Capítulo 3: Uma verdadeira grosseria.

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Nathan Blackwood

Ainda estava cedo demais pra nevar, mas eu estava torcendo muito para que esse dia chegasse logo. Minha época favorita do ano sempre foi o Natal. Agora as ruas já estão começando a ficar decoradas para o dia 25, com pisca piscas e árvores sendo montadas em todos os lados. A neve era só mais um detalhe pra deixar a época mais bonita.

Meus últimos natais não foram tão interessantes assim. Não posso dizer que eles foram ruins, porque passar os natais com Briar e sua família era sempre bom. Seus pais sempre me trataram muito bem, como se eu fosse parte da família. E eu sempre serei muito grato a eles por isso. Mas nada é melhor do que passar o Natal com a própria família. O problema é que a minha foi se desfazendo com o tempo.

Desci do carro, pegando o vaso de girassóis, antes de caminhar em direção a casa de repouso. Já conhecia a maioria dos enfermeiros que trabalhavam ali, porque fazia visitas toda semana quando tinha tempo. Eles me cumprimentavam de forma simpática, me deixando aliviado por não estenderem a mão para cumprimentos íntimos e esquisitos. Não costumava gostar quando as pessoas tocavam em mim. Na verdade, eu tinha sérios problemas com isso. Se o toque não partia de mim, normalmente me deixava desconfortável.

—Bom dia, Nathan. É bom vê-lo. —Um dos enfermeiros estava saindo do quarto quando me aproximei. —Chegou em boa hora. Ela acabou de tomar o café da manhã. Acordou animada hoje.

Agradeci a ele e bati na porta do quarto, abrindo-a lentamente. Abri um sorriso quando encontrei minha vó sentada em uma cadeira de balanço perto da janela, observando o sol que surgia por entre as nuvens. O ar de tranquilidade se abrindo em um sorriso quando ela girou o rosto e me viu.

—Bom dia. —Falei, fechando a porta atrás de mim, antes de deixar o vaso de girassóis ao lado da cama.

—Bom dia, querido. Que bom que chegou. Estava mesmo me perguntando quando você viria. —Ela estendeu a mão pra mim quando me aproximei, sorrindo de forma doce quando me sentei em uma poltrona ao lado da sua cadeira. —Essas pessoas aqui me deixam tão confusas. Acredita que ontem eu pedi uma taça de vinho e eles me trouxeram suco no lugar? Uma verdadeira grosseria.

Eu acabei rindo, enquanto segurava a mão dela e a apertava com cuidado. Suas feições tomadas pela idade me observaram como se eu fosse um raio de sol. Ela era a única que havia me restado, mas para sua própria segurança e saúde, precisei trazê-la pra cá, mesmo que isso partisse meu coração no processo. Sabia que eles cuidavam bem dela.

—Como você está se sentindo hoje, vó? —Indaguei, olhando ao redor do quarto para ver se estava tudo em ordem. Ela riu, antes de soltar um bufar, como se estivesse ofendida.

—Estou sempre me sentindo bem. Gostaria até mesmo de ir pra casa hoje, querido. —Ela olhou ao redor, como se estivesse procurando alguma coisa. —Você viu meus óculos, Nolan? Acho que eles o esconderam pra que você não conseguisse me levar. Mas se procuramos um pouco acho que conseguimos...

—Vó? —A chamei, apertando meus lábios com força quando milhares de emoções avassaladoras tomaram conta de mim. Seus olhos se voltaram para o meu rosto, como se ela estivesse perdida.

—Você parece um pouco abatido, filho. Está se cuidando direito? —Ela ergueu a outra mão e tocou minha bochecha. Precisei me segurar para não me afastar, sentindo o roçar da pele dela contra minha causar um arrepio de desconforto que atravessou minha coluna, como se minha pele estivesse ardendo. —Deveria trazê-la pra me ver da próxima vez.

—Trazer quem?

