Capítulo 44 - A Primeira Vez

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Justin me encarava em silêncio, parecendo ainda assimilar o que eu acabara de pedir. Eu sei que foi estranho de minha parte, e eu ainda estou tremendo por ter conseguido verbalizar o meu pedido um tanto descabido, mas ele devia mesmo estar me olhando daquele jeito como se eu fosse um ser de outro planeta? Bieber não se movia. Ele simplesmente continuava a segurar sua taça de vinho e me encarava quase sem piscar. A única certeza que eu tinha que ele ainda estava vivo vinha de sua respiração. Seu peito subia e descia de forma lenta, então, posso afirmar que estava tudo bem com ele e não precisaria chamar uma ambulância. Tive vontade de estalar os dedos em seu rosto para que ele acordasse, mas não foi necessário. Ele balançou a cabeça e em seguida me olhou surpreso.

- Será que eu ouvi certo? Porque acho que minha mente e ouvidos estão inventando coisas... – ri de seu comentário, e me aproximei, pegando a taça de suas mãos.

Levantei-me e coloquei a minha taça junto a dele sobre os tijolos da lareira. Sentei-me sobre o tapete fofo novamente, mas um pouco mais próximo de Justin. Cruzei minhas pernas e entrelacei minhas mãos, olhando para as mesmas sobre meu colo.

- Sabe... Eu venho pensando muito sobre isso e em como eu quase me deixei levar por Henry Carter. Só de pensar que eu cogitei a ideia de entregar minha virgindade a ele, eu tenho vontade de me bater e de me xingar até que eu não tenha mais voz. – soltei uma risada fraca. – Então, aconteceu o que tinha que acontecer e eu abri os meus olhos. Até aquele momento, meus olhos estavam fechados para tudo e eu somente enxergava Henry Carter a minha frente, como se ele fosse o homem ideal, o cara perfeito, que agora eu sei que ele não é... – suspirei, ainda olhando para minhas mãos. Eu não sabia o que fazer com elas por causa de tanto nervosismo. Eu não sabia se as entrelaçava ou se as deixava livres sobre meu colo ou se até as levava aos meus cabelos, mexendo nos fios. – Mas o que importa é que eu finalmente abri os meus olhos e percebi que eu estava me enganando durante todo aquele tempo, durante todos aqueles anos. Eu sei que fui uma boba, sei que fui ingênua e até desligada demais por não perceber quem estava ao meu lado o tempo todo. Eu tinha uma pessoa que se preocupava comigo, vivendo sob o mesmo teto, e eu não conseguia enxergar isso. – meus olhos encheram-se de lágrimas e dei uma pequena pausa.

- Elizabeth... – Justin soprou meu nome, mas eu balancei a cabeça em negação.

- Não, por favor, deixe-me falar. – pedi e ele voltou a se silenciar. – Eu fui tola o suficiente para te provocar com as coisas que aconteciam entre mim e Henry. Fui estúpida o suficiente para negar a mim mesma a atração que eu sentia por você desde praticamente o momento em que você pisou no meu apartamento pela primeira vez. Eu acho que a forma de encobrir o que eu sentia era sendo grossa e bruta com você. Desculpe-me, mas esse foi o meu jeito de enfrentar a situação... Eu só quero te pedir desculpas por tudo que eu fiz de errado, pelas acusações, pelas pequenas discussões sobre ninguém nunca me amar, por te obrigar a me escutar enquanto eu dava meus surtos... Eu peço desculpas por ter sido tão ingênua, por ter sido tão... Patética.

Fiz uma breve pausa novamente e senti que Justin queria se pronunciar, mas eu não deixei. Estendi minha mão até a sua e a peguei, fazendo pequenos círculos com meu dedo indicador nas costas da mesma, para demonstrar o carinho que eu sentia por aquele homem que estava parado à minha frente, mais uma vez escutando tudo que eu tinha para dizer. A maior parte do tempo, eu era a psicóloga... Mas naquele momento e por muitas vezes, Justin é que era o meu real psicólogo, e ele agia assim sem nem ao menos perceber. Acredito que ele me ajudou sem nem ao menos se dar conta. E o que ele fizera por mim, foi de longe a coisa mais valiosa que alguém poderia ter feito: ajudou-me a me encontrar. Ajudou-me a me libertar.

Justin me ensinou que eu não precisava mudar o meu jeito, a minha forma de me vestir, de andar ou até de comer para atrair alguém. Ele simplesmente sentiu-se atraído pela pessoa que eu era. Lembrando-me de suas palavras, eu acabei reprimindo minhas lágrimas. Eu não queria chorar agora.

O Hóspede (Reescrevendo)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora