18a. Novos conhecimentos (Avá Verá)

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Escuto sons ao meu redor. Eles estão chegando. De novo. Estão vindo para mim, se aproximando. Agora estão aqui, me cercando. Tento abrir meus olhos, me mover. Mas não consigo. Não sei o que eles são, o que estão fazendo comigo que não permite me mover, falar ou abrir os olhos. Mas os tenho percebido, sempre chegando perto de mim e me tocando. De novo e de novo. Sempre voltam.

Suas mãos estão em meu corpo agora. Nos braços e pernas. Sei o que farão em seguida. É o que têm feito sempre, repetidamente. Eles me seguram, me cortam, me ferem. E tomam meu sangue quando este sai. Eles têm se alimentado da minha energia, da minha vida.

Quero abrir os meus olhos. Quero ver o que eles são. Mas não consigo. Meus olhos não abrem, meu corpo não se mexe. Coloco toda a força que tenho na tentativa de me mexer ou falar, gritar. Mas nada! Simplesmente, não me movo. E eles estão aqui. Com certeza estão. Começo a suar de medo e pavor.

Mãos seguram meus pés e pernas. Meu corpo treme de pânico. Facas, ou similares, começam a cortar meu corpo: nas pernas, braços, troncos. A dor é extrema. Sinto que não vou suportar. Estão rasgando o meu corpo. Percebo o sangue escorrer em várias partes. E agora vem a parte pior desse ritual macabro que repete cada dia. Suas bocas em minhas feridas. Chupam meu sangue. E sinto uma gosma gelada que deve ser a saliva deles. As línguas horríveis me lambendo. A gosma anestesia um pouco. Mas a sensação das bocas em mim é horrível. E eles chupam mais e mais. Quero abrir os olhos! Preciso me mexer! Mas estou perdendo as forças. Começo a sentir que tudo vai se afastando... sumindo... sei que estou desmaiando. Ou morrendo...

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Percebo sons, luzes e movimentos. De novo... Claridade e escuridão se misturam, se revezam. A cabeça e o corpo doem. Me sinto como em um daqueles pesadelos dos quais tentamos acordar e não conseguimos. Em alguns momentos, percebo pessoas ao meu lado, tentando falar comigo ou tentando me dar coisas para beber. Mas meu corpo rejeita repetidamente o que me é dado. Meu estômago queima. Tudo em mim parece estar quente, incendiando. Não consigo manter os olhos abertos. Não consigo distinguir quem está comigo. As coisas estão estranhas e confusas. Em alguns momentos, vejo que alguém passa panos molhados por meu corpo.

Tento me mexer, falar, tento refletir sobre as coisas, mas não consigo. Me parece que os dias vão se sucedendo. Mas não sei se é isso mesmo. Às vezes, pareço perceber fogo. Continuo sem forças para me mover, levantar ou falar. Em poucos instantes de pálida lucidez, vomito, meu corpo treme, me contorço. Sinto mãos que tentam me prender ao chão, me firmando enquanto meu corpo convulsiona. Percebo, nesses momentos, que meu corpo está molhado de suor. Estou esgotado.

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Acordo novamente e consigo perceber que estou deitado no chão. Ou em um catre, não sei direito. Só me é claro que não é em uma rede. Não entendo direito onde estou, mas começo a ver coisas e ficar mais tempo alerto. Sei que não estou em uma floresta. E também não parece ser a casa grande. Minha mente está confusa. A casa grande me parece algo perdido em um passado longínquo. Estou acordando de um sonho, ou de um pesadelo, acho. E não sei dizer onde estou e nem quem eu sou.

Tento me mexer. Mas a dor no meu corpo e na cabeça é lancinante. Me sinto sendo atravessado por inumeráveis flechas, em todo corpo. Como se alguém enfiasse uma lança no interior de minha cabeça e a torcesse lentamente de um lado para outro. Então decido-me por permanecer imóvel. Vou tentando devagar abrir os olhos, que também doem com a claridade. Vou me forçando a abri-los. A visão é turva. Distingo pouco do que está no meu campo de visão. Sinto presenças. Tenho medo do que está em minha volta, ao meu lado. Começo a ver o teto do local onde estou, que parece ser uma caverna. Tento movimentar os meus dedos, mas não sei dizer se estou conseguindo. Uma mão, ou o que penso ser uma mão, atravessa meu campo de visão em direção à minha testa. Uma outra mão imobiliza ainda mais meu corpo.

Jegwaká: o Clã do centro da Terra (COMPLETO) 🏆Prêmio Melhores de 2019 🏆Onde as histórias ganham vida. Descobre agora