Henrique: é ela!

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Eu estava lá, no meio da multidão, perdido em pensamentos enquanto observava as pessoas ao meu redor. Meu olhar vagueava pelos rostos desconhecidos e alguns conhecidos, mas algo estava diferente naquele dia. Havia uma mistura de antecipação e nervosismo em meu coração, como se algo extraordinário estivesse prestes a acontecer. 
Foi então que meus olhos encontraram os dela, uma moça cuja imagem eu conhecia, mas não conseguia colocar o dedo exatamente onde. Um lampejo de reconhecimento cruzou seus olhares, como se eles compartilhassem um segredo que só o universo conhecia, e é quando me dou conta que era ela. 
Ele se aproximou, decidido a quebrar a distância que envolver ambos. No entanto, a moça pareceu se esconder dele. 
Sem muitas ideias, decide conversar com a senhorita que estava acompanhando ela. 
_ Olá, boa tarde. Creio que são da "Estrela de um sonho ", presumo, você é a encarregada?
A jovem acena negativo com a cabeça_ Sou ajudante da encarregada, a responsável é aquela moça na frente da Van. Fala apontando para mulher. 
Meu olhar segue rapidamente a direção apontada, como se eu necessitasse vê-la. 
_ Hum, ah, olá... falou timidamente, expressando graciosamente um sorriso sem graça. 
_ o-oi, vim ajudá-las com o despacho das mercadorias, por favor me acompanhem. Acabo tentando controlar a timidez, que em mim batalhava para aparecer, enquanto me dirigia a ela.
Quando tudo foi concluído, peço a moça para receber o pagamento seguindo meus passos.
As palavras pareciam fugir da minha mente. A timidez tomou conta de mim, e por um momento, me vi incapaz de articular qualquer coisa coerente. 
Ela também pareceu inquieta ao vê-lo. Seus olhos expressaram uma mistura de confusão e curiosidade, como se ela estivesse tentando conectar os pontos entre algo distante e a realidade. O tempo pareceu congelar enquanto eles caminhavam, ambos hesitantes sobre como iniciar a conversa.
Finalmente, ela quebrou o silêncio, um sorriso nervoso se formando em seus lábios. - Experimente um desses, como forma de agradecimento por nos ajudar.  Sugeriu, pego o doce feliz e agradecido.  Quando dou a primeira mordida o sabor se espalha em meu paladar e sensações incríveis me invadem, e uma onda de lembranças daquele sonho preencham meus pensamentos, e sentir a necessidade de dizer as seguintes palavras:
_ Eu acho que sonhei com você.
Falei esperando angustiado uma resposta, será que ela me acharia louco? Um tarado? Me encontrei desesperado e esperançoso ao mesmo tempo, quando de repente ela abre um sorriso.  Não um sorriso qualquer, é o sorriso mais brilhante e doce que já vi.
A partir desse momento, a tensão inicial começou a se dissipar. Eles compartilhavam algo único, uma experiência que transcendia a realidade palpável.
Quando de repente ela diz. - Vamos trocar de números!
Algo que realmente não esperava, de início fiquei sem reação, mas logicamente aceitei feliz. Infelizmente meu horário de trabalho normal naquele entardecer estava quase iniciando e não podia mais aproveitar de sua agradável companhia,  
_ Tenho que voltar ao trabalho, aguardo ansioso por outra oportunidade para conversamos, Isabely. Dei o pagamento das entregas. 
_ Eu também, Henrique!  Falou enquanto me olhava gentilmente. 

Já de noite, apressei-me para casa para poder descansar um pouco, não conseguir aproveitar a comemoração da empresa de tão cansado que estava.
O caminho de Henrique Kook se desdobrava em sombras que se entrelaçavam aos passos incertos que o conduziam de volta para casa. O rapaz, de semblante cansado e olhar perdido, ansiava pelo conforto de sua residência, um refúgio que, naquele momento, parecia cada vez mais distante. 

