Isabely: o desequilíbrio

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A confeitaria estava banhada pela luz suave da manhã, o cheiro do café fresco misturava-se com o aroma adocicado das guloseimas recémpreparadas. Isabely movia-se com determinação, a vassoura varrendo o chão enquanto ela se preparava para reabrir o local em breve. Era um momento de renovação e esperança, até que a atmosfera foi interrompida pela entrada de Henrique, cujo semblante carregava uma aura de melancolia. 

_ O que aconteceu? Ela perguntou, com os olhos expressando preocupação. 

Henrique se sentou pesadamente em uma cadeira, olhando para o nada por um momento antes de responder. _ Meus pais... eles morreram na prisão. Mataram eles, sua voz tremia com a dor e a revolta. 

Isabely sentiu um misto de sentimentos, um turbilhão de alegria por uma vingança realizada e tristeza pela dor de Henrique. _ Sabem quem são os culpados? 

Henrique balançou a cabeça, os olhos marejados. "Ainda estão investigando." 

Nesse momento, Giovanni adentrou a confeitaria, seu sorriso contrastando fortemente com o clima pesado. _ Bom dia, pessoal! Como estão? 

Henrique súplica ajuda a Giovanni para descobrir quem matou seus pais.
Giovanni arqueou uma sobrancelha, sua expressão mudando para uma calma calculada. "Ah, sem problemas." 

Henrique se levantou abruptamente, sua voz carregada de emoção. _ Sério? Você vai me ajudar? 

O sorriso de Giovanni se alargou. "Claro, afinal, fomos nós que executamos eles." A revelação foi como um golpe no estômago para todos na sala. Isabely olhou incrédula de Giovanni para Henrique, incapaz de articular qualquer palavra. 

Henrique, por sua vez, reagiu com fúria contida. _ Vocês... vocês fizeram isso?! 

Giovanni manteve a calma, desviando habilmente das acusações de Henrique.
_ Relaxe, amigo. Não vale a pena se estressar com isso. Estou apenas agradecendo pela cooperação de vocês. Respondeu com um sorriso sarcástico. 

O ar na confeitaria se tornou pesado, impregnado com a tensão crescente entre Henrique e Giovanni. O olhar furioso de Henrique encontrou o sorriso irônico de Giovanni, e em um movimento rápido, Henrique se levantou da cadeira com um rugido de raiva contida. Com um impulso brusco, ele avançou em direção a Giovanni, seus punhos cerrados em determinação. Isabely assistia horrorizada, sua mão cobrindo a boca em choque. 

O confronto físico foi rápido e intenso. Henrique lançou uma série de golpes, sua fúria impulsionando cada movimento. No entanto, Giovanni demonstrou uma habilidade surpreendente em esquivar-se dos ataques, seus reflexos afiados como lâminas. 

Finalmente, em um movimento calculado, Giovanni encontrou uma brecha na defesa de Henrique. Com um movimento fluido, ele desviou de um golpe e usou a força de Henrique contra ele, derrubando-o no chão com um movimento preciso. 

O impacto foi audível na sala silenciosa. Henrique se viu no chão, a respiração ofegante, sua raiva agora misturada com uma sensação de derrota. Giovanni permaneceu de pé, sua expressão impassível enquanto olhava para Henrique caído. 

_ Foi o suficiente, disse Giovanni, sua voz tranquila contrastando com a agitação anterior. _ Não quero causar mais intriga entre nós. E se retira do estabelecimento. 

Isabely correu para ajudar Henrique a se levantar, seu coração partido pela dor e confusão que se desenrolaram diante dela. O confronto físico tinha terminado, mas as cicatrizes emocionais estavam apenas começando a se formar. 

_ Eu... eu levei meus pais para a morte, murmurou Henrique, a voz embargada pelo peso do arrependimento e da tristeza. 

Isabely sentiu um nó se formar em sua garganta enquanto tentava encontrar as palavras certas para confortar seu amado. _ Vai que esse era o melhor a se fazer, não sabemos, ela sugeriu, buscando uma explicação plausível para uma situação tão devastadora. 

A resposta de Henrique veio carregada de angústia e incredulidade. _ Melhor? Como isso é melhor? Isso só mostra que somos tão horríveis quanto eles foram! Exclamou ele, os olhos cheios de lágrimas contendo uma mistura de raiva e desespero. 

Isabely estendeu a mão para tocar o ombro de Henrique, mas ele se afastou abruptamente. Isabely até o momento, não conseguia sentir aquela tristeza, não conseguia compreender, para ela o certo foi feito.
_ Desculpa, Henrique. Eu não compartilho da sua opinião, ela disse, sentido confusa pelo Henrique. _ Eu até entendo por você ser filho, mas e tudo o que eles fizeram a você? Você tinha ódio deles, mas agora está assim! 

A expressão de Henrique endureceu, uma máscara de dor e determinação se formando em seu rosto. _ Como já disse, não quero me tornar o que eles são. Tudo o que eles fizeram comigo não justifica eu tirar a vida de ninguém, afirmou ele com firmeza, mas sua voz tremia de emoção contida. _ Mas pelo visto, você não tem o mesmo pensamento. 
_ No fundo estou feliz mesmo, meu pai morreu pelas mãos deles. Desculpa, mas eu não consigo sentir remorso por isso. 

Henrique olha para Isabely por alguns segundos, como se tivesse tentando reconhecer aquela pessoa que estava bem na sua frente. Seus olhos começaram a lacrimejar, e isso pesou na consciência da jovem, em silêncio Henrique saiu da confeitaria sem olhar para trás. 
_ Não..., sussurrou Isabely, mas as palavras se perderam no ar. Ela caiu de joelhos no chão, o coração apertado de remorso e pesar, "novamente decepcionei ele, mas uma vez toquei suas feridas e não me importei com elas", penso. 

Chorando pensei em todas as coisas que já fiz e pensei contra os outros, e a morte dos pais de Henrique começou a pesar, sabia que fomos usados para isso, não estava planejando esse fim trágico. De repente sinto-me cúmplice daquilo, a alegria que sentia se tornou desgosto e remorso por mim mesma pelo que falei a Henrique e pela alegria momentânea do falecimento dos pais dele. 

Ela passou dias e noites refletindo sobre suas palavras e ações, arrependida pela maneira como as coisas tinham se desenrolado. 

Finalmente, após reunir coragem, Isabely decidiu escrever uma carta para Henrique, expressando seus sentimentos e pedindo perdão por qualquer dor ou mágoa que ela possa ter causado. Ela colocou suas emoções mais sinceras nas palavras, revelando sua angústia e remorso pela situação. 

No entanto, apesar de enviar a carta com esperanças de uma reconciliação, os dias se transformaram em semanas sem resposta. Henrique permaneceu em silêncio, deixando Isabely com o peso da culpa e a incerteza sobre o futuro dessa relação. 

O perdão de Henrique tornou-se uma esperança distante, uma oportunidade perdida que Isabely lamentou profundamente.

Laços de canção Where stories live. Discover now