Capítulo XIX

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Ashanti respirou três vezes e ao encarar os ansiosos e preocupados olhos, resolveu se abrir, contar tudo, toda a verdade à Conrado, afinal de contas de que valia amores baseados em omissões ou mentiras. Ele precisava saber.

- Tive um desentendimento com a sua secretaria, a Rita - mesmo sem sequer saber o que era, o homem começou a se irritar mas manteve o controle na voz quando questionou:

- Porque? Quanto retornei vocês pareciam bem, ela te fez algo?. - o tom de voz totalmente calmo pausado e controlado assustou Ashanti. Ela o conhecia e sabia que todas essas reações, representavam o contrário.

- Não... - ela começou com cuidado - Sim na verdade fez, -soltou de uma vez - mas eu já a perdoei e quero que você a perdoe tambem? - sem dar margens para o não, ela pediu.

- Tudo bem... - disse como se fosse verdade - mas porque eu tenho que perdoa-la? Diga logo, O que ela te fez? - dessa vez ele se mostrou impaciente.

- Me confundiu com uma refugiada, primeiro, como se fosse uma ofensa com uma hatiana, e depois insistiu e até me ofereceu um emprego de faxineira mesmo eu revelando minha real procedência e de que não precisava. - Calma... - pediu quando viu as veias saltarem do pescoço e da testa de Conrado. - Ela me disse que você sempre costuma ajuda-los e acredito que por causa da melanina, se é que você me entende, deduziu que eu também precisasse dessa ajuda.

- Eu não acredito! - bufou passando as mãos nervosamente pelos cabelos, se sentando tenso e nervoso na cama - amanhã vou ter uma conversa séria com ela, - Ashanti se assustou com o tom de voz - depois de cinco anos ela ainda não sabe para quem trabalha? - se levantou enrolando uma toalha na cintura. - Como ela ousa te desrespeitar dessa maneira? - respirou ruidosamente - se ela a tratou assim Ashanti, imagino que faça do mesmo, ou pior com aquelas pessoas por puro racismo, isso é inaceitável! INACEITÁVEL.

- Ei, eu já disse pra ter calma... - Ashanti se ajoelhou na cama espalmando as mãos no forte e duro peito - Eu já conversei e falei tudo o que havia para falar para ela meu amor, infelizmente esse comportamento é algo intrínseco, recorrente e não é só cometido por ela no universo. - Ashanti se lembrando da cena sorriu - Pela cara que ela me olhou quando revelei que eu sou sua, eu tenho certeza que nunca mais, ela falará assim outra vez com alguém.

- É o que eu espero! - andou até a janela segurou forte nas hastes da varanda com a intenção de respirar um puro ar e verdadeiramente se acalmar. Ainda de costas ele afirmou - Uma advertência amanhã ela receberá, não me peça para não fazer isso Ashanti, não me impeça de faze-lo, como homem e como ser humano eu não posso permitir.

- Tá certo amor, repreenda, converse, faça o que achar melhor, só não a demita tudo bem? O mundo, o Brasil está cheio de Ritas, o racismo ainda faz e ainda fará por muito tempo parte da nossa sociedade, ele é estrutural e só conseguiremos destrui-lo através de uma educação, formação melhores... Vamos nos dois encontrar, pensar uma forma de contribuir... De ajudar amenizar isso hum? Eu repito que não vai adiantar descontar tudo isso nela - Ashanti se aproximou dando um beijo em cada uma de suas tatuagens das costas. - ele reagiu com uma respiração falhada e funda, demorando alguns minutos para responder:

- Ah... - soltou para fora aquele ruído que significava frustração e alívio - Só você... Só os seus beijos, seu cheiro... para me alcamar. - repetiu ainda de costas, dessa vez olhando para a lua que brilhava o céu. - Você me faz pensar Ashanti, me trás sensatez e faz refletir sobre coisas que jamais imaginei em toda minha vida...

- Tenho uma curiosade - disse ela sorrindo, mudando de assunto, o distraindo, passando as mãos das costas passando ombros, chegando ao final dos braços.

- Qual? - ele questionou sorrindo, já completamente desarmado.

- Quero que me conte sobre cada uma de suas tatuagens... - ele permaneceu calado - hein? Me conta? - pediu manhosa fazendo com que de súbito ele se virasse, a toalha caísse e a pegasse no colo enrolando as lindas pernas em sua cintura.

AshantiTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang