Antes que eu possa protestar, suas sombras me empurram para o banco da moto. O movimento é tão rápido que mal tenho tempo de reagir, e ele acelera de uma vez o veículo. Quando me ajusto no banco, fico surpresa ao perceber que agora estou segurando seu tronco.
- Não tem limite de velocidade nesse lugar?! - minha voz soa mais irritada do que eu esperava, mas faço um esforço tremendo para me manter equilibrada, os ventos cortando meu rosto enquanto ele acelera.
Sylus permanece em completo silêncio durante todo o trajeto, e é impossível não reparar na paisagem que passa diante de mim. O lugar parece sombrio, nenhuma alma à vista, ruas vazias e lojas fechadas. Quando finalmente paramos, ele estaciona a moto diante de um armazém mal iluminado. Desço da moto, ainda um pouco atordoada com a velocidade, Sylus guarda meu capacete e, com uma voz baixa, diz:
- Se você quiser ficar longe de problemas, comporte-se lá dentro.
Por um momento, fico tentada a desafiá-lo, testar até onde ele está disposto a me deixar ir. - E se eu recusar?
A resposta de Sylus vem como um raio. As sombras se movem, se enroscam ao meu redor, me causando dor tão aguda que me obriga a desistir. - Tudo bem, eu vou me comportar! - minha voz vacila.
Ele sorri de forma sutil. - Boa garota.
Sylus se vira e começa a caminhar em direção à entrada do armazém, seus passos largos e rápidos, e eu me vejo tentando acompanhar o ritmo. Sua altura e postura imponente tornam difícil até de ver o que está à frente de mim. O portão se abre com um estrondo suave, e o som ecoa pelo armazém.
Ao contrário da aparência de decadência do lado de fora, o interior é um contraste absoluto: uma grande sala cheia de tecnologia de ponta, monitores piscando informações em uma série de telas, e mesas de trabalho espalhadas com diversos dispositivos e ferramentas organizadas.
De repente, uma voz masculina quebra o silêncio. - Sr. Sylus? Você não costuma fazer visitas surpresas - um homem baixo, mais velho, com um jaleco de mecânico e lentes grossas de óculos, surge de trás de uma das mesas.
Sylus se senta em uma cadeira, como se estivesse em sua própria casa, e começa a girar uma lâmina afiada entre os dedos, parecendo distraído, mas com os olhos fixos em mim. - Tenho uma cobaia para você, Joe. É hora do seu projeto de Alteração de Ligação Evol ter um sujeito vivo para o teste.
Eu congelo no lugar, meus olhos se arregalam ao ouvir aquilo. Olho para os dois homens, meu coração começa a acelerar. Dou um passo para trás instintivamente, mas as sombras de Sylus se estendem e bloqueiam a única saída.
- Espera... Você quer me alterar?! - minha voz sai trêmula.
- Nesse caso, eu preciso examiná-la - diz Joe, com um tom suave, quase amigável. Ele aponta para uma cadeira de couro estofado, mais sofisticada do que qualquer coisa que já vi.
Sem muita escolha, me sento na poltrona, tentando manter a calma. Um suspiro escapa dos meus lábios, e tento não olhar diretamente para Sylus, que ainda permanece em silêncio, mas seus olhos estão sobre mim, me observando. Sinto um calafrio subir pela minha nuca.
Eu respiro fundo e olho para Joe, tentando entender o que ele vê em mim. Ele está analisando as informações no monitor ao lado, totalmente focado em sua tarefa, como se isso fosse apenas mais um dia normal para ele. - Senhor, você não vai realmente me alterar, né?
Joe suspira, como se já soubesse o que eu diria. - Tentar negociar comigo é inútil. Ninguém consegue mudar a opinião dele... Você tem o Evol de ressonância?
Assinto com a cabeça, meu olhar fixo no chão, sem coragem de encará-lo de volta. Sylus gira na cadeira que esta sentado, com uma expressão entediada. - Eles fizeram alguma coisa enquanto eu estava fora?