Ao girar a chave na porta, o rangido familiar ecoou pela entrada, anunciando a chegada de Henrique. O ambiente, porém, estava longe de representar a segurança e o acolhimento que um lar deveria proporcionar. A atmosfera compartilhada de tensão era palpável, e a presença de seus pais, que não deveriam estar ali naquela casa, despertou um sentimento de apreensão e raiva no rapaz.
A sala estava iluminada apenas pela luz do abajur, criando sombras dançantes nas paredes que refletiam o turbilhão de emoções que poderia se desencadear. O semblante sério dos pais de Kook, embora não fosse uma novidade para o rapaz.
_ Bem... lá vamos nós de novo. Cansado tento não lutar tanto, querendo apenas terminar a situação o mais rápido possível. 
_ Que isso meu filho... falamos que voltaríamos, e cá estamos nós.
Vamos facilitar as coisas e dê um pouco de dinheiro aos seus velhos pais.
Sua voz suava sutilmente, embora seu olhar expressava desprezo e raiva naquele homem que deveria ser minha inspiração, alguém o qual deveria me moldar, meu pai.
_ Sério, vocês compram um monte de drogas sem ao menos ter a porra do dinheiro, sendo que vocês são ricos, me explica, por que isso não tem lógica. Sem pensar, falo finalmente essas palavras que estavam presas em minha garganta a muito tempo. 
_ Não é da sua conta, desde que saiu de casa, esse tipo de assunto você não deve se meter. Responde minha mãe tentando abafar as acusações. 
_ Que eu saiba, isso será um dia minha herança, tenho todo o direito de saber como anda, não?
Minha mãe solta uma gargalhada totalmente satisfeita e surpresa pela situação. _  Não... não acredito que você realmente pensa que vai receber algo. Fala em meio aos risos, expressando um semblante de superioridade e repulsa à minha pessoa.
_ Só saiam logo da minha casa, por favor! Falo já sem forças de lutar, estava com medo no que iria dar aquela conversa, na minha mocidade, em momentos assim articularam palavras e insultos com o intuito de passar por cima do meu ego e fazerem o que querem de mim, e particularmente preferia evitar isso, mas também não quero entregar o dinheiro de bandeja porquê sei que não será a última vez que vão pedir.
_ Nesses momentos percebo que você é tão inútil quanto seu irmão, querido, por favor. 
Tais palavras me cortaram como uma foice em uma plantação, fiquei imersos e atordoado, nunca tinha escutado tais palavras desde a morte de Jonathan. Me sentir furioso, abatido, mas antes que eu pudesse se quer reagir, meu pai golpeia minha cabeça me fazendo cair no chão.  Quase desmaiado pude ouvir suas palavras antes que partissem "obrigado pelo dinheiro filho patético... vamos querido"
Cansado, golpeado e sentindo minhas forças indo embora resolvo fica lá, estático, apenas deixando meu corpo afundar e fechar os olhos de forma inconsciente.
Na madrugada, os raios luminosos da lua atravessavam a janela e chegavam até o rosto do rapaz, começando a despertar e sentir suas forças voltarem, decide se sentar e tentar processar o turbilhão de informações em sua mente. Lembrava de seu irmão falecido, encontrado morto sem precedentes do ocorrido. Lembrou de sua infância conturbada, seus pais sempre agiram assim, insulta, humilhava, batia em seus filhos, mas a situação piorou desde a morte de Jonathan. 
Kook sempre achou que a morte do irmão de alguma forma abalou seus pais, por isso nunca tocavam no assunto quando o mesmo perguntava, apenas mandavam ele calar a boca ou fazer alguma tarefa.
_ O que aconteceu com você mano? ...
Levantando-se, vai em direção ao quarto e senta-se na janela apreciando a rua deserta, calma, pintada por tons cinzas, branco e preto, com uma brisa leve e fria para esfriar sua mente. 
Olhando o luar, Kook ainda se perguntando do paradeiro de seu irmão, nessa situação começa a analisar as prováveis causas, gangue? Vingança? Suicídio? O que poderia ter ocorrido? Perguntas como essa rodavam na mente do pobre rapaz que se via preste a cair em lágrimas, se sentindo sem rumo, sem um apoio, só ele e suas lágrimas, apenas ele e sua vida em desgraça. A noite de Henrique seguiu assim, até o alvorecer do dia.

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