Capítulo 14

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Na quarta-feira de manhã, Eijiro tentou se virar na cama, mas percebeu que não conseguia. Havia um par de braços fortes envolta de seu corpo segurando firme. Riu baixinho, lembrando que Katsuki havia garantido com toda certeza do mundo que seu Alpha não era possessivo...

Com cuidado foi se soltando e escapou da cama. Espreguiçou-se tentando não fazer barulho e saiu do quarto como um verdadeiro gatuno.

Foi até o escritório e remexeu nas coisas até encontrar um short esportivo e uma camiseta. Tinha o hábito de correr todas as manhãs antes de começar o exaustivo expediente. Iria retomar a prática para não ficar enferrujado.

Perdeu um pouco de tempo procurando a garrafinha térmica que levava com água para se hidratar. Quando voltasse à tarde ia seguir a sugestão de Katsuki e arrumar os pertences no outro quarto.

O rosto esquentou um pouco e ele balançou os cabelos ruivos. Estava casado. Casado! Tinha levado uma bela mordida na nuca, que aliás não sangrava e nem doía mais. A pomada anestésica e a proximidade do Alpha haviam sido bem efetivas para ajudar.

Um pensamentozinho envergonhado sobre o nó pairou em sua mente, todavia fez um gesto com a mão para espantá-lo.

O pior era não ter ideia de tudo o que aconteceu. Ele nunca havia sido tão completamente dominado pelo Omega a ponto de perder o raciocínio lógico. Convivia bem com o lado animal, recebia sensações, intuições, alertas, um tipo quase sobrenatural de "conselho" sobre como agir em algumas determinadas situações. Mas sempre, desde que se entendia por gente, a parte humana esteve no comando do corpo, agindo com racionalidade.

Essa única vez terminou assim: casado com um desconhecido. Bonito, de atitude bem exótica e enfática. Um tipo que não se encontrava igual por aí... com o qual teve algum enrosco inicial, mas que o diálogo ajudou a aproximar e melhorar a convivência a ponto de sentir que o conhecia a anos.

Que loucura...

Mas a real loucura era ter meio que entrado em pânico ao despedirem-se na hospedaria, juntado a mala às pressas e fugido tão rápido quanto possível, até mesmo cortando o final de semana de presente pela metade.

Eijiro só queria ir embora, voltar para a segurança da micro quitinete e tentar entender tudo aquilo. Mas não conseguiu. Na metade do percurso teve que pedir para o motorista do aplicativo parar o carro, então ligou para a hospedaria e negociou o retorno.

Quanto mais longe ia de Katsuki, mais seu lado animal entrava em desespero. A sensação de angústia, de perda, um senso de tragédia iminente... até reações físicas como coração disparado e leve falta de ar.

Teve que voltar para junto daquele que Alpha que o Omega escolheu por companheiro.

E ali estavam eles. Casados. Muito bem casados. Agindo como se tudo fosse normal, pois para a parte animal era perfeitamente normal.

Eijiro percebeu que estava perdido em pensamentos, com a garrafinha na mão e de cócoras em frente uma das mochilas. Sacudiu a cabeça e sorriu. Talvez conseguissem algumas respostas quando fossem à médica no dia seguinte.

Ergueu-se, espreguiçou-se relaxando o corpo e saiu do escritório direto para a cozinha, para abastecer-se com água. E descobriu Bakugo fazendo a mesma coisa, vestindo um short e camiseta similares ao seu.

— Bom dia, Tsuki! Acordou cedo — soou animado, ignorando a mirada de alerta que recebeu.

— Vou correr um pouco. E você?

— Também! Que másculo, bro! Combinamos até nisso! — felicidade genuína fluiu pelo vínculo, tornando a irritação pelo apelido inexistente.

— Tsc.

Eijiro ignorou o resmungo nada charmoso, encheu a garrafinha com água e acompanhou o Alpha quando ele saiu de casa. Havia uma quadra esportiva ali perto, local para onde rumaram. Ajudaram um ao outro no aquecimento e preparação dos músculos antes de começar um circuito de voltas na pista. Não eram os únicos esportistas, dividindo o espaço com mais alguns que corriam.