- Nada muito dramático. Apenas duas explosões: uma nos subúrbios ao norte e outra no Distrito de Bloomshore - diz Joe com um ar de desinteresse. Meus olhos se arregalam e eu fico completamente imóvel ao ouvir o nome. O mesmo lugar onde houve a explosão que atingiu a casa da minha família.
Sylus revira os olhos com impaciência, claramente desinteressado pelos detalhes. - Eles fizeram um monte de produtos de má qualidade. Eu os superestimei.
Joe, ainda olhando para o monitor, concorda com a cabeça. - E depois de fazer aquelas coisas vergonhosas e muita bagunça, eles querem que você seja o bode expiatório deles.
- Do que você está falando? Foi outra pessoa que fez essas duas explosões acontecerem? - pergunto, meu coração batendo mais rápido.
- Querida, você parece desapontada - Sylus faz uma pausa, seus olhos se fixando nos meus com intensidade. - Em vez de procurar a verdade, você prefere engolir uma mentira que te faça se sentir melhor.
A cadeira onde estou sentada desliga com um estalo suave, e Joe observa os monitores, parecendo avaliar algo. - Receio que ela não seja uma destinatária adequada. A ligação Evol dela está completamente normal. Só a força foi suprimida.
Eu observo Sylus se levantar da cadeira, ele se aproxima de mim com passos lentos. Me pergunto o motivo dele passar tanto tempo me olhando dessa forma, como se eu fosse uma imagem que ele quisesse memorizar em sua mente.
- Não é minha culpa. Eu consigo ressoar muito bem com os outros - minha voz sai mais firme do que eu esperava, enquanto tento disfarçar meu nervosismo.
- Sr. Sylus, acho que tem outro motivo pelo qual ela não consegue ressoar com você - diz Joe. - O Evol dela é especial. Ele utiliza as ondas geradas pelo campo magnético do cérebro humano. Talvez ela esteja produzindo ondas repulsivas contra você por ter medo.
Sylus solta um suspiro longo. Seu olhar penetra em minha alma, e por um momento, o tempo parece desacelerar. Por alguns segundos que se estendem como uma eternidade, ele não diz uma palavra. Então, sem aviso, ele se afasta, indo até a outra mesa.
- Eu vou buscar um estabilizador - diz Joe, quebrando o silêncio. Ele volta com um dispositivo eletrônico empoeirado debaixo do braço. - A Zona N109 está uma bagunça agora. Uma estranha como você, que não está familiarizada com os detalhes, pode facilmente perder a vida. Ficar com o Sylus pode não ser uma má ideia.
Eu o olho com desconfiança, sem me deixar convencer pelas suas palavras. - Sylus é um homem sem coração. Ele pode só querer me alterar agora, mas um dia vai acabar me matando.
Joe balança a cabeça, visivelmente horrorizado com a ideia. - Você só não está acostumada com a escuridão ainda. Existem predadores à espreita nessas profundezas que você nunca viu.
- Algumas pessoas são ainda mais assustadoras que ele?
Joe sorri levemente, mas o gesto não alcança seus olhos. - Você pensa que Sylus é um monstro vil e cruel, mas às vezes aqueles que têm coração são ainda mais cruéis do que aqueles que não têm.
A preocupação dele parece sincera. Um sorriso quase imperceptível aparece em meu rosto, na tentativa de tranquilizá-lo.
- Vou pensar sobre isso.
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✓ | PERSEPHONE ━ sylus.
FanfictionYelena Thorn faz parte da pequena parcela da população que possui um poder especial, também conhecido como Evol. Em 2034, a humanidade recebeu sua primeira mensagem do Espaço Profundo, uma transmissão que despertou a curiosidade pela exploração espa...
͏ ͏ ͏͏ ͏ ͏ ͏ ͏͏chapter ͏ ͏six ͏ ͏- ͏ ͏ambiguous chaos
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