02. A despedida

Depuis le début
                                        

– Ok. Vocês lembram quando eu disse que minha mãe tinha se inscrito em vários programas de mestrado ao redor do mundo e que nenhum deles era no Brasil? Pois é... Acontece que ela foi aceita em um. No Canadá. Ela deu-me essa notícia hoje de manhã, durante nosso café...

Eu parei um segundo para analisar suas feições. Amanda estava perplexa, paralisada. Ela mal piscava. O Jorge pareceu não acreditar muito no que eu estava dizendo, ele simplesmente olhava-me com uma cara como que esperando que a qualquer minuto eu fosse dizer "era brincadeira, peguei vocês!". Ao olhar para Luísa, meu coração apertou. Ela estava lutando bravamente contra suas lágrimas, tentando as fazer escorrerem o mínimo possível. Eu odiava vê-la chorando. Toda vez que isso acontecia, meu coração apertava e as lágrimas invadiam meus olhos também. A Luísa é minha melhor amiga desde sempre. Nós crescemos juntas, vivemos praticamente todos os nossos melhores momentos juntas. Os pais dela são melhores amigos da minha mãe; e a mãe dela até fez faculdade junto com meu pai! Ia ser muito difícil não a ver mais todos os dias.

Foi então que eu olhei para o Luís. Eu o conheci no primeiro dia de aula na minha atual escola; e desde então nós nos tornamos muito próximos. Há uns seis meses atrás, ele confessou que gostava de mim e nós nos beijamos... Desde então nós meio que estamos em um relacionamento. Toda a turma sabe e nos apoia. Eu gostava muito de estar com o Luís, muito mesmo. Ele é engraçado, inteligente, romântico... Ia ser muito difícil me despedir dele também.

Ele me olhava fixamente, com os olhos cheios d'água. Para quebrar o clima de choro que estava no ar, eu continuei:

– Então gente, isso é basicamente tudo o que eu sei sobre o assunto até agora. Como eu disse, minha mãe disse-me hoje de manhã. Não sei quando eu vou, por quanto tempo vou ficar...

– Para de falar, Elisa! Eu não consigo mais ouvir uma palavra do que você está dizendo! Dói demais ouvir... — A Luísa me interrompeu, chorando muito.

A Amanda a abraçou, chorando também. Eu não resisti, comecei a chorar e corri para abraçá-las. O Jorge e o Luís não conseguiram nem sair do lugar, eles mal piscavam. Mesmo sufocada no meio das duas, pude ouvir o Jorge cochichando para o Luís:

– E agora, cara? O que você vai fazer em relação aquilo que estávamos conversando ontem?

– Nossa, eu nem sei! Essa notícia me pegou completamente de surpresa... Ainda vou ter que pensar em algo, Jorge. — O Luís respondeu, ainda perplexo.

Eu saí do meio das duas e fui em direção aos meninos. Chegando lá, os puxei para um abraço coletivo. Eles falaram em meu ouvido que aquilo não podia ser verdade e que eles não acreditavam em mim. Por fim, o Luís cochichou que ia sentir muito a minha falta.

Foi o necessário para eu chorar mais, e ele então me encarou, limpou minhas lágrimas e disse baixinho, só para eu escutar:

– Não chora, Eli! Eu não quero que você chore! Quero sempre lembrar da minha Elisa alegre e sorridente... Eu já disse que você tem o sorriso mais lindo do mundo?

Eu comecei a sorrir e a ficar vermelha. O Luís sempre soube como me deixar sem graça e me fazer sorrir. Eu amava isso nele.

– Eu não quero atrapalhar o momento dos pombinhos, mas, eu preciso mesmo abraçar minha melhor amiga e nunca mais soltar! — A Luísa disse, interrompendo a gente.

Ela então puxou-me e deu-me o abraço mais forte do mundo. Foi então que meu celular começou a tocar. Era minha mãe.

– Alô?

Filha, já saiu da aula? Estou aqui na frente te esperando! Não demora, tem um guarda aqui me vigiando!

– Mas mãe, hoje é sexta, esqueceu? Quem vem me buscar é o papai!

Eu sei filha, eu sei. Liguei para ele e pedi para que eu fosse te buscar para almoçarmos em um lugar especial, mas que logo depois eu a levaria para casa dele!

– Está bem, mãe. Eu só vou me despedir da turma e já estou aí.

Não filha, não se despeça! Traga toda a turma, quero falar com todos!

– Ok, mãe. Beijo.

Desliguei o telefone e falei para turma que minha mãe queria vê-los e fomos todos andando em direção ao carro. No meio do caminho, o Luís se aproximou e segurou minha mão e fomos andando o caminho todo de mãos dadas.

Assim que minha mãe nos viu, ela abaixou o vidro do carro e acenou para que nos apressássemos. Chegando mais perto, antes mesmo que qualquer um de nós pudesse dizer algo a ela, ela disse:

– Entrem todos no carro, já!

– Mãe, nós somos seis com você, não dá todo mundo no carro!

– Claro que dá, é só vocês entrarem rápido e sem aquele guarda ali ver! O lugar que quero levar vocês não é longe! Vamos, vamos!

E falando isso, ela destravou as portas e o Jorge entrou na frente, já que era o maior de todos nós. Atrás sentaram os três e eu no colo do Luís.

– Jorge, põe o cinto! Vocês aí atrás também. E filha, quando eu falar "olha o guarda" você nem pensa, só se abaixa!

E dizendo isso, ela arrancou em direção ao tão falado "lugar especial" em que iríamos almoçar. Eu nem fazia ideia de onde era.

Eu tenho uma lista de restaurantes e lugares favoritos na minha cidade. Sou muito apegada a tudo aqui. Desde a minha primeira creche/escola, passando pelo cinema, o parque... Eu simplesmente não queria ter que me despedir de tudo.

Enquanto o carro andava, minha mãe ligou o som e estava tocando meu CD do Ed Sheeran, o Plus. Eu amo demais esse CD. Estava na última faixa, Give Me Love. Luís apertou minha mão e cantou no meu ouvido "Give a little time to me, we'll burn this out, we'll play hide and seek, to turn this around; all I want is the taste that your lips allow. My, my, my, my, oh give me love"*. Eu olhei para ele na mesma hora, sorri e encostei minha testa na dele. Ele sorriu de volta, com aqueles dentes brancos perfeitos, e me abraçou. Eu não queria que aquele momento acabasse nunca.

– Bom, turma, chegamos. — Minha mãe anunciou.

Cai na realidade, levantei minha cabeça do ombro do Luís e olhei para o tão esperado lugar. Eu não podia acreditar no que estava vendo.


* "Me dê um pouco de tempo, vamos queimar tudo isso, vamos brincar de esconde-esconde para mudar isto; tudo que quero é o sabor que seus lábios permitem. Minha, minha, minha, minha, oh, me dê amor"



Nota da autora:

Para você que chegou até aqui, um muito obrigada por acompanhar minha história e por continuar a lê-la! Espero que você esteja gostando. E para aqueles que estão ansiosos para saber o que vai acontecer com a Elisa no Canadá, a história é bem longa... Mas prometo que vale a pena (;

Um beijo e até o próximo capítulo!

Strings Attached Où les histoires vivent. Découvrez maintenant