Capítulo 32: Eu a queria.

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Fiquei uma hora sentado dentro do carro, na frente do casarão. Não tinha certeza se alguém já tinha visto que eu havia chegado e estava apenas parado ali, mas não fazia muita diferença. Algumas vezes escutei a gargalhada de um dos meus amigos lá dentro. Até a risada de Mavie. Não queria entrar lá e atrapalha-los, porque não estava nem um pouco no clima.

Quando algumas gotas de chuva começaram a cair do céu, desci do carro e entrei, encontrando-os sentados no sofá assistindo um filme de ação. O som de tiros e gritos na tv me deu um calafrio na espinha, mesmo que Millie tenha sido rápida em baixar o som assim que eles perceberam que eu tinha chegado.

—Ei, Nathan, você demorou. —Julian afirmou, enquanto meus olhos buscavam Mavie, que estava sentada no sofá com um balde de pipoca na mão, ao lado de Jas e Abigail. Seus olhos estavam em mim, parecendo buscar alguma coisa no meu rosto. —Tudo bem com a sua avó?

—Ah, sim. Tudo bem. —Não acho que minha voz tenha saído tão convincente, porque vi a expressão de Briar se desviar na minha direção, como se ele pudesse detectar que alguma coisa estava errada.

—Você não quer... —Julian gesticulou para o sofá e para os baldes de pipoca que eles dividiam.

—Agora não. —Falei, me dirigindo até as escadas e acenando a mão pra eles, porque não seria uma boa companhia naquele momento.

Tive a sensação de escutar Briar me chamando, mas estava tão desanimado que só queria ir pro quarto, então não voltei pra sala pra saber o que ele queria. Empurrei a porta com o pé assim que cheguei, jogando as chaves do carro em cima da escrivaninha, antes de tirar minha jaqueta e me sentar no chão, com as costas escoradas na cama. A sacola da lojinha entre meus joelhos.

Soltei um suspiro pesado, erguendo as mãos para esfregar minhas têmporas, sabendo que Heather tinha conseguido estragar tudo. Ela tinha me arrastado para o poço de inveja e escuridão que havia ao redor dela. Fez isso pelo puro prazer de acabar com a felicidade alheia. Aquelas palavras ainda queimavam no meu coração, como se alguém tivesse enfiado uma faca no meu peito e estivesse a torcendo.

Peguei a sacola e a empurrei para o outro lado da cama quando alguém bateu na porta. Não tive tempo de me levantar ou me preparar, porque Mavie entrou no quarto, franzindo a testa ao me encontrar sentado no chão. Engoli uma quantidade surpreendente de saliva, porque não estava pronto pra conversar com ela. Depois da conversa com Heather, nem sabia se em algum momento estadia.

—Oi. —Ela abriu um sorriso pequeno pra mim, fechando a porta atrás dela. —Vim ver como você estava. Está tudo bem? Aconteceu alguma coisa com a sua avó?

—Não, não, está tudo bem. —Falei, umedecendo os lábios com a língua, sabendo que a mentira era muito pior do que a verdade. Não estava tudo bem. Não estaria tudo bem até as coisas entre nós dois estarem resolvidas. Mas como eu faria isso, se era um grande covarde, que se deixou desestabilizar por uma garota qualquer?

—Tem certeza? —Indagou, se aproximando até se sentar ao meu lado. —Se alguma coisa estiver te incomodando, pode me falar. Lembra da nossa conversa sobre comunicação, certo? Se não vou começar a achar que você está me evitando o dia todo.

—Não, não... Não estou te evitando. Por favor, não pense isso. —Olhei para Mavie, observando ela apertar os lábios com força, como se fosse difícil acreditar em mim. —Você não fez nada para me deixar desconfortável e te evitar. O problema sou eu, Mavie. Sempre sou eu o problema.

—Claro que não. —Mavie negou com a cabeça na mesma hora, enquanto eu engolia em seco, lembrando das palavras de Heather. Como seria possível alguém como ela gostar de mim? Ela estava ali pela aposta. Nossa amizade tinha sido um bônus. —Quem disse que você é um problema? Sua avó falou isso?

—Minha vó nem se lembra de quem eu sou, Mavie. —Afirmei, observando o impacto que minhas palavras causaram nela, porque Mavie pareceu ficar constrangida. —Mesmo que ela ache que eu sou meu pai, ela jamais pensaria que eu sou um problema. Ela nunca pensou isso quando cuidava de mim. Mas as outras pessoas pensam.

—Quem? —Mavie ergueu as sobrancelhas, exibindo uma expressão séria. —Quem falou isso então? Porque, pelo que eu sei, Briar não acha que você seja um problema. Os pais dele também não acham isso, porque ficaram do seu lado quando sua avó ficou doente. Nenhum dos seus amigos aqui acha isso. Pode perguntar ao Victor, ao Julian, a Millie e a Abigail. Eles nunca pensariam isso. E eu não penso isso!

Fechei meus olhos, absorvendo as palavras de Mavie, tentando substituir a lembrança desagradável de Heather por esse momento. Sabia que meus amigos gostavam de mim, porque podia sentir isso na forma como eles agiam comigo. Mas Mavie não era como eles. Eu não queria que ela apenas gostasse de mim. Eu queria mais.

Abri meus olhos quando senti as mãos dela envolverem minhas bochechas, encontrando seu rosto quase perto demais do meu, a ponto de eu quase sentir sua respiração no meu queixo. Mavie me encarava de uma forma que não conseguia descrever, mas que deixava meu coração apertado, com uma sensação boa e calorosa demais.

Fechei meus olhos de novo, passando os braços ao redor da cintura de Mavie, antes de a puxar pra mim e a abraçar apertado. Meu rosto ficou escondido nos seus cabelos, enquanto ela estava praticamente sentada no meu colo. Mas não me importei se aquilo era intimidade demais ou não. Eu só precisava sentir a presença dela. Precisar sentir que ela estava ali comigo.

Mavie apertou os braços ao redor dos meus ombros, puxando o ar com força como se aquilo a deixasse tão abalada quanto eu estava ficando. Desejei que aquele momento não acabasse nunca. Que eu não precisasse me afastar dela ou soltá-la. Podia odiar que as outras pessoas tocassem em mim, mas isso não era com Mavie. Nenhuma das coisas que me incomodavam se aplicavam a ela. Eu a queria e era só isso que importava.

Continua...

Como conquistar Mavie Hollis / Vol. 6Where stories live. Discover now