Capítulo 3

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Hadrian on:

Vaguei pelas ruas por alguns dias. Eu aceitei o formigamento. Minha cura me ajudou. Mais eu ainda estava ferido. E cansado. E com fome. Um policial viu que algo estava errado,fez perguntas e quando eu falei pra ele que minha casa havia pegado fogo com minha tia, meu tio e meu primo dentro e que eu não sabia nada além de seus nomes -ser uma criança de quatro anos ajudou nessa parte- eu acabei em um orfanato. O orfanato Jerônimo Emiliano para meninos.

Assim que o polícial preencheu minha ficha -que não tinha praticamente nada- a matrona me perguntou meu nome. Demorou um tempo para eu perceber que eu não sabia. Não poderia ser garoto ou aberração, nao é? Fiquei em silêncio por um tempo. Me lembrei do nome que aquele homem com uma aura pesada e rosto pálido me chamou. Hadrian. Seria meu nome? Nao poderia ser. Aquilo era um sonho. Aquele homem não matou meus pais. Eles morreram em um acidente de carro. Sim, sim. Mais por falta de opção, digo que me chamo Hadrian. Ela não pergunta o sobre-nome. Ao invés, acentiu e me levou para os chuveiros.

O lugar era velho, entretanto era limpo. Parecia ser um lugar com recursos limitados, mais não extremamente pobre. Tomei um banho demorado, lavando meus ferimentos com cuidado. Me enrolei na toalha e a matrona, que se chamava senhora Elen Lewis, uma mulher de meia idade que  parecia ser alguém agradável, mais muito religiosa se alguma das três cruzes significavam algo, entrou e me entregou uma trouxa de roupas. Parecia que iriam servir.
"Muito bem, meu anjo. Oh, meu Deus! Que cicatrizes horríveis! O incêndio deve ter sido algo horrendo. Pobre criança... tão bonitinho e agora com isso..." ela continuou murmurando coisas do tipo e eu a desliguei.

Me vesti enquanto ela arrumava algumas toalhas e depois ela me levou para um emaranhado de corredores e portas. Parou numa e abriu. Era um quarto. Um pouco menor que o de Duda, e tinha duas camas e dois armários. Estava vazio. Era bom. Assim poderia praticar meu formigamento durante o dia. As únicas coisas era uma estante com alguns livros e a roupa de cama no armário.

"É seu quarto, Hadrian. Fique a vontade. Como você não tem roupas, vou levá-lo amanhã para comprar algumas. Pode folhear os livros, tem imagens bonitas em alguns. Tem uma biblioteca em dois quarteirões daqui. Se gostar, pode pedir para um dos funcionários te acompanhar até lá quando eles puderem. O jantar é as oito, o café as sete durante a semana e as oito durante o final de semana. O almoço é meio-dia e meio e o café da tarde as quatro. As luzes se apagam as nove."

Aceno com a cabeça, mostrando que entendi. Entro no quarto e a matrona fecha a porta. Pego um dos livros. É um conto infantil. Leio-o rapidamente. Deposi outro. Quando dou por mim, uma sineta toca. Deve ser a hora do almoço.

O almoço provou ser algo muito ruim. Não pela comida. Era agradável até. As outras crianças ficarem me olhando. Eu odeio as pessoas me encarando. Até que no final, um menino de uns oito anos veio até mim, rodeado de três outros meninos tão velhos quanto, com o dobro do meu tamanho.

"Ei pirralho. Já vi que é novo aqui. Pelo visto Jude vai ter um pouco de descanso. Temos um novo novato."

Ele me agarrou pelo braço e me arrastou de lá. Descemos as escadas e ele me jogou em um tipo de porão, acho. Não é possível. Estou cansado das pessoas me jogarem por aí. Eu não sou uma boneca, porra!

Um deles me chutou antes que eu me levantasse. Antes que isso se repetisse, me esquivei e me levantei.
Concentrei minha energia em fazer com os quatro a mesma coisa que fiz com Valter e Petúnia. Eles caem simultaneamente no chão e gritam. Forço-os em ficar em silêncio, e mantenho por meio minuto.

Depois que eles ficam no chão arfando, olho bem nos olhos do que falou comigo. Concentro em transmitir minha ordem de modo que eles não possam fazer nada se não me obedecer.

"Vocês vieram aqui e tentaram me bater. Mais eu fugi e vocês ficaram trancados aqui. Então viram seus maiores medos."

Eles não fazem nada. Não tremem nem choram apenas murmuram um sim e eu saio, tranacando a porta a seguir.

Depois daquele dia, os quatro não foram mais os mesmos. E os rumores sobre mim ser a cria do diabo e uma aberração se espalharam como o fogo que consumiu a casa dos meus tios. Os outros aprenderam a me evitar.

Aquele Que Eles Não EsperavamWhere stories live. Discover now