O Omega notou que Katsuki acompanhou seu ritmo o tempo todo. Sendo Alpha, o vigor físico era muito acima de Betas e Omegas, ele poderia ter ido mais rápido e dado mais voltas. E ainda assim, preferiu correr ao lado do companheiro. Um gesto de cuidado que comoveu e animou Eijiro. Ambos estavam se adaptando ao relacionamento, fazendo concessões quando necessário. Chegou pensar em sugerir que o Alpha seguisse a rotina de treino que costumava fazer, mudando de ideia no último segundo. Katsuki escolheu seguir ao seu lado, então que assim fosse.

***

Ao voltar para casa, mandou que o detetive aproveitasse para tomar banho e se ajeitar primeiro. Ele ia preparar o café de ambos. E arrumar um bento caprichado para seu marido.

Marido...

O pensamento deu um principiozinho de animação. Mina ia surtar quando contasse toda aquela história que mudou sua vida em menos de uma semana. Recuperou-se do quase surto e fez uma nota mental para comprar um bento para si próprio. Em Tokyo trabalhava em um restaurante e ganhava muita comida. Ali seria diferente.

O detetive voltou para a cozinha e observou Eijiro. Havia captado aquele picozinho de emoção e ficou um tanto preocupado, mas viu que não tinha sido nada pesado. Ele próprio lidava com esses rompantes de emoção. Tudo era muito novo entre eles, emocionava de quando em quando. Assim como empolgava e... até mesmo assustava às vezes.

Para descontrair o clima, reclamou um pouco dos cocôs de plástico espalhados pela pia do banheiro, enfeitando. Se contradizendo, garantiu que o ruivo podia deixá-los lá mesmo, quando ele disse que ia tirar. Fato que fez o Omega sorrir. Aquele Alpha era uma peça e tanto!

Por fim Kirishima foi banhar-se e se preparar para o longo dia, deixando Katsuki arrumando a mesa para o café da manhã. Quando voltou, ofereceu aquele apontar de dedo severo que proibia o detetive de reclamar de seu cabelo. Ou de sua roupa. Ou dos crocs!

A refeição foi feita entre troca de planos e combinações. A distância incomodava cada vez menos, permitindo uma maior normalidade. Provavelmente Kirishima voltaria para casa antes e iria arrumar suas coisas no quarto do casal. Casal!!

No percurso de carro, Eijiro explicou o caminho até a floricultura da amiga. Tão logo estacionaram em uma vaga próxima, fez menção de sair do carro, mas Bakugo o impediu antes que abrisse a porta. Virou-se para perguntar o que havia acontecido e ganhou um beijo singelo sobre os lábios.

— Se cuida — foi o que o detetive sussurrou.

— P-pode deixar. Você também — respondeu com o rosto tão vermelho quanto os cabelos. Desceu do carro depressa, sem saber que Katsuki estava tão constrangido quanto ele, tendo sido vencido por um impulso do lado animal. Assim como não soube que o loiro soltou o ar que estava preso nos pulmões e acertou um soco no lado esquerdo do peito, exclamando um "se controla, animal!".

Até porque a preocupação mais imediata de Eijiro foi notar que assim que o carro deu partida e se afastou, a grande amiga surgiu na porta da floricultura que já estava aberta e atendendo. Uma jovem Alpha não muito alta, com um vestido florido e cabelos tingidos de rosa, com as mãos na cintura e um olhar de pura surpresa:

— Bem-vindo, Eiji! Entre aqui agora e me explique o que foi aquilo!!

O rubor da face do rapaz estava desaparecendo, mas as bochechas ainda permaneciam adoravelmente coradinhas. Ele coçou a cabeça um tanto sem jeito, antes de responder:

— Quanto tempo, Mina! Aquele era Bakugo Katsuki. Acredita que eu me casei?!

Semana que vem, um capítulo de POV do Kiri com a Mina! Ansiosos?!!

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Semana que vem, um capítulo de POV do Kiri com a Mina! Ansiosos?!!

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