Atenção passageiros, bem-vindos a vida de Norihiko Takamori, um comissário de voo azarado que jurou não amar novamente depois de algumas experiências turbulentas em sua adolescência. Só que sua promessa sofre uma despressurização quando se apaixona...
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Bem, eu estava bastante errado quando achei que Hiyama estava apenas cumprindo uma troca para quem sabe, curtir um dia com as gêmeas ou ir ao médico. Foi só uma troca, pensei.
Mas não. O desgraçado estava bagunçando as escalas da mesma forma que eu fiz! E continuava trocando!
Isso está mais do que suspeito. É nosso terceiro voo e estou chocado o quanto ele é terrivelmente astuto. Não me manda uma mensagem sequer, mas eu entendo a linguagem corporal dele. Os olhares e os sorrisos são o que me fisgam, digno de um mais puro astuto! Não é possível, mas Étienne tem razão e minha insegurança só empurra tudo com a barriga.
Hiyama Murphy-Kudo gosta de mim.
Só que não sei se romântico ou por amizade, isso é o que terei que descobrir e só vai acontecer se tivermos contato. Deus, como posso rejeitar contato com ele? Meu maior castigo é a insegurança, isso é fato. Quando vi o nome dele na escala do meu próximo voo, quase infartei. Preciso me acalmar ou serei a vítima de alguma emergência médica a bordo qualquer dia desses.
Só que, quando eu penso nele, logo o escândalo envolvendo aquele post no Instagram de fofoca surge em minha mente. O desastre no qual foi a minha bunda de fora e a pressa que deixou minha imagem desfocada. A enxurrada de comentários de alguns querendo saber os nossos modos de voo, outros querendo saber os dele, e outros denunciando nossos modos de voo.
Merda, estava realmente tudo bem?
— Hiyama... — para variar, eu estava sonhando com ele e acordo desesperado com um som alto e repetitivo. Caio da cama, achando que ouvi algum alarme de incêndio, porém, é apenas o despertador.
Apesar de murmurar seu nome enquanto ainda estava em um estado de sono, acordei em uma quinta-feira perfeitamente bem, com a cabeça até que leve para quem passou por tanta coisa nos últimos meses, inclusive cair da cama. E não é só o fato de eu gostar de um homem chamado Hiyama, é o trabalho mesmo. Eu preferia ficar nos voos domésticos, é bem menos doloroso do que sair em um voo longo por aí. Fazer o quê, é meu trabalho, dã!
Arrumo-me depressa, roupas, malas, documentos... Decidi chegar cedo no aeroporto na quinta, mas um atraso de última hora me fez quase perder o ônibus da empresa que nos leva até o trabalho. Mal tive tempo de passar uma base antes de sair, então deixei para fazer isso quando estivesse dentro do ônibus. Ao menos arrumei os cabelos loiros e lindos. Tenho que ser convencido ao menos nisso.
Apressado e correndo até a calçada, tropeço ao entrar no ônibus e a porta do veículo arranca os fones dos meus ouvidos. Ofegante, os coloco de volta e agradeço ao motorista por me esperar. Uma comissária que estava em seu assento na primeira fileira, riu de mim e eu a ouvi comentar:
— É para isso que existem fones bluetooth.
Ignoro, estou com problemas demais para aceitar algum tipo de bate-boca. Prefiro dar play na música que ouço e logo "Everywhere", do Fleetwood Mac, começa a tocar nos meus fones. Era para estar ouvindo, sei lá, minha playlist feliz dos meus dias atrasados, mas, por algum tipo de coincidência absurda, o aleatório me toca essa música.
