– Ok. Vocês lembram quando eu disse que minha mãe tinha se inscrito em vários programas de mestrado ao redor do mundo e que nenhum deles era no Brasil? Pois é... Acontece que ela foi aceita em um. No Canadá. Ela deu-me essa notícia hoje de manhã, durante nosso café...
Eu parei um segundo para analisar suas feições. Amanda estava perplexa, paralisada. Ela mal piscava. O Jorge pareceu não acreditar muito no que eu estava dizendo, ele simplesmente olhava-me com uma cara como que esperando que a qualquer minuto eu fosse dizer "era brincadeira, peguei vocês!". Ao olhar para Luísa, meu coração apertou. Ela estava lutando bravamente contra suas lágrimas, tentando as fazer escorrerem o mínimo possível. Eu odiava vê-la chorando. Toda vez que isso acontecia, meu coração apertava e as lágrimas invadiam meus olhos também. A Luísa é minha melhor amiga desde sempre. Nós crescemos juntas, vivemos praticamente todos os nossos melhores momentos juntas. Os pais dela são melhores amigos da minha mãe; e a mãe dela até fez faculdade junto com meu pai! Ia ser muito difícil não a ver mais todos os dias.
Foi então que eu olhei para o Luís. Eu o conheci no primeiro dia de aula na minha atual escola; e desde então nós nos tornamos muito próximos. Há uns seis meses atrás, ele confessou que gostava de mim e nós nos beijamos... Desde então nós meio que estamos em um relacionamento. Toda a turma sabe e nos apoia. Eu gostava muito de estar com o Luís, muito mesmo. Ele é engraçado, inteligente, romântico... Ia ser muito difícil me despedir dele também.
Ele me olhava fixamente, com os olhos cheios d'água. Para quebrar o clima de choro que estava no ar, eu continuei:
– Então gente, isso é basicamente tudo o que eu sei sobre o assunto até agora. Como eu disse, minha mãe disse-me hoje de manhã. Não sei quando eu vou, por quanto tempo vou ficar...
– Para de falar, Elisa! Eu não consigo mais ouvir uma palavra do que você está dizendo! Dói demais ouvir... — A Luísa me interrompeu, chorando muito.
A Amanda a abraçou, chorando também. Eu não resisti, comecei a chorar e corri para abraçá-las. O Jorge e o Luís não conseguiram nem sair do lugar, eles mal piscavam. Mesmo sufocada no meio das duas, pude ouvir o Jorge cochichando para o Luís:
– E agora, cara? O que você vai fazer em relação aquilo que estávamos conversando ontem?
– Nossa, eu nem sei! Essa notícia me pegou completamente de surpresa... Ainda vou ter que pensar em algo, Jorge. — O Luís respondeu, ainda perplexo.
Eu saí do meio das duas e fui em direção aos meninos. Chegando lá, os puxei para um abraço coletivo. Eles falaram em meu ouvido que aquilo não podia ser verdade e que eles não acreditavam em mim. Por fim, o Luís cochichou que ia sentir muito a minha falta.
Foi o necessário para eu chorar mais, e ele então me encarou, limpou minhas lágrimas e disse baixinho, só para eu escutar:
– Não chora, Eli! Eu não quero que você chore! Quero sempre lembrar da minha Elisa alegre e sorridente... Eu já disse que você tem o sorriso mais lindo do mundo?
Eu comecei a sorrir e a ficar vermelha. O Luís sempre soube como me deixar sem graça e me fazer sorrir. Eu amava isso nele.
– Eu não quero atrapalhar o momento dos pombinhos, mas, eu preciso mesmo abraçar minha melhor amiga e nunca mais soltar! — A Luísa disse, interrompendo a gente.
Ela então puxou-me e deu-me o abraço mais forte do mundo. Foi então que meu celular começou a tocar. Era minha mãe.
– Alô?
– Filha, já saiu da aula? Estou aqui na frente te esperando! Não demora, tem um guarda aqui me vigiando!
– Mas mãe, hoje é sexta, esqueceu? Quem vem me buscar é o papai!
– Eu sei filha, eu sei. Liguei para ele e pedi para que eu fosse te buscar para almoçarmos em um lugar especial, mas que logo depois eu a levaria para casa dele!
– Está bem, mãe. Eu só vou me despedir da turma e já estou aí.
– Não filha, não se despeça! Traga toda a turma, quero falar com todos!
– Ok, mãe. Beijo.
Desliguei o telefone e falei para turma que minha mãe queria vê-los e fomos todos andando em direção ao carro. No meio do caminho, o Luís se aproximou e segurou minha mão e fomos andando o caminho todo de mãos dadas.
Assim que minha mãe nos viu, ela abaixou o vidro do carro e acenou para que nos apressássemos. Chegando mais perto, antes mesmo que qualquer um de nós pudesse dizer algo a ela, ela disse:
– Entrem todos no carro, já!
– Mãe, nós somos seis com você, não dá todo mundo no carro!
– Claro que dá, é só vocês entrarem rápido e sem aquele guarda ali ver! O lugar que quero levar vocês não é longe! Vamos, vamos!
E falando isso, ela destravou as portas e o Jorge entrou na frente, já que era o maior de todos nós. Atrás sentaram os três e eu no colo do Luís.
– Jorge, põe o cinto! Vocês aí atrás também. E filha, quando eu falar "olha o guarda" você nem pensa, só se abaixa!
E dizendo isso, ela arrancou em direção ao tão falado "lugar especial" em que iríamos almoçar. Eu nem fazia ideia de onde era.
Eu tenho uma lista de restaurantes e lugares favoritos na minha cidade. Sou muito apegada a tudo aqui. Desde a minha primeira creche/escola, passando pelo cinema, o parque... Eu simplesmente não queria ter que me despedir de tudo.
Enquanto o carro andava, minha mãe ligou o som e estava tocando meu CD do Ed Sheeran, o Plus. Eu amo demais esse CD. Estava na última faixa, Give Me Love. Luís apertou minha mão e cantou no meu ouvido "Give a little time to me, we'll burn this out, we'll play hide and seek, to turn this around; all I want is the taste that your lips allow. My, my, my, my, oh give me love"*. Eu olhei para ele na mesma hora, sorri e encostei minha testa na dele. Ele sorriu de volta, com aqueles dentes brancos perfeitos, e me abraçou. Eu não queria que aquele momento acabasse nunca.
– Bom, turma, chegamos. — Minha mãe anunciou.
Cai na realidade, levantei minha cabeça do ombro do Luís e olhei para o tão esperado lugar. Eu não podia acreditar no que estava vendo.
* "Me dê um pouco de tempo, vamos queimar tudo isso, vamos brincar de esconde-esconde para mudar isto; tudo que quero é o sabor que seus lábios permitem. Minha, minha, minha, minha, oh, me dê amor"
Nota da autora:
Para você que chegou até aqui, um muito obrigada por acompanhar minha história e por continuar a lê-la! Espero que você esteja gostando. E para aqueles que estão ansiosos para saber o que vai acontecer com a Elisa no Canadá, a história é bem longa... Mas prometo que vale a pena (;
Um beijo e até o próximo capítulo!
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Strings Attached
FanfictionNós nunca sabemos o que vai ser da nossa vida daqui há uma semana, um mês, um ano. Mas todos temos, no mínimo, uma ligeira ideia. Assim pensava Elisa, uma adolescente de 16 anos que achava que já tinha toda sua vida planejada. Assim que se formasse...
02. A despedida
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