Capítulo Dez

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Pela milionésima vez, Cacau ajeitava minha gravata.

Faltava menos de uma hora para a entrevista quando estávamos de saída. Tinha acordado bem cedo pela manhã para fazer tudo o que tinha planejado. Não queria que nada atrapalhasse aquele tão esperado dia. A primeira coisa que fiz foi colocar duas camisas extras na mochila. Não estava muito a fim de ser sujo por uma poça de lama novamente. E outra, queria mostrar para aquelas recepcionistas que eu tinha classe.

Foi quando Cacau deu partida no fusquinha. Pareceu que eu estava indo para uma guerra naquele momento. Meu corpo estava tenso, e tremia de acordo com o ranger do carro. Então, de maneira compulsiva, comecei a roer minhas unhas. Parecia que minha tensão estava se evaporando por cada pedacinho de unha arrancado. Mas era apenas uma aparência mesmo, pois a cada quilômetro rodado meu coração parecia estar mais perto de saltar da minha boca.

_Daqui a pouco você vai tá arrancando seu braço fora. – Cacau falava enquanto trocava de marcha. – Fique tranquilo, é apenas uma entrevista.

_Uma entrevista que vai definir minha vida. – Rebati de forma irônica.

_Mas você tem que colocar na sua cabeça, que irão existir várias outras oportunidades. Essa pode ser a primeira, mas como também pode ser a sua última vez.

Dou um salto do banco: _Como assim?! Você está predestinando minha morte, sua vaca?!

_Claro que não, seu besta. Você tá tão nervoso que fica pensando essas bobagens. ­– Falava enquanto parava o carro para dar vez aos pedestres. – Quando falei que poderia ser a última vez, eu quis dizer que depois de hoje, possa ser que você não vá mais precisar se preocupar em um outro emprego. Mas também possa ser que dessa vez você não obtenha sucesso. – Ela explicava enquanto arqueava as duas sobrancelhas. – Mas você não deve se frustrar. A coisa mais certa para se fazer, é levar o momento como um aprendizado. Apenas, não se limite.

Aquelas palavras pareciam ter saído de uma bula de calmante, pois sinto que meu coração voltou para sua posição normal. Será que eu poderia levar a Cacau comigo? Pelo menos para me fazer apenas uma companhia. Seria tão mais fácil. Sinto-me tão mais confiante ao lado dela. Mas você tem que amadurecer Nicholas, pensava comigo mesmo.

_Está bem. Não se limitar! – Repeti diversas vezes essa mesma sentença, seguindo de tapinhas no meu rosto.

Mas quando avisto de longe o enorme letreiro da empresa, parece que um redemoinho invade o interior do carro e leva junto com sua ventania, toda minha coragem. No momento parecia que estava com Parkinson, pois minhas mãos não paravam de tremer.

Então, Cacau aproximou o carro da guia da calçada, e foi nesse momento que de fato levei o soco da realidade. Era ali mesmo!

Numa tentativa falha, ela pega minha mão para me acalmar, e pela milionésima vez arruma minha gravata.

_Já sabe, não é?!

_Não se limitar! – Repetimos juntos.

E só depois de um beijo dela em meu rosto, é que tomei a iniciativa de sair do carro. E tremendo começo a caminhar em direção da porta rotatória.

***

Parecia que daquela semana pra cá, nada parecia ter mudado no ambiente do hall principal do Prisma. A mesma tapeçaria, os mesmo quadros, os mesmo aromas, e é claro, as mesmas caras antipáticas das recepcionistas. E sem esquecer, também, do segurança mal humorado.

_Parece que a sorte bateu em sua porta, não foi mesmo senhor Nicholas? – Sou pego de surpresa por uma das recepcionistas. – E pelo visto, não andou rolando em nenhuma poça de lama por aí.

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⏰ Last updated: May 21, 2016 ⏰

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