08. threat

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threat(noun): a declaration of an intention or determination to inflict punishment


 CAPÍTULO 08
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Anita caminhou para mais perto de mim, sem nunca retirar o sorriso afetado dos lábios. Desviei o olhar para Marcos. Sabia que a rapariga não desapareceria sem ter aquilo que queria, que neste caso, era ter uma conversa comigo. Por isso, o melhor era despachar o assunto antes que caísse redondo no chão de cansaço.

— Achas que nos podes deixar sozinhos?

— Desculpa mano, — Marcos abanou a cabeça e levantou-se. — Ainda tenho parte do bar para limpar e tenciono dormir mais de quatro horas antes do início das aulas. Por isso, se querem conversar, terão de o fazer noutro sítio. 

A morena virou costas e caminhou vagarosamente até à porta de entrada, ordenando nas entrelinhas que eu a seguisse. Respirei fundo e dirigi-me a Marcos, cumprimentando-o com um abraço apertado e um agradecimento sincero. A verdade é que o tempo passado a trabalhar no bar fez-me esquecer por horas todos os problemas. 

— Tem cuidado com ela. — O rapaz gargalhou, referindo-se a Anita. — Quando receber o ordenado pago-te. 

— Eu tomo conta da situação. Obrigado!

Com um grunhido de exaustão arrastei-me para fora do bar, penetrando no amanhecer.  O céu estava a aclarear e as estrelas começavam a desaparecer uma por uma. O trânsito ainda circulava pacificamente, o que dava a entender que as sete da manhã ainda não tinham chegado. Entrei dentro do bordel minutos depois. 

A receção tinha um balcão avermelhado ocupando uma parede inteira. No centro estava escrito A Casa dos Desejos numas letras manuscritas e com várias cerejas a pender das mesmas. O resto do mobiliário estava espalhado pela sala: cadeiras de espera giratórias e mesas do lado esquerdo, um mini-bar no lado direito e um tapete oriental no meio. Atrás do balcão principal encontravam-se os corredores para os quartos de luxo. Adivinhei que Anita se encontrasse num dos mesmos e dirigi-me até lá.

Com efeito, a rapariga estava no primeiro quarto. 

— O que é que queres? — Perguntei de imediato. 

— Que agressivo, Harry. 

Anita tinha as costas encostadas à cama e os pés cruzados em cima da mesma, descontraída. Mantive-me colado à porta, preparado para sair pela mesma caso não gostasse da direção da conversa. 

— A tua miúda esteve aqui hoje. 

Então sempre era verdade. 

— Ela já não é minha. 

A rapariga encolheu os ombros e aproximou-se do fim da cama, sentando-se na mesma. Os seus cotovelos pousaram nos joelhos arranjando um suporte para os seus longos cabelos escuros. 

— Ela ainda não o sabe, então. 

— Como assim?

— Ela veio procurar-te e parecia determinada em conseguir aquilo que queria. Viu-te nos barracões com a Wiley e fez uma cena dramática digna de um Óscar: «Eu vi o meu namorado!», «Com uma rapariga, eu juro!».

Ela viu-me. 

Imagino os sentimentos de traição e de humilhação que lhe passaram pela alma. Ver o rapaz que ama, e procura há semanas, de mão dada com uma mulher mais velha, mais alta e mais madura. Acredito que a sua auto-estima tenha desaparecido em segundos, julgando que a trocara tão facilmente assim por outra. Contudo, e conhecendo a Anita como fui obrigado a conhecer neste último mês, tinha a certeza que esta lhe contara a verdade e lhe dissera o que realmente aconteceria naquela noite.

WORN JEANSWhere stories live. Discover now