20. hypothesis

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hypothesis(noun):  a conjecture put forth as a possible explanation of phenomena or relations

CAPÍTULO 20

Harry fechou o armário com uma mão e mirou-me.

- Espera, - Ele levantou um dedo, aguardando o meu silêncio. - Também tenho algo para te contar.

Aproximei-me da cadeira e debrucei-me sobre a mesma, pousando os cotovelos no encosto. Harry pousou o pano molhado na banca metalizada e caminhou até à pequena cabine de madeira atrás da porta. Esperei, acreditando que o seu ar pacífico apenas significava que ouvir a sua novidade o deixaria com um melhor humor, antes de lhe contar a minha.

Retirou uma carta da prateleira e caminhou até à bancada, empoleirando-se na mesma. Soltou um sorriso orgulhoso e arrancou o pequeno cartão do envelope. Inspecionei o elemento: a sua cara, certamente mais livre, e com apenas um piercing na sobrancelha, tentava mostrar um ar rebelde e desajeitado, falhando redondamente ao juntar-se à pequena cova na bochecha que a careta o obrigou a fazer. O cabelo estava de um castanho escuro, que acreditava ser a sua cor natural. Certas informações de Harry estavam espalhadas pela lateral.

- Tenho a minha carta de condução, de volta.

Durante bastante tempo, esquecera-me que o rapaz possui uma autorização para conduzir desde muito cedo. Graças às suas ações irresponsáveis, demasiadas vezes seguidas, fora-lhe retirado o cartão precioso. Harry contara-me também, que espatifara o carro, numa das ocasiões em que conduzira embriagado e Louis o enviara para uma garagem de conserto. Os estragos eram tantos que o mecânico pagara para ficar com as poucas peças que sobreviveram ao desastre.

- Fico feliz por ti! - Admiti, com um sorriso. - Vê lá, se agora, não a perdes outra vez.

- Não o farei. - Ele garantiu. - Cresci, Blue. Os erros do passado ficam lá atrás, não os vou repetir.

Os seus olhos verdes colaram-se aos meus, enviando a mensagem que outrora não tinha sido recebida. Percebi que essa frase trazia mais significado que o pretendido e segurei o seu olhar brilhante, no meu, até a intensidade me fazer desviá-lo. Olhei para o chão e tossi para aliviar a tensão que se formara no ar.

Balancei-me sob a sola dos meus sapatos e esperei que Harry quebrasse o silêncio. Era difícil manter uma conversa com ele, sem a quebrar nas pequenas pontas soltas que teimam em separar-nos. Ainda há muito por dizer e, apesar de termos acordado esperar até tudo se resolver, para avançarmos para algo mais sério, não acredito que os nossos problemas se resolverão se não os tratarmos por tu.

- Agora só precisas do teu próprio carro. - Eu decidi falar, vendo-o perdido nos seus pensamentos.

- Sim, - Ele suspirou. - Talvez um dia.

- Vou esperar que um dia me leves a um lugar novo, no teu carro.

- É uma promessa.

Harry saltou da bancada e fechou a carta no envelope, escondendo-o atrás da porta. Acredito que seja uma maneira de o obrigar a manter-se em casa, sem se lembrar de assaltar um carro por uma noite e viajar para longe daqui. Soava-me a algo que Harry era capaz de ter feito no primeiro dia em que lhe entregaram o cartão para a mão.

- Já alguma vez pensaste em tirar a carta de condução? - Ele questionou, agarrando na cadeira do outro lado da mesa.

Boa pergunta. Eu tinha bastantes objetivos de vida: queria acabar o décimo segundo ano; esperar doze meses na esperança de conseguir atenuar a minha vida, sabendo que teria poucos meses para sair do orfanato, e arranjar um apartamento, ou uma simples casa, com o dinheiro que juntara e com o que ganharia se realmente conseguisse um emprego; esperar que a média dos meus três anos de secundário me permitissem a entrada numa faculdade e, por fim, acreditando que a entrada na universidade me fosse possível, tirasse um curso e arranjasse trabalho na área de Assistência Social - queria ajudar crianças órfãs.

WORN JEANSUnde poveștirile trăiesc. Descoperă acum