͏ ͏ ͏͏ ͏ ͏ ͏ ͏͏chapter ͏ ͏four ͏ ͏- ͏ ͏red sea

Start from the beginning
                                        

Ele olha por cima do ombro com desinteresse. - Ah, pedras de coral. Rafayel usa elas em sua pintura.

Levanto da cadeira e caminho até o mostruário, vejo que algumas são de um vermelho vibrante, quase como sangue. Eu pego uma e tenho a certeza de que isso é a responsável pelas alucinações. - Posso levá-la comigo quando eu for encontrar o Rafayel?

- Claro.

Thomas vai até a janela com venezianas e as abre, clareando o ambiente do escritório. Lá fora há lindas paisagens até onde a vista alcança, e olho para onde ele está apontando. Ao longe há uma linda estrutura de marfim que se estende em direção ao mar. - Visite a casa branca ali na Baía Whitesand, é onde ele mora.

O homem me dá mais alguns avisos antes de ir, sobre como apressar Rafayel com os trabalhos e que a porta de entrada da casa dele sempre está aberta por conta de sua falta de atenção, então finalmente saio da galeria.

Com a minha moto, são poucos minutos até chegar na mansão de Rafayel, uma casa extensa e cheia de jardins decorativos. Depois de estacionar na rua da vizinhança tranquila, empurro o portão de ferro da entrada, que estava mesmo aberto como Thomas havia avisado.

A primeira coisa que vejo é um grande salão bem iluminado. Há vasos de plantas em cada canto, livros jogados no chão, almofadas espalhadas pelo sofá, e telas na parede, pintadas ou em processo de montagem.

Rafayel está sentado no topo de uma escada, concentrado em sua pintura. Está usando simples calças pretas sociais e uma blusa branca, descalço, enquanto tem um suporte de tintas na mão e na outra há um pincel, onde pinta uma enorme tela.

Ele está fazendo uma curiosa mistura de tons azuis, pensando e analisando meticulosamente o que está criando, até um sorriso satisfeito surgir no próprio rosto e continuar o que estava fazendo.

Parece que o homem ainda não havia notado minha presença, e me aproximo com cautela, observando seu trabalho com certa admiração. O silêncio é quebrado quando eu tropeço em um vaso com pincéis perto da escada.

- Quem é? O estúdio está fechado - ele diz, sem tirar os olhos da tela, com uma postura concentrada. E então se vira para mim, surpreso ao me reconhecer. - Espere, você é a Caçadora de antes, não é?

Seu corpo tomba para o lado, fazendo a escada tremer, e Rafayel grita para que eu saia da frente, mas é tudo muito rápido antes que consiga reagir devidamente. Seu corpo alto cai em cima do meu, e praguejo de dor na mesma hora quando estamos no chão frio e duro da sala.

Seus orbes de tonalidade azul e rosa me encaram intensamente, em silêncio, e me dou conta de que Rafayel ainda permanece em cima de mim durante aqueles minutos, próximos o suficiente para que eu sinta sua suave respiração em minha pele.

Decido inverter nossas posições e fico em cima do homem, segurando seus braços para trás em uma posição de imobilização. - Solta! - ele exclama pelo desconforto que sente, até que finalmente saio de cima dele.

Rafayel bufa ao levantar do chão, um pouco irritado, então senta no sofá e pega uma xícara de chá que estava na mesa de centro. - Eu realmente não sei dizer se é destino ou karma ruim nos encontrarmos novamente te depois de dois dias. De qualquer forma, você está aqui para ver como o peixe está, não é?

Fico um tanto irritada com seu tom sarcástico. - Sabe que eu sou uma Caçadora. Estou aqui para lidar com o problema do Wanderer.

- Oh - ele suspira de forma dramática, com a xícara nas mãos. - Eu não tinha ideia de que havia algo tão perigoso no estúdio. Thomas te mandou, né?

- Sabe onde o Wanderer está?

- Eu não sou um animal que consegue usar os ouvidos para localizar uma presa - Rafayel deu de ombros, com uma postura relaxada. - De qualquer forma, eles tão por toda parte, literalmente. Até ouvi dizer que tem um monstro que é meio parecido com um limão. Estou errado?

