17. journal

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journal(noun): a daily record, as of occurrences, experiences, or observations

[MÚSICA: JAMES MORRISON - PLEASE DON'T STOP THE RAIN]

CAPÍTULO 17

Harry soltou o meu corpo, olhando-me com preocupação escrita no olhar. Tapei a cara com as mãos e funguei para elas, escondendo a fragilidade do rapaz. Se há três meses atrás choraria agarrada à sua t'shirt preta durante horas a fio, neste momento não sentia que estava a fazer a coisa certa. Que tipo de pessoa seria eu se me entregasse novamente a Harry depois de beijar e declarar-me a Niall? O tipo de pessoa que não queria ser.

- Vou buscar-te um copo de água.

A minha cabeça estava uma confusão. Quando saí daquele lar, na esperança de viver o resto da minha adolescência de forma mais liberal e diferente, nunca pensei encontrar dois rapazes que mexessem comigo daquela forma. Já comparara os dois demasiadas vezes para o voltar a descrever, contudo o meu coração desviava-se sempre para o rapaz de cabelos encaracolados.

Talvez Niall tenha razão. A minha mente, que descontroladamente gritava todos os pontos positivos de me envolver com o rapaz loiro sobrepôs-se ao meu coração, que apesar de magoado, sempre torceu pela minha relação com Harry. Não me admira, que ao receber a notícia da sua partida, as minhas emoções se tenham misturado com o desespero de o perder. Porém, não me arrependia das palavras que lhe dissera. Eu amava-o, não só como uma melhor amigo mas também como ser, como a pessoa que esteve comigo em todos os momentos.

Observei-o pelo canto do meu olho. Fechou a porta com o pé, tentando produzir o menos barulho possível e caminhou com um copo de água na mão. Sentou-se ao meu lado na cama, em que eu entretanto me tinha sentado. Não demasiado próximo mas também não demasiado longe, o suficiente para sentir a tensão pairar entre nós.

Com os dedos a tremer, peguei no pedaço de vidro e levei-o aos lábios. As lágrimas que outrora davam um brilho sinistro às minhas bochechas, estavam agora enxugadas e sem nenhuma vontade de aparecerem. Não por não quererem ser expulsas do meu corpo, mostrarem a sua indignação pela revelação, mas sim por não se conseguirem reproduzir.

- Bebe devagar. Tens de te acalmar.

Desviei o olhar, não me sentido capaz de olhar para as suas íris verdes. A luz da lua incidia perfeitamente nos seus olhos, criando um tom mais claro que o normal.

- Eu estou bem.

- Não me parece que estejas. - Ele insistiu, franzindo as sobrancelhas. - Não vale a pena seres orgulhosa, conheço-te melhor do que ninguém.

Bebi a água até ao fim, hidratando o meu corpo. Os meus dentes ainda chocavam no vidro mas obriguei-me a controlar os tremores para não ouvir mais nenhum comentário dele.

- O que estás aqui a fazer?

Mirei-o com incerteza.

- Vim desejar-te um feliz aniversário.

- Mentira. - Eu atirei. - O Niall disse que te chamou.

Ele suspirou.

- Eu já cá estava quando ele telefonou.

Harry levantou-se. Envergava o mesmo estilo de roupa que no barracão. Umas calças pretas justas contrastadas com uma camisola larga sem mangas, mostrando todas as tatuagens que este fizera durante os seus quase vinte anos de vida. Trazia umas sapatilhas brancas, esfarrapadas nas solas. Apreciei o seu cabelo: estava totalmente embaraçado, uma consequência notável da quantidade de vezes que puxava e distorcia, em nervosismo, as suas madeixas azuis.

WORN JEANSWhere stories live. Discover now