Isabely: eu sou o que sou

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Na manhã ensolarada de um sábado, a cidade estava em agito e vibrante harmonia. Isabely vestida lindamente em um vestido florido apressava-se para uma sorveteira local de seu bairro.
Ao entra na sorveteira aconchegante e charmosa, que tinha um acabamento simples de tons pastéis e mobília branca, foi fazer o seu pedido. A jovem se senta em uma mesa frente a uma janela admirando a paisagem. A vista de uma rua movimentada, poucos transportes, mas muitos pedestres, cada um em seu mundo, em suas preocupações, chega a ser incrível pensar que cada um tem sua vida, seu jeito de ser, sendo literalmente mias uma pessoa no mundo, algo simples, mas parando para pensar, é surreal como a vida funciona e existe.
Em meio aos devaneios o pedido chega, e a atendente é uma senhora de alguns anos de experiência de vida, entregou olhando a jovem com uma expressão de desaprovação evidente. Isabely observa o olhar e, mantendo sua compostura, saboreia seu sorvete de flocos com calda de morango. 
A atendente ainda por perto, continua a observar a jovem sem mudar a expressão
_ Você deveria estar cuidando da sua saúde, em vez de comer mais doce, não acha? Sua voz soou em tom sarcástico. 
_ Ah, eu sou toda sobre equilíbrio. Um sorvete de vez em quando não faz mal a ninguém. E eu amo meus momentos de indulgência. Falo tentando soar calorosa e brincalhona, mas o que eu realmente queria era tacar uns tapas nessa senhora. 
_ Parece que você já teve muitos desses momentos...
Isabely tentou ignorar os comentários maldosos, mas a mulher não estava disposta a deixar isso passar, algo bem evidente. O clima já estava ficando tenso, as demais atendentes eram mais jovens e aparentavam temer se impor contra aquela mulher.
_ Sabe, vocês deveriam manter certos padrões. Não sei como alguém pode se sentir bem saindo de casa desse jeito. Por exemplo, alisar esse cabelo, malhar, você tem uns quilinhos a mais, mas nada que uma dieta adequada não solucione.
_ Eu me sinto incrível saindo de casa assim. A verdadeira questão é por que você se importa tanto com a minha aparência? Com raiva e envergonhada, tento dialogar de modo que a senhora desista de me perturbar e se retire, embora ela persistir em dizer palavras tão grotescas.
A mulher, incapaz de aceitar a resposta de Isabely, deixou escapar um comentário que foi a gota final. 

_ Você sabe como são vocês, sempre se destacando, chamando atenção de propósito. A galera de sua laia não consegue andar na linha e saberem onde é seu próprio lugar que merecem.
Isabely, agora percebendo o peso da situação, decidiu confrontar a mulher. 
_ Não tenho a obrigação de me esconder para tornar sua vida mais confortável. Se você não gosta do que vê, é um problema seu, não meu. Por favor, deixe-me aproveitar minha refeição em paz. 

