WORN JEANS

12. excessive

excessive(adjective): going beyond the usual, necessary, or proper limitor degree

CAPÍTULO 12

O barracão era mais sofisticado por dentro do que por fora. A Lua servia a luz necessária para não me atrever a clicar no interroptor. As paredes foram habilidosamente pintadas de preto com detalhes avermelhados. Na parede paralela à porta encontrava-se uma cama de casal com lençois brancos recheados de flores rendadas na periferia. Uma cómoda cerejeira antiga estava encostada no lado direito do quarto, enquanto que no oposto situava-se uma porta - de certo, a casa-de-banho. Ao lado da mesma, uma pequena mesa continha dois copos de vidro e uma garrafa que acreditava ser whisky. Todo o local tinha um cheiro intenso a lavanda e senti-me ligeiramente melhor por acreditar que tenha sido limpo e polido há pouco tempo.

Estar neste quarto tornava-se insuportável há medida que o tempo de espera aumentava. Imaginar que Harry já estivera neste mesmo sítio, beijando dezenas de raparigas diferentes mexia com o meu estômago. Tomei a iniciativa de abrir a gaveta da cómoda na tentativa de encontrar algo que me distraísse dos meus pensamentos, contudo, fui invadida por uma onda de náuseas ao observar a quantidade multicolorida e funcional de preservativos masculinos, lubrificantes e objetivos que nunca me apetecerá perguntar o porquê do seu uso.

Caminhei até ao fim da cama e sentei-me na coberta. O que estava eu a fazer aqui? Como reagirá quando abrir aquela porta e encarar a última pessoa que gostaria de ver? A verdade é que fora Harry quem me abandonara. Se este realmente desejasse voltar a ver-me tê-lo-ia feito mais cedo. Contudo, ninguém o conhecia como eu e ouvir a sua voz embargada ao telefone fez-me perceber, o quanto a minha falta, ele sentia. Porém, ele deixara-me e não tornarei as coisas fáceis para ele.

Recordei o olhar de compaixão da mulher que me servira na entrada. O brilho de preocupação no canto dos seus olhos mostrou-me o quão familiarizada estava com situações como a mim. Talvez existesse um número excessivo de casais que ao darem um tempo à sua relação os enviava inevitavelmente para um mundo de esquecimento e mulher fáceis. Não seria, com certeza, a primeira vez que uma jovem desesperada pedia informações sobre as coisas depravadas que o ex-namorado fazia num desses quartos. Infelizmente, os casais de hoje em dia têm a tendência de se magoar mutuamente pelo simples prazer de mais tarde se consolarem um ao outro.

O barulho da porta a ranger bloqueou o batimento do meu coração. A Lua já não permitia a iluminação suficiente para observar a porta com nitidez, porém, arregalei os olhos para tentar furar a escuridão.

- Boa noite, doçura. Seja bem-vinda ao Barracão dos Desej... Blue?

A sua voz transformou-se num soluço ao girar completamente nos seus calcanhares. Encostou-se à porta que fechou-se com o seu peso, num estrondo que fez a minha cabeça explodir por segundos. Clicou no interroptor logo de seguida, dando outra claridade ao lugar. Ainda estava para existir o dia em que conseguisse resistir a um som mais elevado, sem transformar a minha mente numa poça de água. Tentei controlar a respiração trêmula que anunciava a minha ansiedade e fechei a coberta nos meus punhos, amaçando-a repetidamente.

Depois de quase dois meses de angústia e saudade, o rapaz que amava estava à minha frente e com o aspeto mais saudável e irresistível - uma descrição que nunca imaginei ser real - que alguma vez vira. Envergava umas calças pretas justas às pernas e as velhas All-Stars claras que pareciam ser o bem mais valioso do seu guarda-roupa. O tronco estava tapado com uma camisola larga, sem mangas, branca que ao ser molhada com certeza transformar-se-ia num tom transparente- O seu cabelo, recentemente cortado, transportou-me para o primeiro dia em que o vira, assim como os piercings que acentavam perfeitamente no seu lábios e sobrancelha. O cabelo estava curto e curvado no topo, exibindo a sua nova cor: um azul escuro.