Seis: O Kancarô

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No jardim andamos calmamente e paramos junto a um banco de madeira vermelha, muito bonito, com forma de animais esculpidos nele, como tessínios, túllos e madrícos, iguais aos outros bancos.

Os túllos lembravam cachorros pelo seu comportamento, mas na aparência eram animais pequenos de aproximadamente quinze centímetros, com apenas duas pernas, cauda curta, pele castanha clara com manchas beges pelo corpo, sem pelos, com duas asas bem pequenas no lugar dos braços; cobertas por penas e a cabeça era muito parecida com a de um Bicho-preguiça. Já os madrícos eram animais de carga com quatro patas iguais às de urso e unhas grossas, corpo forte, dois metros de altura, andavam com as quatro patas a maior parte do tempo, como ursos, peludos da cor cinza claro, uma casca marrom grossa nas costas para suportar o peso e uma feição dócil, eram sem dúvidas muito amigáveis, mansos e trabalhadores.

Coloquei o ovo em cima do banco e nos sentamos.

— Você sabe o que tem dentro desse ovo, Rick? — perguntou-me Gairo.

— Não faço ideia senhor — respondi rapidamente —, mas gostaria de saber por que foi tão bem escondido.

Gairo sorriu e disse:

— Ele poderá ter muitas formas, isso vai depender da necessidade, ambiente e de seu humor. Ele não será apenas um amigo, mas a maior arma que podem levar de Belácia. É seu, cuide com carinho, pois por bem ou por mal ele nunca se separa do primeiro ser que ver. É praticamente indestrutível, um ser real e raríssimo, foi mantido tão bem protegido porque só obedecerá a verdadeiros guerreiros.

Olhei curioso para o ovo que era tão especial e disse:

— Gairo, fizemos isso para pagar sua ajuda. Não posso...

— Fique com ele! — Gairo me interrompeu rispidamente.

Olhei em seus olhos com deferência.

— Perdoe minha ignorância — falou olhando sinceramente para mim. Você e seus amigos farão muito por nosso povo — prosseguiu ao se virar para a bela vista da montanha — vou lhe contar... Tive um sonho dois dias antes que vocês viessem à Belácia. No sonho vi os míntacos atacarem nosso povo. Usamos todos os nossos recursos, mas por fim fomos massacrados por eles... — disse Gairo voltando seu olhar para o palácio. — O Kancarô estava em ruínas e estávamos nos dando por vencidos... Até aparecer um grupo de guerreiros com um Ezcrat, que derrotavam os míntacos, como nossos aliados... Acordei suado e muito preocupado com meu povo. Rick, esses guerreiros são vocês! — disse Gairo convencido — salve-nos de nossos inimigos e teremos uma perpétua aliança com os terráqueos.

Ouvi atentamente e pensei por um instante em tudo o que ouvira de Baboo e Joel na ida. Não me sentia preparado para tudo aquilo ainda. Toda aquela responsabilidade de líder e guerreiro... Mas, concluir aquela missão perigosa de resgatar o ovo e provar a minha força extraordinária em Belácia me convenceu de que poderíamos ajudar de alguma forma.

— Senhor Gairo, não sei se parecemos com os guerreiros que irão salvar seu povo, mas pode ter certeza que lutaremos com vocês até o fim. Tem minha palavra! — disse resoluto.

— Muito bem, meu amigo! Obrigado... Devemos celebrar essa aliança! Vamos à refeição? — sugeriu Gairo.

Assenti com a cabeça e pensei que seria melhor ocultar a identidade do segundo ovo por enquanto.

Andamos para o salão onde a comida seria servida e antes que se tocassem as trombetas para que nos servíssemos, Gairo tomou a palavra:

— Povo de Belácia! Ontem comemos com hóspedes e peregrinos... Hoje — disse com força — comeremos com amigos e aliados! Subam até mim, amigos, e me acompanhem nesse banquete!

ASAN QUO, GUARDIÕES REAIS: TERTÚLIAWhere stories live. Discover now