24. mellifluous

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mellifluous(adjective): sweetly or smoothly flowing; sweet-sounding

CAPÍTULO 24

          Se havia coisa de que tinha todas as certezas do mundo, era que o amava. Estava tão certa disso como do dia em que o salvei de colocar termos à vida, num dos momentos mais vulneráveis e desesperados da sua existência. Eu amava este rapaz tanto que o chegava a detestar. A odiar por ele ter permitido que tudo aquilo que construíramos fosse estragado por inseguranças. Ele deveria saber melhor do que ninguém. O amor apenas se desmorona se o permitirmos.

          Os seus lábios, nostálgicos pelos meses passados, acariciavam os meus como se nada os tivesse separado. Pareciam conhecer todos os cantos da minha pele e de como tratá-la com carinho. Permiti que me beijasse de maneira a afastar o que quer que quisesse entrar na minha mente. Entrelacei os meus dedos atrás do seu pescoço e deslizei-os até ao topo dos seus cabelos, baguçando os seus cabelos azuis. Voltei a descer pelas suas bochechas.

          Quando soltou as minhas ancas e me autorizou a pousar os pés de volta no chão, é que me dei conta que estava no quarto de Olivia, durante o festejo do seu casamento. Abri os olhos com relutância, desejando poder permanecer na ilusão dos meus pensamentos para o resto da noite. As íris verdes de Harry já me olhavam atentamente, procurando algum tipo de emoção. Talvez estivesse dividido entre estar à espera de receber um murro no rosto ou um abraço de agradecimento.

          — Desculpa.—Ele murmurou, afastando-se do meu corpo.

          Olhei para os meus pés, cobertos pelo tecido longo do vestido. Os ombros caíram e a minha cintura tornou-se fria, sem as mãos dele junto a ela. Encostei as costas à parede e esperei encontrar algum conforto ao abraçar o meu próprio tronco.

          — Não tens de pedir desculpa.— Balbuciei.—Eu é que tenho de te agradecer. Como sabias que resultaria?

          Harry pediu que conectasse todos os meus sentidos a um só pormenor e deixou que o meu controlo escolhesse o que sentir. Afastei o som do fogo de artifício e foquei-me apenas em ter o corpo dele junto ao meu, colado a mim. Consegui bloquear as dores incontroláveis que o barulho me provocava e focalizei a minha mente nas saudades que sentira do rapaz.

          —Tenho feito algumas. . . pesquisas.

          Observei-o a escorregar pela parede, controlando o impulso de voltar para perto de mim. Os seus cabelos estavam espetados no ar e perdi o rasto aos caracóis que, outrora, embelezavam a sua cabeça. Rodeou as pernas com os braços e elevou o rosto.

          —Quando me falaste da tua Sinestesia, voltei a contactar o Tom — o rapaz que o Chalk também perseguiu e acabou por fazer o mesmo à sua namorada. E. . . Ele contou-me umas coisas que talvez te consigam ajudar.

          Respirei fundo ao sentir um aperto no coração, emocionada pelos esforços que, afinal, ele tinha feito para me ajudar. Ele prometera vingar tudo o que Chalk nos fizera, incluindo o que ele introduziu dentro do meu cérebro. Contudo, essa missão pareceu estar a ser difícil de concretizar. E, saber que ele estava a tentar contornar a situação, arranjando maneira de amenizar a minha Sinestesia, fez-me sentir acolhida.

          — Com a ajuda de uns psiquiatras, a namorada do Tom aprendeu a controlar as Sobrecargas Sensoriais sem chegar a um extremo. Como vocês não nasceram com a Sinestesia têm a capacidade de controlar o que querem ou não sentir. 

WORN JEANSOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz