Um: Uma Mensagem do Além

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Não consegui esquecer...

Era final do dia e o sol tinha praticamente se guardado. As coisas já estavam carregadas no caminhão quando aquele velho de cabelos grisalhos, com uma expressão carrancuda nos disse:

– Vamos embora!­­

Danton e eu subimos no caminhão e partimos imediatamente. Não me recordo para onde nem porque, mas estávamos em um caminhão carregado de coisas e móveis que mobiliariam facilmente uma casa. Aquele caminhão velho, quase que aos pedaços, balançava demais e nos dava a impressão de que poderia desmontar a qualquer momento.

Quem era aquele velho? Não fazíamos ideia, mas estávamos seguindo com ele.

Poucas quadras adiante tentaram roubar alguns objetos pequenos e mal encaixados no caminhão, uma tentativa malsucedida por dois rapazes de patins, que perceberam a oportunidade de furto no momento em que o caminhão fazia uma conversão à esquerda. Então, de repente, aquele velho começou a acelerar o caminhão com uma pressa perturbadora. Assustados, e temendo que o caminhão tombasse numa daquelas curvas acentuadas que fazia, gritei:

­­­­­­­–­ ­Vá devagar! Você vai tombar esse caminhão!

Ele não me deu ouvidos... Aquele caminhão velho balançava como se fosse tombar e, na segunda tentativa de alertá-lo nem consegui completar a frase... Quando percebemos, já estávamos voando para fora daquele caminhão tenebroso.

Por sorte ninguém se machucou. As coisas estavam bem amarradas ao caminhão, então pouco se perdera no acidente. Mas, um fato curioso me chamou a atenção, foi ver o motorista entrando no mercado bem em frente ao acidente, como se nada houvesse acontecido. Ele entrou e foi direto para a fila do último caixa tentando aparentar uma ação rotineira, e pagou por uma compara. Sua atitude me fez pensar, "ele não estava ali simplesmente fazendo uma mudança". Era como se estivesse nos vigiando para alguém... Quem era ele?!

A cena muda completamente, e nesse momento me pego subindo escadas largas e de poucos degraus. A construção aparentava ser um barracão com algumas divisórias que o tornavam uma casa improvisada, dividindo quarto, sala e cozinha.

Ao subir aqueles poucos e largos degraus, em um deles, notei que a força que empregava na perna para que meu pé tocasse o chão era superior ao normal. Aquilo me chamou a atenção, fiquei perplexo. Repeti o movimento de subir e descer o mesmo degrau fazendo testes com os pés, até pulei com os dois pés ao mesmo tempo para constatar que os segundos que levava a tocar o chão novamente eram maiores do que nos demais degraus. Era como se naquele ponto específico, naquele exato degrau, minha massa corporal se tornasse mais leve, como se a gravidade fosse diferente para aquele ponto do planeta.

Ao reconhecer esse fenômeno, corri escada acima, com a intenção de contar o que havia descoberto aos outros.

Ao terminar de subir o último degrau, avistei como era feita a divisão, e o primeiro cômodo que vi foi o quarto. A televisão estava ligada e notei Danton, Naara e Jena próximos a ela. Dos irmãos biológicos, eles eram os mais jovens. A televisão estava no espaço entre dois beliches em um quarto grande demais para poucas coisas. O chão cinza e limpo imitava um cimento lustrado, em contraste com as paredes amarelo claras de cinco metros de altura que sustentavam as telhas finas de zinco. Quando comecei a falar, uma quarta pessoa surge de um beliche, assustando-me com sua presença inesperada. Era a detestável Sandra... Nunca nos demos bem. Ela era minha prima há vinte e seis anos. Sua mãe era irmã da minha, e até onde me lembro, era envolvida com coisas obscuras, de má índole e um caráter questionável. Acanhei-me por um momento, pois minha expressão facial denotava todo o descontentamento com sua presença. Senti-me bem por conter-me em relação aos meus sentimentos naquele momento.

ASAN QUO, GUARDIÕES REAIS: TERTÚLIAWhere stories live. Discover now