✓ | PERSEPHONE ━ sylus.

͏ ͏ ͏͏ ͏ ͏ ͏ ͏͏chapter ͏ ͏nine ͏ ͏- ͏ ͏nightplumes

Meu olhar se estreita levemente. — Me conte mais da história verdadeira, então.

— "A jovem deusa da primavera sente que sua vida é extremamente controlada. Ela se vê sufocada pelo papel de filha perfeita, sempre associada à flores e à bondade, sem ter liberdade para explorar outras facetas de sua existência.

Com o tempo, Perséfone começa a se interessar pelo Submundo, um lugar proibido para ela. Hades, o deus que governa esse reino, é visto pelos outros como um homem cruel, vingativo e portador de todo o mal existente no mundo. Todos têm medo dele.

Quando Perséfone finalmente desce ao Submundo, ela encontra não um reino de sofrimento absoluto, mas um domínio que pode chamar de lar. Ali, ela descobre seu verdadeiro poder – não apenas como deusa da primavera, mas também como uma soberana que pode equilibrar luz e trevas."

— E no final? Perséfone se apaixona por Hades e eles vivem felizes para sempre? - zombo, arqueando uma sobrancelha.

Sylus sorri — aquele sorriso enigmático que nunca revela seus pensamentos. Ele se levanta do sofá, segurando a ave, então dá alguns passos em direção ao corredor, mas para antes de desaparecer completamente, me lança um último olhar.

— Eles percebem que não vivem um sem o outro… Mas o resto da história eu deixo para depois, Yelena.

E então ele some no corredor.

[...]

OS DIAS haviam passado mais rápido do que eu poderia ter imaginado, e com o tempo, a pomba que antes estava frágil e pequena se tornara uma ave forte e saudável.

Sua plumagem agora era tão branca quanto a neve que caía ao nosso redor, e ela parecia ansiosa para retomar sua liberdade, alçando voo com os pequenos batimentos de suas asas e na companhia de Mephisto, o corvo.

No entanto, o tempo com Sylus não fora fácil. Durante esses dias, passamos horas em disputa constante sobre o que seria melhor para a ave. Mas, agora, chegara o dia de devolver a pomba à natureza.

A praça onde a encontramos, perto do rio que serpenteava pela Zona N109, seria o local perfeito. A noite estava fria. O vento cortante fazia a neve cair sobre o meu casaco. Eu os afasto com um movimento brusco, saindo do banco traseiro da motocicleta de Sylus.

Ele estava à minha frente, silencioso, com a pombinha branca aninhada em minha mão, mais animada do que nunca. Seus olhos curiosos percorriam a paisagem à nossa frente, vendo o rio, a praça silenciosa e as luzes que iluminavam a cidade vazia.

A pomba em minha mão solta um arrulho suave, e eu sorri, nostálgica pela jornada que ela havia passado. — Será que todas as aves treinadas por você acabam assim tão tristes?

Sylus pareceu surpreso com minha pergunta. Seus olhos fixaram-se em mim por um longo momento. Por um segundo, ele pareceu perdido em pensamentos, mas logo ele se recompôs, um sorriso quase imperceptível brincando em seus lábios. — Agora estou curioso sobre como você me vê.

— Tem certeza que quer saber? Eu posso te contar — respondi com um ar provocativo, e no fundo, eu me divertia com essa dinâmica entre nós. Esse jogo de palavras, esse flerte sutil que se escondia sob nossas interações. — Eu acho que você é um líder implacável, cruel e impiedoso da Onychinus.

Ele revirou os olhos, como se não fosse nada novo para ele, mas, ao mesmo tempo, não conseguia esconder um toque de diversão na expressão. — Então por que você deixaria uma pessoa assim te ajudar a cuidar de uma pomba?

— Eu não sei. Talvez eu goste de viver no limite — murmurei, mais para mim mesma do que para ele.

Às vezes, ele me confundia tanto que eu mal sabia se o odiava ou se ele, de alguma forma, se tornava indispensável para mim. Por outro lado, eu nunca realmente parei para pensar sobre o que acho dele em particular. O que ele significava para mim, ou até mesmo o que suas atitudes poderiam estar tentando dizer.