Seis: O Kancarô

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— Ahul! Ahul! Ahul! — O povo comemorava festejando.

Subimos para perto de Gairo, todos nós, orgulhosos. Sentimo-nos como heróis recém-nomeados, e embora não soubéssemos exatamente o que nos aguardava no futuro, sabíamos que aquele povo confiava em nós em todos os aspectos.

— O ovo que pegamos está morto? — Isabela perguntou à Gairo, ansiosa.

— Morto? — retrucou Gairo. — Não querida, ele não está morto, mas apenas dorme. Dentro do ovo há uma criatura, um Ezcrat, um animal muito poderoso e amoroso, se você o amar ele irá lhe amar de volta e lhe proteger.

— Nossa! Que mágico! — disse Isabela com olhos brilhosos. — E como tirar ele lá de dentro?

— Você não o tira de lá, você o ajuda a sair — explicou Gairo. — Os Ezcrats sofrem muito para botar seus ovos, e logo ao botá-los, o filhote sente a agonia da mãe, e desesperado por socorrê-la força para fora do ovo, e em aproximadamente uma hora ele vence a casca para fora.

— Se quer ajudá-lo a sair, terá de pagar o alto preço: A dor — concluiu Gairo. — Vocês têm a vantagem da cura e cicatrização física aceleradas em Belácia. Elgie me contou o que aconteceu na Selva Vermelha — disse Gairo intrigado. — De fato, vocês seriam os únicos capazes de fazê-lo.

Isabela se vira para mim e diz:

— Pai, eu quero fazê-lo! Quero ajudar o Ezcrat a nascer!

— Mas filha? Você entendeu o que o senhor Gairo acabou de te dizer? Você vai sofrer muita dor! Esse é o preço para ver o animalzinho fora do ovo — lembrei-a.

— Tudo bem, pai... Eu aceito — disse Isabela firme em sua decisão. — Como fazemos isso, senhor Gairo? — perguntou Isabela ansiosa.

— Coma primeiro, minha criança, e após a refeição te mostrarei, tudo bem? — sugeriu Gairo.

— Ok! — concordou Isabela, empolgada.

Fizemos uma boa refeição.

Faltava muito tempo até que escurecesse, já que o dia em Belácia tinha a duração de trinta e duas horas.

Saímos do salão onde fora servida a comida e fomos para uma área aberta na face sul do palácio. Uma área circular de dez metros de diâmetro, com pilares de pedra de três metros de altura que a cercavam, com o vão de dois metros entre os pilares, no chão, símbolos que desenhavam o que parecia ser um sistema solar com figuras de raios que apontavam todos para o mesmo lugar, o centro.

— O Kancarô — falou Elgie.

Gairo assentiu com a cabeça em sinal de respeito.

— Aqui foram mortos muitos traidores, culpados de crimes e prisioneiros de guerra. Isso há muito tempo, quando meu pai ainda reinava em Belácia — relatou Gairo. — O Kancarô é composto por esses pilares, ligados à nossa fonte de energia, que dá uma descarga de energia três vezes maior a que um belaciano poderia suportar. Os belacianos duravam cinco segundos ou menos até que morressem, e em mais cinco segundos seus corpos estavam completamente desintegrados. Meu pai acreditava que um belaciano condenado por desonra não merecia ser sepultado — explicou Gairo.

— Concordo com seu pai, Gairo — falei. — Mas você não pretende colocar minha filha nesta coisa, pretende? — questionei surpreso.

— Calma, Rick, está tudo bem — disse Elgie harmoniosamente. — Ela vai sofrer, mas vai ficar bem no final.

— Isabela?! — questionou Léa preocupada.

— Está tudo bem, Léa, eu quero, confio neles... Vocês não?! — retrucou Isabela.

ASAN QUO, GUARDIÕES REAIS: TERTÚLIAOnde histórias criam vida. Descubra agora