Capítulo 30: Tradições antigas.

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Nathan e Briar estavam sentados no sofá quando eu e Jas descemos. Nathan, por algum motivo, estava silencioso e na dele. Não tinha certeza se era pela presença dos nossos amigos, já que Victor, Millie, Julian e Abigail se juntaram a nós na sala depois de alguns minutos, ou se algo estava o incomodando.

Talvez se minha irmã não estivesse ali, eu já teria ido embora, já que nós dois trocamos pouquíssimas palavras. Mas mesmo que eu quisesse sair correndo pra casa, eu também queria ficar ali e conversar com Nathan sobre aquele beijo. Parecia que havia tantas coisas não ditas entre nós dois, que eu só precisava ouvi-lo falar qualquer coisa sobre isso.

Mas no final da manhã, Nathan pegou a chave do carro e saiu pra visitar sua avó, sem mim. Fiquei sentada no sofá encarando a entrada do casarão por alguns minutos, me perguntando se ele tinha caído na real sobre o beijo. Que ele havia odiado por completo. Ou talvez tinha sido minha súbita pergunta sobre sua correntinha. Lembro da expressão vazia e distante que se abriu no rosto dele quando me respondeu.

—O que tem nessa correntinha que você usa no pescoço? —Indaguei, observando o corpo todo de Nathan ficar tenso, enquanto ele afastava os olhos de mim. Me arrependi na mesma hora de ter feito aquela pergunta, mesmo que aquela correntinha estivesse chamando minha atenção desde que a vi pela primeira vez.

—Eu venho de uma família que tinha algumas tradições antigas. Não conheço todas elas, porque... bem, você sabe, meus pais morreram e minha vó adoeceu. —Nathan limpou a garganta, parecendo usar toda sua energia naquelas palavras. —Mas ela ainda me explicou algumas coisas, que gostaria que eu seguisse, porque sabia que meus pais ficariam felizes.

Então ele puxou aquela correntinha, que prendia um único e solitário anel. Não consegui ver os detalhes direito, mas pude ver a pequena pedrinha verde que brilhava em um dos lados, antes de Nathan o cobrir com a mão e o segurar com força, como se tivesse medo de alguém o roubar.

—Esse foi o anel que minha avó citou no dia que te conheceu. Ele foi de várias mulheres da minha família, passando de geração em geração até a minha mãe. Quando ela morreu, minha vó me entregou esse anel e me pediu para guarda-lo com todo cuidado, porque ele não era só um objeto. Era uma tradição e milhares de lembranças. —Nathan afirmou, enquanto meu coração se contraia dentro do peito ao vê-lo abaixar os olhos e encarar aquele anel como se ele fosse uma joia preciosa. —É uma das poucas coisas que restou da minha família. Da minha mãe. Vivo carregando ele comigo, porque tenho medo de acabar o perdendo. Não me perdoaria se isso acontecesse. Quando for a hora certa, ele estará no dedo da minha futura esposa.

Nathan olhou pra mim ao dizer isso, e aquelas palavras foram como um choque elétrico bem no meu coração, porque ele parou de bater por um segundo, antes de disparar como se eu estivesse correndo. Correndo pra um lugar que eu não fazia ideia de onde era. Porque aquele era o anel que a avó dele o pediu para me dar. Para dar a mãe dele, na verdade, porque ela nem sabia quem eu era de fato.

—Sua família parecia ser adorável, Nathan. Sinto muito por eles terem partido certo demais. —Falei, quase sem fôlego, sem conseguir esconder o quão abalada aquela conversa tinha me deixado. Eu não deveria ter perguntado. Eu não deveria ser tão curiosa.

—Eu sei. Eles teriam amado conhecer você, Mavie. —Nathan afirmou, me olhando como se quisesse me dizer muito mais do que só aquilo.

Uma faísca queimou entre nós dois, me lembrando daquele beijo, fazendo minha boca ficar seca e minhas mãos formigarem para que eu me aproximasse mais dele e o tocasse. Mas não fiz isso. Desviei os olhos de Nathan, sabendo que se continuasse olhando pra ele naquele momento, seria eu a beija-lo dessa vez.

Mavie? —Levei um susto quando Briar tocou meu braço, me puxando para bem longe daquela lembrança. Ele me encarou com as sobrancelhas erguidas, parecendo confuso. —Tudo bem? Eu estava te chamando.

—Ah, desculpa, estava pensando longe. —Soltei uma risada nervosa, balançando a cabeça como se aquilo não fosse nada. —O que você estava falando?

—Estava te chamando pra almoçar. —Briar abriu um sorriso esquisito, como se pudesse ver todas as questões que aconteciam dentro de mim naquele momento. —Nathan mandou mensagem avisando que não vai demorar. E disse que não era pra deixarmos você ir embora antes disso.

—Ele gosta de ser meu motorista particular. —Falei, brincando, antes de dar de ombros e arrancar uma risada de Briar. —A avó dele está bem?

—Está, sim. Não se preocupa com isso. As vezes, quando o Nathan está com algo na cabeça e não consegue decidir o que fazer, ele corre pra avó dele pra conversar. Ela sempre sabe o que dizer a ele para deixá-lo tranquilo. —Briar abriu um sorriso maior pra mim, como se soubesse de todos os motivos que fizeram Nathan querer conversar com a avó hoje.

—E o que ele teria pra falar com ela? Ele está com algum problema?

—Ah, não. Não é uma coisa ruim. De qualquer forma, acho que ele vai conversar com você sobre isso em algum momento. —O sorriso de Briar era quase grande demais quando disse aquilo, antes de se afastar para a cozinha.

Fiquei sentada no sofá, encarando o lugar em que ele estava antes de se afastar. Meus pensamentos eram um emaranhando de confusão, pensamos em todas as coisas boas e todas as ruins que poderiam estar acontecendo naquele momento. Mesmo querendo não acreditar, foi difícil não pensar que Nathan tinha ido até lá sem mim porque queria conversar com a avó justamente sobre sua falsa namorada.

Balancei a cabeça para os lados, odiando pensar que o que tínhamos era falso, depois do beijo que trocamos na festa. Se aquele era o beijo que Nathan estava disposto a me dar em uma brincadeira de festa, não conseguia nem imaginar como seria beija-lo sem todas aquelas pessoas ao redor.


Continua...

Como conquistar Mavie Hollis / Vol. 6Where stories live. Discover now