01. FOGO ENCONTRA GASOLINA

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—Vamos, Campeão—, ele fala. —Precisamos ajudá-las ou receberemos uma bronca. Sabe como a Rosa é.

ALEXANDRA

—Tem certeza de que você vai para essa festa, Alex? —, João Augusto pergunta assim que sentamos na canga roxa de Cher, que foi colocada sobre a areia branquinha da praia. — Não acho que seja uma boa ideia frequentar lugares assim...

Não consigo evitar e reviro os olhos, o que ninguém nota por causa dos meus óculos escuros. Depois, inclino a cabeça para trás, absorvendo a luz solar pela primeira vez em muito tempo, o que chega a fazer minha pele pálida brilhar como se eu fosse alguma integrante perdida do clã Cullen.

—É apenas uma festa, João—, respondo, calmamente. — O que de mais pode acontecer?

—Quando você está no meio, Alex, tudo pode acontecer —, Charlotte diz enquanto prende o seu cabelo com um lenço preto de bolinhas brancas. — Para falar a verdade, você é uma espécie de "imã de desastres", já que parece atrair confusão por onde passa.

Charlotte Carvalho, ou simplesmente Cher, é a minha melhor amiga desde os meus doze anos de idade. Juntas, nós já compartilhamos muita coisa. Cher me conhece melhor do que ninguém e, por isso, dessa vez, tenho que admitir que ela está correta.

—Vocês são dois estraga prazeres—, aponto para os meus amigos de maneira acusatória. — Têm noção do trabalho que tive para arranjar os convites dessa festa do Lucas Roberto?

—Nenhum—, responde João, com um sorriso debochado. —Você é irmã caçula de um dos melhores amigos dele e se conhecem há séculos. Definitivamente, não deve ter tido tanto trabalho assim.

—Se dependesse do Anderson, eu jamais iria para essa festa —, retruco, ainda na defensiva. —Ele me trata como uma criança!

—Talvez porque você aja como uma —, João debocha e eu o fuzilo com o olhar, apesar de ele não perceber por causa dos óculos.

—Se não quiser ir, João Augusto, eu posso ir muito bem desacompanhada—, decido.

—E te deixar sozinha lá? —, o meu amigo parece ter ouvido um tremendo absurdo. — No meio de um bando de adolescentes e irresponsáveis bêbados, possivelmente drogados e tarados...

—Acho que já deu para entender que você vai, João —, Cher o interrompe.

—Mas e você? — Eu me volto para ela, que dá de ombros.

—Vou com vocês, é claro —, Charlotte soa como se fosse óbvio, o que, talvez, realmente seja.

Mas então, ficamos um tempo em silêncio. E tentado aproveitar isso, eu fecho os olhos e escuto o barulho das ondas quebrando ao encontrarem a areia da praia. Algo que me faz sentir, momentaneamente, a sensação do que deve ser paz.

— Dá para acreditar que amanhã nós começamos o último ano do colegial? —, Cher pergunta, fazendo-me abrir os meus olhos para fita-la, sorrindo para mim e João. — Parece que foi ontem que nós nos conhecemos no oitavo ano do ensino fundamental...

—Parece mesmo, mas não foi —, João quebra o clima ao ser óbvio, o que deve ser a sua especialidade. — E logo nós estaremos na faculdade e em seguida vem...

—O resto das nossas vidas—, completo em tom desanimado.

Aparentemente, o próximo passo desse ciclo é a faculdade e essa é uma coisa da qual eu odeio falar, apesar de também saber que é algo inevitável, se quiser ter um futuro perante ao padrão ideal da sociedade. Aparentemente, se você não nasce rico no Brasil, só tem duas alternativas: ou estuda ou encontra algum trabalho na base da cadeia alimentar. É claro que, no meio disso, você sempre pode tentar a sorte com a loteria ou entrar para o crime organizado, mas sou racional e honesta demais para cogitar essas alternativas paralelas.

FOGO ENCONTRA GASOLINA [COMPLETO]Where stories live. Discover now