

Assim que subo para o quarto, pulo na minha cama mesmo sem trocar de roupa. Estava exausto, e os únicos resquícios de energia que fluía de mim foram utilizados para ajustar o despertador para às 07h00 da manhã. Sabia que um emprego não iria cair do céu, então, pensei em aproveitar o dia amanhã para distribuir os currículos que a Cacau fez, no centro da cidade.

Estava em um ponto que aceitaria qualquer tipo de emprego. Primeiro, que eu não aguentava ficar em casa o dia todo sem fazer absolutamente nada. E segundo que, apesar de Cacau não assumir, sabia que as despesas e contas estavam altas. E pra ser sincero, não gostava daquela situação. Pensando seriamente, até passar no McDonald's. Ou seria revendedor da Avon a minha última opção?

Sei que ela não irá gostar da ideia de eu ir ao centro amanhã. Com toda certeza, ela irá reclamar e dizer que "preciso repousar, pois o meu organismo estava se reabilitando do acidente". Mas era preciso. E pensando bem, acho melhor até não contar a ela. Não sei se estou fazendo uma jogada de amigo, mas pelo menos, ela não iria ficar preocupada.

Subitamente, a imagem de Bernardo surge na minha cabeça.

Não sei o que me levou a pensar nele. Talvez minha cabeça esteja processando apenas os fatos daquele dia exaustivo, antes de mudar seus status para "ausente". A única coisa que eu sei, é que os nós dos meus dedos estavam brancos de tanto apertar o travesseiro depois que me lembrei dele.

Sei que foi mais que gentil da parte dele ter me levado para o hospital. Mas já imaginou se tudo tivesse ocorrido tudo perfeitamente bem? Provavelmente não estaria nem em casa. Mas sim, em um bar, tomando todas, para comemorar meu quase novo emprego. Mas não. Aquilo não estava acontecendo! Por causa de quem? Por causa de um idiota que talvez não conheça ainda as leis de trânsito que falam que é proibido dirigir ao falar ao telefone.

Aperto o travesseiro bem forte no meu rosto para tentar esquecer tudo aquilo, e sinto que ele começa a ficar úmido devido minhas lágrimas. Não estava chorando devido aquele babaca ter me atropelado. Mas sim, pensando em como tudo seria diferente, se os meus pais, tivessem me aceitado da forma que sou. Como o apoio deles cairiam bem agora.

Chacoalho a cabeça para tentar esquecer aquilo, e tento elaborar uma rota para o dia seguinte. Sabia que aqueles pensamentos não iriam mudar minha vida. Porém, de uma forma ou de outra, aquelas lágrimas me aliviaram, e por outro lado, me deixaram com mais sono.

Posiciono-me de uma forma melhor sobre a cama, e coloco meu travesseiro bem apoiado sob minha cabeça. Meus olhos pareciam estar cheios de terra, e sabia que a qualquer momento poderia cair no sono. Mas ante disso, me pego sussurrando bem baixinho:

_Obrigado Bernardo.

E pensando em sua barba, gradativamente vou caindo no sono. 

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