No começo, eu o achava uma pessoa ruim.
Quando o vi pela primeira vez, ele parecia ameaçador, com seu olhar frio e distante, alguém com o qual eu jamais imaginaria me aliar. Odiava esse homem com todas as minhas forças, pois acreditava que ele tinha sido o responsável pela morte da minha família. Eu via em Sylus o rosto do inimigo, e nada mais importava. Mas com o tempo, ele não era quem eu pensava que fosse.
Fechamos um acordo de interesse mútuo, e assim, sem escolha, fui forçada a lidar com sua personalidade tão enigmática. Depois de tantas coisas que passamos juntos, o que eu sentia por ele estava se tornando mais complexo do que eu poderia ter imaginado. Eu via a frieza em seus olhos, mas também a sinceridade nas ações que ele tomava, por mais que fosse relutante em demonstrar qualquer tipo de emoção.
Às vezes, ele me chamava de "querida" ou "gatinha", com aquele tom provocador que me irritava profundamente, mas, em outros momentos, ele fazia algo surpreendente — como quando, de repente, acariciava meu cabelo com carinho. Eu nunca pensaria que um homem como ele pudesse gerar tantos sentimentos conflitantes dentro de mim.
Com um leve sorriso, entrego a ave a Sylus. - Já que você tem se esforçado para cuidar dela, vou te dar a honra de soltá-la.
Sylus não recusa, mas também não fala nada, o que não é surpresa vindo dele. A pomba branca voa, pousando com suavidade no dedo do homem, e naquele instante, ele ergue as mãos e a solta para o alto. A ave não demora a desaparecer na noite, e fogos de artifício explodem de repente, em néon, iluminando o céu com cores vibrantes.
Não posso deixar de notar que Sylus, ao meu lado, também olha para os fogos, seu rosto iluminado pelas explosões de luz. Viro minha cabeça para olhá-lo, e me pego perdida no olhar dele, sabendo que ele é inegavelmente bonito.
A linha marcada do maxilar, tão forte e definida, parece esculpida em pedra. Seus olhos vermelhos, profundos e hipnotizantes, fixam-se em mim, e, por um segundo, eu me sinto como se estivesse à mercê deles. Seus fios de cabelo prateado, brilhando sob a luz da lua, parecem tão macios quanto neve.
- Eu percebi que sempre que você quer proteger alguma coisa, se certifica de protegê-la bem — afirmo, com um tom suave.
Depois de um momento de silêncio, ele finalmente fala. - Você tem uma opinião muito boa sobre mim, Yelena. Eu já disse isso antes e vou repetir, o coração de um homem vai para onde está o seu tesouro.
- Onde está o seu tesouro, Sylus?
Em vez de uma resposta, ele apenas me olha por um breve segundo, como se quisesse dizer que eu já sabia a resposta daquela pergunta.
Eu continuo a observá-lo, flocos de neve começam a cair do céu, e eu noto que alguns pousam em seus cabelos prateados. Sem pensar, fico na ponta dos pés, esticando a mão para limpar os flocos, passando os dedos pelos fios macios de seu cabelo.
Sylus abaixa a cabeça, como se quisesse que eu o tocasse. Um leve sorriso surge em meus lábios. - Nesse tempo frio, até um corvo pode se transformar numa pomba.
Ele suspira com desdém. - Um corvo? Tente não ser o sujo falando do mal lavado, querida.
- O que é isso? - ouço um leve ruído, como o toque suave dos dedos na neve. Quando olho para o lado, vejo Sylus desenhando algo no corrimão que nos separa do lago. Era um gatinho fofo, com um sorriso.
- Você - sussurrou ele.
Sylus me observa com uma intensidade que me faz questionar o que exatamente ele vê em mim, e como tudo mudou entre nós desde o primeiro dia quando eu o encontrei.
- Então você não só se recusa a admitir que é um corvo, mas também desenha outra pessoa como um gato — comento, e ele apenas sorri.
