Strings Attached

02. A despedida

O tempo simplesmente congelou. Cada período de aula durava uma eternidade, mesmo sendo o último dia e não havendo praticamente nada de conteúdo. Eu não conseguia parar de pensar na conversa com minha mãe; eu ficava revivendo toda a conversa do café da manhã na minha cabeça. Todas as palavras, todas as expressões, todos os sentimentos, tudo o que pensei enquanto minha mãe dava a notícia.

A Luísa ficou me encarando o dia todo à espera do que eu tinha para lhe dizer. Toda vez que meus pensamentos eram interrompidos e eu desviava o olhar em sua direção, via os seus olhos fixos em mim, com uma expressão curiosa. Além de reviver toda a cena de manhã, eu também passei boa parte das aulas pensando em como contar à Luísa e ao resto dos meus amigos que eu ia embora.

Eu tinha o mesmo grupo de amigos desde que eu entrei nessa minha escola atual, três meninas — Eu, Luísa e Amanda — e dois meninos — Jorge e Luís. Nós nunca desgrudamos uns dos outros, somos muito próximos e fazemos praticamente tudo juntos. Dizer adeus a todos ia ser muito doloroso...

O sinal da saída tocou. Era a hora de contar aos meus amigos. Eu estava muito nervosa, ansiosa e triste.

– Até que enfim o sinal tocou! Eu passei o dia todo curiosa, Elisa! Você está proibida de fazer isso comigo de novo! — A Luísa disse.

– Desculpa, Lú. É que eu realmente não sei como te dizer isso. É bem delicado e complicado... Melhor acharmos os outros e eu conto a todos de uma vez, assim não preciso ficar repetindo toda a história...

– Ah não, Elisa! Eu passei o dia todo curiosa, eles nem sabem que você tem algo a dizer. Eu mereço, no mínimo, saber se é uma coisa boa ou ruim!

– Depende do ponto de vista — Eu disse, andando em direção ao parque da escola, local onde geralmente todos os alunos se reuniam no final das aulas.

A Luísa foi me seguindo o caminho todo, sua expressão havia mudado de curiosa para preocupada. Ela provavelmente já tinha entendido tudo. Uns cinco meses atrás eu falei para turma toda que minha mãe tinha se inscrito em várias universidades para tentar um mestrado. Disse também que nenhuma delas ficava no Brasil...

– Finalmente! Ali estão eles. — Luísa falou, praticamente correndo em direção à turma.

– Calma aí, Lú! O que foi que aconteceu dessa vez? Qual a última do Bruno? — Disse o Luís, ao vê-la.

– Quem? Ah sim, o Bruno! Eu tinha esquecido dele completamente desde que a senhorita aqui me fez ficar curiosa o dia todinho! — Luísa disse, apontando para mim.

– Ih, aí tem. O que a Elisa aprontou dessa vez? — Disse o Jorge.

– Como assim o que eu aprontei dessa vez? Como se eu fosse a que aprontasse do grupo né, Jorge? — Eu disse, rindo.

O Jorge e os outros riram também, exceto a Luísa. Se eu bem a conheço, ela nem prestou atenção no que estávamos falando, pensando no que poderia ser a notícia que eu tinha para dar.

– Bem, eu preciso contar uma coisa a vocês. Acho que vocês já devem ter percebido isso, não é? Enfim, eu precisava da turma toda unida para eu falar de uma vez, não ter que ficar repetindo a mesma história...

– Fala logo, Elisa!! — Eles praticamente gritaram, em coro.

– Tá' bem, 'tá' bem... É que vocês não sabem o quanto é difícil para eu dizer isso!

Os olhares dos quatro estavam fixos em mim, eles nem piscavam. Seus olhares curiosos me fizeram ficar mais triste em dizer o que tinha para dizer... Eu sabia que toda essa curiosidade viraria tristeza...