͏ ͏ ͏͏ ͏ ͏ ͏ ͏͏chapter ͏ ͏six ͏ ͏- ͏ ͏ambiguous chaos

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Ofego, minha mente tentando processar o que acabei de testemunhar. O céu agora tem uma tonalidade rubra, a lua é um círculo escarlate que derrama uma luz de sangue sobre nós. Ao longe, um sino toca uma única badalada, e então veio o silêncio absoluto.

Há um homem em cima de uma cripta, sua presença imponente e quase divina. A silhueta é bem alta e esguia, ele estende a mão como se estivesse manipulando a escuridão ao seu redor e o ambiente parece curvar-se à sua vontade.

Ele se aproxima da borda da cripta e então, sem hesitar, se joga para a queda. Não há qualquer tipo de emoção que transpareça em sua postura. Seu corpo desaparece em um redemoinho de sombras, envolvendo-se em escuridão, até que ele surge diante de mim.

- Acabe com os vermes que ainda estão à solta - o homem ordena em voz baixa, mas profunda. Há um corvo empoleirado em seu ombro, e como se entendesse cada palavra, grasna em resposta e voa para longe, desaparecendo na noite.

Os olhos do homem se voltam para mim, a atenção conquistada. Agora, sob a luz da lua sangrenta, consigo ver sua aparência com mais clareza.

Seus cabelos prateados são curtos, levemente espetados nas pontas. Ele usa um traje social preto, ajustado ao seu corpo esguio e musculoso, destacando sua postura imponente. Suas feições me lembram uma escultura renascentista de uma perfeição que beira o irreal. É como se ele não pertencesse a este mundo, e fosse a própria personificação da morte ou do caos.

E seus olhos...

Aqueles olhos vermelhos brilham em um tom tão intenso de vermelho que me lembram uma poça de sangue na qual você pode se afogar se olhar por tempo demais. Aquele olhar me prende, me chama para dentro dele, como se não pudesse escapar.

Meu corpo se congela involuntariamente quando ele se aproxima. "Então ele é o chefe da Onychinus?", penso.

Sylus para em minha frente, sua cabeça se curva ligeiramente para o lado, como se estivesse me observando com uma curiosidade fria e calculista. Ele me analisa de cima a baixo, como se procurasse algo em mim, algo que ele já conhecesse ou que fosse de seu interesse.

- Você também está aqui por causa do Núcleo de Éter, certo? - pergunto, minha voz saindo mais baixa do que eu gostaria.

Ele se agacha lentamente até ficar na minha altura, nossos rostos estão tão próximos que posso sentir a sua respiração quente, fazendo a tensão no ar crescer.

- Mesmo que você queira vender sua alma, ainda terá que encontrar alguém que possa pagar o preço - afirmou Sylus.

Surpresa, olho para as amarras que somem de meus pulsos. Minhas mãos estão livres, e eu massageio-as de forma instintiva. Aquela voz... Ela parece familiar, mas não consigo identificar de onde.

Sylus estende a mão e segura meu queixo com uma delicadeza inesperada, forçando-me a olhar para ele. Seu toque é frio, e eu sou incapaz de desviar os olhos dos seus, que agora brilham em um tom ainda mais intenso de vermelho.

"Possua ele."

"Devore ele."

A voz em minha mente é um sussurro, como uma tentação irresistível. Minha visão lampeja. Por um breve segundo, vejo minha própria mão manchada de sangue, o vermelho profundo e espesso que escorre por meus dedos. A dor na minha cabeça é insuportável, minha visão se distorce, e eu mal posso distinguir o que é real e o que é ilusão. Tudo o que eu sei é que olhar para Sylus só aumenta essa sensação de perda de controle.

"O poder que você sempre sonhou. Apenas... Mate ele."

Ofego, enquanto tento desviar o olhar, mas a voz não sai da minha mente. Minha respiração está trêmula, e meu corpo inteiro treme de uma maneira que não posso explicar. Vejo uma adaga no chão, e minha reação é instintiva. Eu a pego rapidamente, sentindo o metal frio em minhas mãos, e sem pensar, tento atacá-lo. Mas, antes que a lâmina atinja seu rosto, uma sombra se enrola em minha mão, parando minha ação antes que eu consiga causar qualquer dano.

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