Minefields: Shingeki No Kyojin

Liesel

Não conseguia me mexer. Meu corpo estava tão exausto que nem mesmo dor eu conseguia sentir, mas, ainda assim, sabia que o processo de cura, mesmo que lento, estava ativo. Talvez estaria com energia e poderia me mover dentro de algumas horas, para a minha infelicidade. Tudo o que eu queria era poder dormir e, quem sabe, nunca mais acordar. Eren iria destruir o mundo inteiro mesmo, que diferença faria. Essa era a minha chance de finalmente morrer.

Minha única preocupação agora era Gabi. Eu havia pedido para que ela fosse ao encontro de Pieck e Liesel, tinha a certeza de que as duas ainda estavam vivas, para que então houvesse alguma chance de salvar Falco, mesmo que por um tempo impreciso. Minha prima me deixou aqui, como eu havia pedido, mas eu não tinha ideia para onde ela havia ido. A única coisa que ouvi antes de ela sair correndo pela porta foi o seu resmungo raivoso. Não importava, quem a achasse faria um trabalho muito melhor do que o meu em protegê-la, pelo menos. Naquele estado em que me encontrava eu não poderia fazer nada por ela.

Eu não me incomodava com o chão gelado daquela casa de madeira e aquele pano que usava de cobertor e o travesseiro pareciam o melhor lugar do mundo para se estar. Nem os olhos eu conseguia abrir, tamanho o torpor, mas conseguia ouvir a marcha dos Titãs Colossais das Muralhas e também os gritos dos pobres desesperados lá fora, ninguém que eu conseguiria ajudar, de qualquer forma. Minha única alternativa era aguardar a morte vir.

Pensei em Liesel, em todo o seu sofrimento. Ela sempre se arriscava por nós, mesmo que não tivesse nenhum poder de titã, mesmo machucada e completamente abalada por tudo o que acontecera. Eu gostaria de tê-la abraçado, de alguma forma consolá-la pela morte de Colt e Galliard, que eu sabia que eram importantes demais para ela. Eu não a merecia, eu sabia disso. Como uma mulher como ela amava alguém como eu, isso eu jamais consegui entender.

Minha Liesel. Quando fomos derrotados neste mesmo lugar, há quatro anos, ela foi a única a interceder por mim junto aos oficiais, apesar de toda a minha apatia, e cuidou de mim e dos meus ferimentos, que custavam a cicatrizar devido a minha total falta de força de vontade de continuar. Foi ela que me ajudou a encontrar essa força de vontade, sabe lá onde.

- Eu não consigo entender...por quê? Por que fez isso por mim? – eu perguntei a ela.

Aquela garota de 16 anos ainda se parecia com a mesma de 5 anos atrás. Os cabelos compridos, em tons claros de castanho, presos na mesma trança. O corpo sempre escondido em roupas folgadas. Ela não olhava em meus olhos, apenas trocava meus curativos, se certificando de que minha autocura daria conta do trabalho em breve.

- Eu te disse, não fiz nada demais. Só argumentei que se queriam se livrar de você porque não conseguiu capturar o Eren Yeaguer e perdeu a Titã Fêmea e o Titã Colossal, tinham que fazer o mesmo com o Zeke, afinal, era ele o responsável pela operação e ele também falhou. – ela disse, como se tudo fosse simples ao encarar o tribunal do Exército Marleyano. – Na verdade, eu consegui te deixar em uma situação pior. Fiz eles te concederem mais um ano para provar sua lealdade e serventia à Marley nessa nova guerra que está por vir. Se conseguir, viverá até o fim de sua posse do Blindado. Se não...

- Mas você sabe que não só salvou a minha vida, mas a da minha família também. E ainda está aqui, cuidando de mim, mesmo sabendo que vou me regenerar.

Pela primeira vez, ela me encarou. Aqueles olhos âmbar brilhavam junto a luz que emanava da lamparina do quarto.

- Qual o problema, Reiner? – ela perguntou, friamente.

- Eu só acho que não faz sentido. Eu não mereço ser salvo. – eu não conseguia compreender o porque de ela estar fazendo tudo aquilo por mim.

- Reiner, salvando você, eu consigo salvar outras pessoas desse destino. Salvando você, eu salvo sua família, a sua prima que acabou de entrar para o Treinamento Guerreiro. Sei que não é incompetente, você fará o que for preciso para se redimir de suas falhas, então será capaz de salvar muitos de nós nesta guerra. Então, salvando você, sei que consigo salvar muitas outras pessoas junto. – ela disse, olhando para as próprias mãos. Eu não conseguia parar de encará-la, chamando a atenção dela para mim. Eu sabia que havia mais. Ela não queria perder mais alguém, mesmo que isso significasse perder a mim, que nunca fora mesmo seu amigo na infância.