—Meredith, sua alma gêmea, não é? —Ela afastou a mão do meu rosto ao dizer aquilo. Na mesma hora ergui a minha e esfreguei a pele com força para tirar a sensação de desconforto. Quando ela ainda se lembrava de mim, sabia que eu odiava aquele tipo de toque leve como uma pena. Mas agora ela sequer faz ideia de quem eu era, na maioria das vezes que eu vinha visitá-la. —Eu gosto tanto dela. Você teve tanta, mas tanta sorte. Por favor, da próxima vez a traga, ou nem precisa vir me visitar. Pode fazer isso por mim, querido?

—É claro, vó. Claro que eu posso. —Falei, engolindo o nó que havia na minha garganta, antes de me inclinar e deixar um beijo na testa dela.

[...]

Sai do vestiário, vendo Briar ainda no gelo, agora sem as roupas do treino de hóquei. Estava patinando ao lado de Abigail, sua irmã. O treinador de patinação dela observava os dois, como se estivesse analisando alguma coisa em Abigail, que pudesse ajudá-la a melhorar sua técnica. Era engraçado como todos na família deles tinham saído do gelo. A mãe deles tinha sido patinadora, assim como Abigail. E o pai de Briar tinha sido um grande jogador de hóquei, assim como o filho.

Acenei na direção de Briar para deixar claro que já estava indo. Ele ergueu a mão e acenou de volta pra mim. Normalmente irmãos embora juntos depois do treino, mas as coisas mudaram um pouco nas últimas semanas quando ele começou a namorar. Não que isso seja um problema pra mim. É bom ver meu melhor amigo sendo feliz com alguém. E ele encontrou alguém absolutamente incrível.

Sai da arena e caminhei até meu carro, sentindo meu corpo inteiro dolorido do treino de algumas horas atrás. Precisava muito da minha cama e de alguns saquinhos de gelo. Quando abri a porta, tive a sensação de escutar alguém me chamando. Mas quando olhei ao redor, apenas Mavie vinha caminhando pelo campus na direção da arena, provavelmente para pegar uma carona com Briar. Não havia motivos pra ela estar me chamando.

Entrei no carro, ainda com a sensação de que alguém havia dito meu nome. Balancei a cabeça, espantando a confusão, antes de ligar o carro e o ar-condicionado, precisando muito me aquecer naquele momento. Quando fui acelerar pra sair dali, uma mão surgiu no vidro da minha janela, me fazendo pular de susto no lugar.

—Cara, eu te chamei umas 100 vezes, você não ouviu? —Mavie se inclinou sobre os joelhos quando abaixei o vidro, com o coração na boca pelo susto, me sentindo muito confuso ao vê-la ali. —Já tava achando que ia precisar correr atrás do carro.

—Oi, Mavie. O Briar está lá dentro com a Abby. —Falei, tentando acalmar meu coração acelerado, enquanto apontava para a arena.

—Ah, eu sei. Estou querendo falar com você mesmo. —Afirmou, me fazendo franzir a testa em confusão, observando-a se remexer de uma forma estranha, como se estivesse constrangida. —Você pode ir tomar um café ou alguma coisa comigo agora?

—Hmm... —Olhei pra frente, me perguntando o que estava acontecendo ali, porque as garotas não costumavam me chamar pra beber alguma coisa com elas. —Eu estava indo pra casa agora. Não pode ser depois? Acabei de sair do treino.

—Eu sei, me desculpa, mas precisa ser agora. —Ela me lançou um sorriso forçado, com os olhos um pouco maiores do que o normal.

—Tudo bem. —Falei, voltei a olhar pra frente, antes de erguer a mão e esfregar minha nuca, me sentindo um pouco perdido. —Entra, vou te levar até o café dos seus pais. Aí a gente pode conversar...

—Não, não, não... —Mavie soltou uma risada que me assustou, porque não parecia nada natural. —Na verdade, eu queria que fôssemos em outro café. De preferência, bem longe do campus.

Olhei pra ela, erguendo as sobrancelhas muito lentamente, me perguntando o que diabos estava acontecendo ali.


Continua...

Como conquistar Mavie Hollis / Vol. 6Where stories live. Discover now