Uma mulher, desdenhosa, tentou reforçar o comentário da atendente_ Negra crioula dessa, fazendo alvoroço no estabelecimento, cadê a gerente deste local para calar ela?
Tais palavras foram um choque, uma verdadeira ofensa em público, Isabely se sentiu desorientada e totalmente desrespeitada, segurando seu pranto decide se retirar daquele estabelecimento imediatamente. 
Durante o caminho tentando se acalmar, sentia-se fraca e impotente, ela sabia bem aquele misto de sentimentos, os mesmo que ela sentia em sua adolescência quando a mesma sofria bullying e preconceito de seus colegas de classe.
Em seu caminho, sem ter prestado atenção esbarra de leve em uma linda criança, branca de belos cachos ruivos.
_ Desculpe princesa não vi você. Antes que pudesse ajudar a pobre menina, surge sua mãe evidentemente furiosa pelo ocorrido e pronta para fazer de tudo pela sua filha.
_ Quem você pensa que é para derrubar minha filha, em? Negra dessa, ridícula, sem conduta, deveria ter mais cuidado. Talvez o meio metro de barriga tenha impedido de ver meu bebê. 
Zangada, pega a criança nos braços e se retira apressadamente. 
Fiquei imersa, tentando processar o recém ocorrido. Uma sensação desconhecida de aperto no peito começou a tomar conta dela, e suas mãos começaram a tremer quase imperceptivelmente. A cruel investida verbal reverberava em sua mente como um eco doloroso, criando um redemoinho de pensamentos autodestrutivos. Cada passo parecia mais pesado e intenso no caminho para sua casa. Em casa, corre para seu quarto, sua amada mãe, Maria, já percebeu a gravidade da situação e dirigiu-se para o quarto de sua amada filha. Na penumbra do quarto de Isabely, o eco das palavras ofensivas ainda ressoava em sua mente, como uma ferida que se recusava a cicatrizar. Isabely, havia resistido a tempestades no passado, sentia-se novamente envolvida por uma nuvem escura de incertezas. As lágrimas começaram a se acumular em seus olhos, como gotas prestes a transbordar de uma represa frágil.
Maria, atenta aos sinais da filha, aproximou-se com a serenidade de quem conhece cada contorno da alma daquele que gerou. Sentou-se ao lado da jovem, seus dedos acariciando suavemente os cabelos dela. O quarto, antes um refúgio seguro, tornou-se um campo de batalha emocional, onde as palavras seriam as armas que moldariam a resistência.
_ Querida, você é incrível meu amor, o mundo lá fora é implacável, mas você é mais forte que tudo isso! Começou Maria, sua voz uma melodia suave buscando acalmar a tempestade que rugia dentro da filha. Isabely, entre soluços contidos, lançou um olhar de súplica à mãe, como se estivesse prestes a afundar em um abismo de incertezas.
_ Mãe... não consigo pensar que alguém pode me amar sendo como sou, me sinto feia, defeituosa, um completo caos. Em meio à lágrimas e ressentimentos por si mesma diante de uma mente em rodeios de incertezas e dores. 
Maria continuou, seus olhos expressando a compreensão de uma experiência vivida. - Entenda uma coisa amor, a beleza é o pontapé para a atração, o caráter é o pontapé para o amor. Se ninguém lhe ver além da aparência, então ninguém lhe merece. Essas palavras cruéis não definem quem você é. Você é amor, coragem e beleza. Não deixe que a escuridão alheia apague a luz que brilha dentro de você.
A jovem ergueu os olhos para encontrar os de sua mãe, uma mistura de gratidão e esperança refletindo ali. Maria sorriu, um sorriso que transcendeu as palavras, um pacto silencioso de amor incondicional.
Um abraço que envolveu sentimentos, lembranças e curas tudo junto no mesmo momento. 
_ Muito obrigada mãe... você é a melhor. E seguiu-se a tarde ao anoitecer um evento caloroso entre mãe e filha. 

