Capítulo 30 - Minha fuga

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Abro a porta devagar. Estou aflito com a possibilidade de encontrar a polícia dentro do apartamento. Sei que estou preocupado à toa. Passei o dia vigiando o prédio. Nenhum policial entrou e apenas três viaturas passaram na frente. Nenhuma delas sequer parou.

Se entrar no avião foi um grande alívio, não ser recebido por policiais foi um ainda maior. Sei que isso vai durar pouco, mas me permito ficar feliz por estar em casa. Queria que Aninha estivesse aqui para me receber, mas fui eu mesmo que pedi que não viesse. Não é bom para ela ser encontrada na casa de um criminoso.

Agora, sou procurado pela polícia. Nunca acreditei que este dia fosse chegar. Acreditava que fosse morrer, não ser preso. Tive um cuidado especial para não deixar evidências em todos os meus alvos. Menos no primeiro e no último. No primeiro, Duncan me salvou. Desta vez, não havia quem pudesse me salvar. Além das armas que deixei na cena do crime, tenho certeza de que alguma câmera registrou meu rosto. Uma vez que vejam o que fiz, vão me ligar a todos os crimes dos Caçadores.

E ainda matei policiais. Muitos. Eram corruptos, é verdade, mas o corporativismo vai fazer deles heróis e não vilões. O que mais me preocupa é como vão interrogar as centenas de testemunhas. Não serão delicados, com a ânsia que têm por informações minhas.

É apenas questão de tempo para que seja preso. Mas não vou desistir sem lutar.

Me desfaço da roupa dos mortos e dou uma olhada nos ferimentos. Só minha barriga e meu ombro me preocupam. No final das contas, tenho sorte por estar vivo. Toda a minha habilidade não significaria nada se tivesse levado um tiro na cabeça.

Vou ao banheiro feliz por não ter jogado fora minhas provisões médicas. Me pareceu um desperdício. Agora, isso pode salvar minha vida. Esterilizo os ferimentos e troco os curativos de pano por curativos comprados prontos. Tomo uma injeção de antibiótico e um remédio para a febre. Agora é maneirar nos movimentos para não voltar a sangrar.

Vou até o quarto, pego uma bolsa de viagens e coloco alguns curativos e remédios. Volto ao quarto e visto calça jeans, blusa branca e um casaco de moletom com capuz. Separo algumas mudas de roupa para minha fuga. Arrumo a bolsa sentado na cama.

Acordo com batidas insistentes na porta.

Puta que o pariu! Eu dormi! Não acredito que peguei no sono na cama. Mais uns minutos e teria fugido. Mas vou ser preso em minha própria casa com a mala da fuga na mão.

Abro o cofre. Se existe alguma possibilidade de fuga, foi a que Duncan deixou para mim. E é. Na prateleira principal, cinco presentes. Um celular, três granadas de gás e uma explosiva.

A porta é arrombada.

Não tenho tempo para uma ideia melhor. Pego a granada. Não vou viver o resto da vida na cadeia.

Respiro fundo e seguro o pino.

Três.

Dois.

– Se eu fosse você, não faria isso.

Abro os olhos e vejo Delegado parado casualmente na porta de meu quarto.

– Pensei que você não era mais delegado.

– E não sou.

– O que você está fazendo aqui, então?

– Primeiro, impedindo que você se mate. Solta a granada.

– Quem mais está aqui?

– Só eu. Estou sozinho.

Ele não está usando o distintivo nem carregando uma arma. É difícil de acreditar, mas todo o país o viu abdicando do cargo e fazendo apologia ao justiçamento. Não pode ser possível voltar atrás numa situação como esta.

O Segundo Caçador:  vencedor do III PRÊMIO UFES DE LITERATURAWhere stories live. Discover now