Capítulo Nove

157 16 4
                                    

Estava no banheiro quando o meu celular tocou.

_Pode deixar que eu atendo! – Cacau gritou em direção à porta do banheiro.

Apesar do barulho da água do chuveiro, era possível distinguir algumas palavras ditas por Cacau. Metade delas eram alternâncias entre "sim" e "ok", finalizado com um "boa tarde".

O banho estava maravilhoso, porém, a curiosidade me apreçou em desligar o chuveiro para saber quem era que tinha me ligado. Seco o meu corpo o mais rápido possível, e assim que coloco a roupa, mesmo com cabelo bagunçado, abro a porta:

_Parabéns! – sou surpreendido por um abraço de Cacau.

Fico sem entender por alguns segundos. Meu aniversário era daqui a dois meses. Não existiam motivos para tanta comemoração. A não ser que...

_Amanhã, às oito horas, no Prisma Construções. – Cacau falou com euforia.

Só então que minha ficha cai. Eu estava ouvindo bem? Será que eu estava sonhando? Como se estivesse lendo meus pensamentos, Cacau responde em seguida.

_Não. Isso aqui não é um sonho. É mais que realidade. Sabia que uma hora você iria conseguir. – Disse abraçando meu corpo mais uma vez.

Não estava conseguindo distinguir os sentimentos dentro de mim. Era um mix de emoções indescritíveis. Minha vontade era de sair gritando pela rua.

Porém, eu não podia acumular tantas expectativas daquela maneira. Ainda iria passar por um processo de seleção. Era apenas uma entrevista. Poderia sair daquela empresa com um "não". Então, me reposicionei e tento manter a neutralidade. Estava cansado de "quebrar a cara" ao longo dessa vida. E aquilo não seria outra vez.

_Agora é torcer pra receber um sim. – É tudo que falo antes de sair para o meu quarto.

_Você não tá feliz por isso?

_É claro que estou. Mas você esqueceu que ainda vou participar de uma entrevista?

_Não. Mas vamos observar os lados positivos. Você é um menino bonito, inteligente, simpático. Vai tirar isso de letra.

_Meus "concorrentes" também podem ter essas características.

_Aí Nicholas, – falava enquanto revirava seus olhos –, isso não é hora para pessimismo.

_ Não estou sendo pessimista, Cacau. Estou apenas tentando deixar fixo, os meus pés na realidade. Fico feliz por ter chegado até aqui, e principalmente por ver você feliz por isso, mas a caminhada não acabou. Possa ser que a empresa me chame apenas por alguns meses. Possa ser que a empresa me contrate durante anos. Mas também, – falo diminuindo o tom da voz – possa ser que eu nem seja chamado.

Então, Cacau se aproxima de mim, e me abraça pela terceira vez, só naquela noite.

_Sei que você vai conseguir. E se não conseguir, saiba que isso não vai mudar nada em nossa amizade. Agora vai dormir que amanhã você precisa de muita disposição. – Ela falava assanhando meu cabelo.

_Ok. – Dou um sorrisinho falso. – Nada de olheiras amanhã.

_Exato. Ótima noite, meu garotão. – Falava enquanto apagava a luz e fechava a porta do meu quarto.

Dou um salto na cama. Cubro metade do meu corpo com o edredom, e fico olhando o teto num embalo da insônia. São nessas horas que o cérebro fica a mil por horas. Tanta coisa se passa por minha cabeça, que perco até as ordens dos fatos. Mas em meio a tantos pensamentos, um fica bem marcado.

Como tudo seria se eu fosse contratado?

Avenida PaulistaWhere stories live. Discover now