Três: Let's Rollets

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Quanto tempo você precisaria para destruir tudo em sua vida? Eu precisei de quatro segundos... Quatro segundos foi o tempo que dormi ao volante e sem poder voltar, fiz um belo salto por cima daquela cerca de um metro e meio com um giro de cento e oitenta graus, após ter invadido a pista da contramão. Aquilo pareceu coisa de cinema e para minha sorte não sofri nenhum arranhão. Quando saí do carro e vi o estado que ele havia ficado, quis morrer. Um Volkswagen Gol 1.0 reduzido à sucata, e eu, perdido naquela estrada escura, sem sinal de rede celular ou esperança de alguma alma bondosa que me socorresse. Aquilo – aquele acidente – não me causou danos na carne, mas por baixo dela. Nunca imaginei que a culpa poderia doer tanto... Que pudesse causar estrago tão grande num ponto invisível, não tangível de meu ser.

Quando estava a duas quadras do meu destino recebi uma ligação de Léa – a babá de Isabela desde o berço – muito surpresa com os meus relatos, dizendo que estava tendo o que ela chamou de "alucinações" em diferentes horários do dia, ouvindo uma voz dizer a mesma frase: "Estamos ficando sem tempo!".

Sem tempo para o quê? – pensei já nervoso.

– Léa, o que houve com Anne? Onde está ela? Por que você está com o celular dela? – questionei intrigado.

– Não sei Rick! Ela simplesmente chegou do trabalho, me pediu para ficar um pouco mais e disse que não demoraria, mas já faz mais de duas horas... Ouvi o recado que você deixou e achei melhor retornar a ligação! O que vamos fazer a respeito desses fatos estranhos Rick? – disse ela receosa.

– Não sei Léa, mas me mantenha informado de tudo que acontece por aí! Proteja minha filha! Entendeu?! – exclamei preocupado.

– Pode contar comigo Rick! Cuido dela como se fosse minha! Até logo... – disse Léa antes que desligasse.

Não entendemos nada, e tive que desligar.

Alivio foi saber que não estava ficando louco, e se estava, não estava ficando louco sozinho.

Muito bem. Chegando à Rua Kentworth, 12, me deparo com um clube abandonado, antigo, sujo, por todos os lados mato de meio metro de altura, um letreiro caído, suspenso por alguns ferros enferrujados saídos da estrutura da parede que dizia "Alienados", dividido em duas partes por estar quebrado, que se lia "Alien ados". Confesso que aquela mensagem subliminar me deu calafrios...

– Aliens agora? – pensei.

Aquela Rua Kentworth era composta por apenas uma quadra, e nela havia apenas aquele clube abandonado. Ele existia ali por pelo menos vinte anos que me lembre, e nunca o vira funcionando. Olhava para os dois lados aguardando que alguém me encontrasse do lado de fora.

Exatamente às vinte horas a porta de entrada é aberta pelo lado de dentro com alguma dificuldade, rangendo e arrastando as tralhas pelo chão.

Na hora me lembrei de pelo menos três filmes de terror onde a pessoa cai no erro de ir a um lugar perigoso e escuro, sozinha, por curiosidade ou burrice mesmo. Por precaução e é claro, por medo, resolvi voltar ali em outro momento com mais alguém ou quando fosse dia. Pareceu piada quando virei para trás e vi uma pichação no muro que dizia: "We're running out of Time!". Era a frase que Léa e eu estávamos ouvindo por uma semana já, porém em inglês. Li em voz alta, e da porta do clube uma voz gritou:

– Rick! Cuidado! Corra para cá!

Olhei para os lados e me deparei com criaturas que pareciam pessoas, mas com uma aparência deformada, corcunda e não muito amigável, mas como a rua estava muito escura e elas estavam cobertas por uma capa, não consegui discernir o que eram, apenas vi que eram mais altas do que eu.

Pareceu-me mais seguro entrar naquele clube velho do que esperar as criaturas chegarem até mim, e foi o que fiz. Aquela voz que me chamara pelo nome e que soou familiar me disse em voz baixa para segui-la, e disse que responderia à todas as minhas perguntas quando chegássemos a outro lugar, pois ali já não era mais seguro.

ASAN QUO, GUARDIÕES REAIS: TERTÚLIAWhere stories live. Discover now