O homem apoia um braço nas pernas cruzadas e continua falando sem parar, o eco de sua voz se torna apenas um som distante. Pego a pedra coral do meu bolso e mostro a ele, interrompendo seu falatório. - Além de pedras, você usa alguma outra coisa que é estranha?

Rafayel dá outro breve gole em seu chá. - Bem, nada é estranho se você conseguir tirar cor disso.

- Isso é importante, caso você não tenha percebido - retruco. Estou começando a perceber como será difícil arrancar alguma informação valiosa desse pintor.

- Bandagens de múmia contam? Diferentes processos de refinamento não produzem necessariamente o mesmo tom de marrom.

- Não foi isso o que eu quis dizer.

Ele boceja, exibindo um olhar de tédio. - Você faz tantas perguntas, mas não está aqui para resolver meus problemas, está? Eu só usei este lote de pigmento de pedra coral para uma pintura.

- Então você sabia sobre o Raymond - concluo, com um tom acusatório. - O comportamento estranho dele está relacionado a você.

Rafayel ri. - Que tipo de lógica distorcida é essa? Eu também sou uma vítima. Além disso, aquela pedra coral é minha. Dê ela para mim, agora...

Ele estende a mão, movendo os dedos como se quisesse que eu devolvesse logo a pedra coral, mas mudo de ideia e me afasto para trás no sofá. - Você não vai me contar a verdade, vai? Se isso causar mais problemas, não será só eu na próxima vez.

Decidida a ir embora, me levanto e vou até a porta da sala, mentalmente contando os segundos que leva até o pintor mudar de ideia. Ouço um suspiro atrás de mim, e fico feliz que ele não possa ver meu sorriso vitorioso naquele momento.

- Sério, uma Caçadora só pode ser paciente por três minutos? Eu não terminei de falar - Rafayel também fica de pé e anda em minha direção. Ele invoca uma adaga coberta em luz vermelha e quente que surge em sua mão. - Deixa eu verificar primeiro. Também gostaria de saber se o problema é a pedra coral.

Ele fura a ponta do próprio dedo, e uma única gota de seu sangue cai em cima da pedra na minha mão, que solta uma fumaça após o breve contato. Acima de meu braço, surge uma energia cintilante e azul como o mar, no qual um peixe nadava com alegria. - Ilusões...

- Bem, isso explica por que eu comecei a ouvir coisas logo depois de cortar o dedo com o papel - murmurou Rafayel.

Meu bracelete apita, avisando que há flutuações de energia ao redor. - Vejo que esta pedra coral está imbuída com algum tipo de Metaflux. Onde você conseguiu ela?

- Não lembro - ele se vira e começa a procurar por alguns arquivos e papéis nas gavetas dos móveis,  até achar um pequeno bloco em especial. - Quer verificar meus registros de coleta?

Tento pegar o caderno azul de suas mãos, mas Rafayel sorri e dá um passo para trás, se afastando de mim. - Não vou dar isso pra você de graça.

Um suspiro de irritação escapa dos meus lábios quando entendo o que vem a seguir, e cruzo os braços. - O que você quer?

- Seja minha guarda-costas. Me proteja em nossa jornada juntos, e se encontramos uma alternativa, ficarei feliz em te dar o que está em minhas mãos agora - Rafayel me encara, e seus olhos pareciam cintilar em minha direção. - O que acha?

Olho para a pedra coral vermelha em minha mão. Aquela missão era muito importante, e não tenho escolha a não ser entrar no jogo dele, pelo menos por enquanto.

- Tudo bem, eu faço isso - digo com seriedade, e aponto um dedo em sua direção. - Mas não abuse da sorte.

- Ótimo, eu te aviso a hora e o local - Rafayel ri e volta a se aproximar de mim, tocando em minhas mãos para fechar nossos dedos juntos com a pedra coral. - Minha segurança está em suas mãos agora, Yelena Thorn.

✓ | PERSEPHONE ━ sylus.Where stories live. Discover now