No chegar da noite, Isabely resolve sair para pegar um ar a conselho de sua velha mãe. 
Inquieta e ainda insegura resolve ir, para esquecer tais memórias que lhe abalaram mais cedo. Caminhei sem rumo pelas ruas movimentadas da cidade, até que me deparei com uma lanchonete aconchegante, com luzes suaves e um aroma delicioso pairando no ar. 
Ao entrar, percebi que não era a única buscando refúgio naquele lugar. Sentado em uma mesa ao canto, estava Henrique. Ele parecia tão cansado quanto eu, os ombros curvados sob o peso de um dia difícil.
Nos olhamos por um instante, reconhecendo a familiaridade do desconhecido em nossas expressões fatigadas. Decidimos compartilhar a mesa.
_ Quem diria, nos encontraríamos em tão pouco tempo. Falo risonha tentando descontrair o momento. 
_ Eu digo... chega a ser irônico. A conversa começou tímida, mas logo fluímos para desabafos sobre nossos dias desafiadores. Rimos das ironias da vida e nos identificamos com as pequenas tragédias que ela nos reserva.
_ Bem, mudando o rumo da conversa, você costuma ler algum livro? O último que li foi "Um de nós está mentindo " de Karen M. McManus. 
_ Claro, já li esse livro também, o verdadeiro assassino foi realmente bem inesperado, comum até, mas ainda assim não esperava.  Todos tinham motivos de quererem o fim de Simon de toda forma.
_ Exatamente, tipo, nossa!
Comecei me empolgando no diálogo, é incrível encontrar alguém que compartilha um gosto semelhante ao seu.
_ Nessa situação em que estamos, me recordei de uma música que encaixa perfeitamente.  Pegou o celular e começou sua busca e de repente começa a tocar "Piloto automático" da Supercombo.
Me atentei a letra e sua mensagem, realmente ela transgride entre a nossa realidade e o imaginário, tentei olhar discretamente para Henrique, seu olhar sereno, atento para a tela do aparelho, reparava cada detalhe seu no curto tempo que eu tinha, ele tinha leves sardas, que eram difíceis de ver ao longe, seu cabelo ruivo em sua testa pintava brilhante com seus olhos verdes uma obra prima. Fechei os olhos sentindo apenas a música e apreciando o momento. 
Momentos depois de um refeição e conversas singulares, resolveram andar pelo bairro apreciando as estrelas enquanto conversavam. 
_ Espera, como assim você não gosta de vinho? Tipo cara, é uma das melhores bebidas. Incrédula e em espanto me chocava com a afirmação dele.
_ exatamente, me perdoe, mas não compartilho da mesma opinião, bebidas em geral não me agradam.
_ E quando você está para baixo o que normalmente faz?
Um breve silêncio se instalou entre eles, o jovem cabelos cor de fogo refletia em uma resposta adequada a moça. 
_ O mar.  Sinto um conforto e acolhimento sincero quando estou lá, mas ela estando vazia ou de noite, onde posso ficar a sós com os meus pensamentos. 
_ compreendo, também possuo um vínculo com o mar, foi lá que meu pai cantava para mim e minha mãe suas próprias composições, antes dele morrer, era algo mágico e sublime para mim.
_ Posso escutar um trecho destas maravilhosas obras? Pergunta com um olhar brincalhão.
_ Nem ouse rir, ok? Concentro-me, recordando da melodia, do som das águas, das sensações que estavam ao meu redor nos momentos partilhados em família
_ Seu olhos me conduzem, me acalmam,
E conforta de tantas maneiras
Que me sinto até em outra dimensão.
E estando em seus braços me sinto próximo as estrelas,  Você consegue sentir o que sinto? Ver o que vejo? ...
_ Essa música... eu conheço ela. Ela é perfeita, talvez por isso eu não tenha encontrado ela em alguma plataforma, de alguma forma eu conhecia o seu pai. Empolgado e de olhos de luz que me fizeram ficar encantada, dirigia-se a mim de forma calorosa.
_ Quem sabe, não acho impossível. 
_ Sua voz é muito linda. Fala de forma súbita me fazendo ficar totalmente envergonhada.
_ Que nada...
Passaram-se mais alguns minutos de caminhada e decide que já estava na hora de ir para casa.
_ Muito obrigada pela noite agradável. 
_ Eu que agradeço, senti-me bem com sua companhia. Obrigado por ter feito eu me sentir próximo as estrelas.  E retira-se sem mais nem menos, apenas caminhando de costas acenando para mim.
Sentir meu coração pular e minha respiração acelerar, nunca me sentir tão eufórica e ansiosa como nesta noite. Sinto que hoje descobrir como é estar em outra dimensão.

Laços de canção Where stories live. Discover now