- Por acaso sabe como você está neste momento? — pergunta Sylus, com zombaria. - Que olhar mais arrogante, Yelena.
- Vá se ferrar — respondo com uma careta, mas o sorriso em meus lábios não desaparece. De repente, uma ideia surge em minha mente, e vejo a neve acumulada ao nosso redor. Com um movimento rápido, lanço um pouco dela em sua direção, esperando vê-lo surpreso.
Sylus sorri. Ele se aproxima, e de forma delicada, puxa uma mecha do meu cabelo, enrolando meu fio ruivo entre seus dedos, eu sei que ele gosta de fazer isso. Uma brisa fria nos atinge, e sinto um arrepio pelo corpo, minha pele gelando imediatamente. Eu abraço a mim mesma, tentando me aquecer.
- Está com frio? — ele pergunta, com um tom de preocupação que não consigo ignorar.
- Um pouco — sussurro. Eu o observo enquanto ele tira o cachecol do próprio pescoço e, com gentileza, o enrola ao redor de mim.
- Sylus... — minha voz sai quase em um suspiro, e eu não consigo evitar a pergunta que vem à mente. - O que acontece no final da história?
Ele não responde de imediato. Olho para ele e vejo o reflexo dos fogos de artifício em seus olhos vermelhos intensos, como se estivesse considerando suas palavras. - Perséfone é a única que não tem medo de Hades, ele a levou para o Submundo porque a desejava. Mas enquanto todos o viam como um monstro vil e cruel, Perséfone o enxergou de verdade. Viu o homem por trás da escuridão. E, no fim, foi ela quem escolheu ficar.
Preciso admitir que a história é fascinante, nunca tinha ouvido falar de mitologias de forma tão pessoal. Mas, à medida que ele fala, me sinto estranhamente conectada àquela história, e percebo que há mais paralelos entre as palavras de Sylus e o que estou vivenciando agora do que eu gostaria de admitir.
Enquanto ele descreve como Perséfone enxerga a verdadeira natureza de Hades, como ela o vê não apenas como o monstro que todos temiam, mas como alguém real, com emoções e vulnerabilidades, algo dentro de mim começa a fazer sentido.
Não consigo parar de pensar em Sylus. Em como ele me olha com uma intensidade tão pura, como se, nesse instante, eu fosse a única coisa que importasse para ele nesse mundo. Seus olhos brilham de um jeito que me faz sentir como se ele estivesse me observando com uma devoção silenciosa, como se eu fosse o tesouro que ele mencionou anteriormente.
A cada gesto de carinho, a cada preocupação que ele demonstra, sinto que o vínculo entre nós cresce. Sylus está se tornando alguém importante para mim, ele me faz ver o mundo que eu costumava temer de uma nova perspectiva.
Começo a entender Perséfone, ela estava escolhendo enxergar algo além do que todos viam. E foi essa visão que a fez amar Hades, um amor que a trouxe de volta, que a fez escolher ficar, mesmo em um lugar onde ninguém acreditaria que ela poderia encontrar algo bom. Ela escolheu olhar além da superfície, ver a verdadeira essência dele — e é isso que estou começando a fazer com Sylus.
Meu coração começa a bater mais forte. Eu não esperava que esse pensamento viesse à tona, mas é inevitável. Enquanto ele continua falando, tudo o que consigo fazer é olhar para ele, cada pequeno detalhe.
"Sylus, eu...
Acho que estou me apaixonando por você."
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✓ | PERSEPHONE ━ sylus.
FanfictionYelena Thorn faz parte da pequena parcela da população que possui um poder especial, também conhecido como Evol. Em 2034, a humanidade recebeu sua primeira mensagem do Espaço Profundo, uma transmissão que despertou a curiosidade pela exploração espa...
͏ ͏ ͏͏ ͏ ͏ ͏ ͏͏chapter ͏ ͏nine ͏ ͏- ͏ ͏nightplumes
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