Dois: Estamos Ficando Sem Tempo!

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Mas, Quem era ela? Nem sabia seu nome! Poderia até mesmo ser alguma amiga da Anne ou da Solanis brincando comigo. Se não for, ela voltará. E se voltar, vou descobrir quem é ela e como me encontrou...

Passou-se dois dias em completo caos, correria e bagunça. Muitas reuniões e mudanças na empresa. Nunca mais me adaptei a essa vida, nem a essas correrias no trabalho que sempre me perturbaram.

Recebi novas fotos e vídeos de minha filha, Isabela. Ela está crescendo muito rápido, e aprendendo tudo com facilidade singular, sua mãe sempre fora muito dedicada, uma ótima educadora, algo pelo que sou muito grato a ela.

Nesses dois dias vi uma nova mensagem daquela tal amiga virtual, mas não tive tempo de abrir. Fiquei focado no trabalho. Num outro momento olharei aquilo. Afinal, tenho que terminar esses malditos relatórios que são tão insatisfatórios que me causam mal estar. Já é tarde e ainda não jantei nem tomei meu banho para aliviar o corpo cansado e suado.

Reservei alguns minutos para o meu banho de água gelada e, para o jantar, o mesmo cardápio do meio dia. Requentei no forno micro-ondas a comida que sobrara do almoço e mandei ver. A fome era tanta que a massa requentada parecia ainda mais saborosa do que a fresca. Revi a programação do dia seguinte e logo depois me deitei adormecendo rapidamente, pois o corpo estava cobrando descanso.

São exatamente quatro e quarenta e quatro da madrugada...

Acordei pensando naquela mensagem da estranha, mas não ousei abri-la ainda. Não sei de onde veio a voz que me acordou, mas ecoava em meus ouvidos "estamos ficando sem Tempo!". Exausto, virei para o outro lado e dormi novamente.

Acordei atrasadíssimo para o trabalho. Não ouvi o despertador, e quando peguei o celular havia mais de dez ligações não atendidas e vinte e três mensagens não lidas. As mensagens eram todas do mesmo número que me ligara, desconhecido. Traziam todas o mesmo texto: "Estamos ficando sem Tempo!".

Arrumei-me rapidamente e saí para o trabalho de estômago vazio, ainda meio atordoado pelo sono. Como de costume fui caminhando pela avenida e notei que para um dia de semana em horário de pico, não havia movimento algum nas ruas. Os comércios estavam abertos, mas sem pessoas. Achei estranho e comecei a caminhar rua abaixo no intuito de descobrir que tipo de comício ou acontecimento tomava a atenção de todo o povo.

Nada! Ninguém!

Quando quis começar a gritar por alguém, fui agarrado e puxado para um beco e silenciado rapidamente por uma mulher de cabelos escuros usando um lenço que lhe cobria metade do rosto. Observei bem aqueles olhos que compenetrados nos meus, disse:

– ESTAMOS FICANDO SEM TEMPO!

De repente me vi deitado em minha cama novamente...

Na minha cama? Onde eu...? Não foi real? O que foi aquilo? Foi uma visão?! Uma mensagem?

Mas o que eu, uma pessoa comum teria a ver com qualquer coisa fora do normal? Confesso que fiquei um tanto intrigado, e pensando no que ainda não sei dizer se um sonho ou uma visão me levou a ver a única coisa estranha que estava acontecendo, a conversa com a nova amiga virtual.

Saí de casa para seguir aquela rotina entediante de pelo menos um ano. Como dizia um velho amigo, "as coisas não funcionam quando você mais precisa delas". Meu celular estava sem créditos para ligações ou acesso à internet, então tive de correr para o trabalho, desta vez, para matar minha curiosidade e ansiedade usando a internet da empresa para ler a bendita mensagem.

Ao chegar à empresa a rede de internet e telefonia estavam em manutenção devido a uma chuva forte na madrugada, e segundo informações do técnico da companhia responsável pelos serviços a manutenção demoraria horas. Como usávamos a internet para praticamente todas as tarefas que executávamos na empresa, fomos dispensados. Saí daquela espelunca – como sempre gostei de chamar – às pressas, e fui a uma Lan house situada a quatro quadras dali. Aluguei um computador e acessei minha rede social. Para minha surpresa a mensagem que me deixara tão curioso dizia o seguinte:

"Você ainda é muito teimoso! Encontre-me na Rua Kentworth, 12 ás vinte horas do dia em que ler este recado. Estamos ficando sem tempo!".

Tão somente acabara de anotar o endereço em um pedaço de papel, a internet se foi. Fiquei em pé e reclamei que o sinal da internet havia caído. O rapaz verificou rapidamente o problema e disse que era erro no servidor da operadora e que iria entrar em contato. O responsável pelo estabelecimento nos informou minutos depois que não havia prazo para retorno e devolveu o dinheiro de todos que haviam acabado de chegar.

Sorte. Foi o que eu tive naquele momento. Foi o tempo cronometrado para que eu conseguisse o que precisava antes que a internet me deixasse na mão. E agora? Decidi ir até a casa de Jena, minha irmã, para compartilhar esses fatos estranhos com ela. Jekaterina passou a ficar em casa após ter dado luz a um lindo menino loiro de olhos azuis como o céu. Ela sempre estava lá. Era quase impossível não encontrá-la em casa. Jena havia se tornado uma excelente cozinheira, dona de casa e mãe. Uma mulher esforçada. Chamei Jena por quinze minutos ou mais, entre interfones, palmas e gritos.

– Droga! – disse em um tom alto o suficiente para que a vizinha ouvisse.

– Procura a moça que mora aí, rapaz? – perguntou-me a senhora.

– Sim senhora, sabe dela? É importante! – retruquei afoito logo em seguida.

– Ela saiu há uma hora mais ou menos. Não sei para onde foi querido. Posso dar algum recado? – perguntou-me a senhora preocupada.

– Não não senhora, eu retorno mais tarde. Obrigado – agradeci suspeitosamente.

Jena não estava em casa e eu estava quase explodindo de ansiedade desejando compartilhar tudo aquilo com alguém. Escolhi Jena não apenas por ser minha irmã, mas também pelo fato de ser a pessoa com o coração mais puro, gentil e caridoso que já conheci, pois sempre doou muito do seu tempo, que na minha concepção é a coisa mais valiosa que temos depois da própria vida.

Minha segunda opção era meu irmão mais velho que se tornara um grande e bem sucedido empresário, na área de desenvolvimento e programação de websites. Um apaixonado pela profissão e excelente profissional que me prestou socorro em momentos de dificuldade. Para minha falta de sorte, ou sobra de azar, não o encontrei também.

Decidi sentar no banco de uma praça próximo de onde estava. Comprei um pequeno sanduíche para evitar que a ansiedade me devorasse, pois na realidade, não estava me importando com a fome, fiz apenas pela mera necessidade de fortalecer o corpo.

Após o pequeno lanche tive a ideia de compartilhar com Anne o que estava acontecendo, já que não conseguia contato com os outros, mas, como todos, ela também estava incontactável. Então lhe gravei uma mensagem de voz, pedi que entrasse em contato quanto antes possível e pus-me a esperar sentado pela hora que faltava, para que eu tivesse meu encontro com a estranha.

Ela me chamou de teimoso e disse "ainda". Ela já me conhecia? Pensei comigo mesmo.

Dirigi-me para o endereço indicado vinte e cinco minutos antes do horário estipulado por ela, sem ter a mínima noção do que me aguardava.

ASAN QUO, GUARDIÕES REAIS: TERTÚLIAWhere stories live. Discover now