Atenção passageiros, bem-vindos a vida de Norihiko Takamori, um comissário de voo azarado que jurou não amar novamente depois de algumas experiências turbulentas em sua adolescência. Só que sua promessa sofre uma despressurização quando se apaixona...
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Aquele voo foi intensamente turbulento. Não somente pelas densas camadas de nuvens que chacoalharam vez ou outra a aeronave, castigando-a em movimentos que aterrorizavam qualquer infeliz que não era acostumado a voar, mas também pelo fato de ter passado o meu sério e dedicado expediente de catorze horas pensando nele.
No primeiro oficial Hiyama e sua beleza.
Se você não entende a diferença entre comandante e primeiro oficial, posso explicar em apenas duas palavras: piloto e copiloto. Em termos de patente, comandante tem quatro faixas nos ombros e é dono de toda a hierarquia do avião. Já o primeiro oficial ou copiloto, é o segundo em comando na hierarquia e seu uniforme possui três faixas. Ok, são só alguns termos técnicos da aviação, ninguém aqui vai olhar quantas listras o Hiyama tem no uniforme — bem, eu até que fiz isso e eu sei que ele tem três — o que se destaca nele nem é isso, e você — assim como eu — sabe que é a beleza dele.
Atravessamos o Oceano Pacífico, do Japão até Nova Iorque, e aqui estou eu, em solo americano e deitado na cama do quarto do hotel com uma caixa de pizza esparramada ao meu lado. Entediado, reviro o Grindr à procura de algum nova-iorquino que possa curar meu hiperfoco em Hiyama, mas a luz baixa do quarto me dá sono e preguiça de sair daquele aconchegante ambiente apenas para dar umas beijocas em alguém. Eu sou insistente, extrovertido, apaixonado e bobão, mas sei quando o amor fala mais alto em mim.
E esse momento é agora. Bem, eu acho. Eu sempre quis um namorado, alguém para pegar em minha mão e dizer que me ama, e talvez esteja fantasiando demais sobre isso. Uma vez, Étienne me falou que namorar alguém não faz parte da nossa vida como comissários de bordo, mas veja o quanto ele é hipócrita, pois tem um namorado há nove anos enquanto eu estou sozinho! Não quero parecer desesperado, mas sei exatamente quando alguém faz meu coração bater mais forte. Deus, preciso ficar em paz comigo mesmo e ser quem eu sou.
E é longe do dresscode rigoroso da Starwind Airways que eu posso ser quem eu sou, em vez de encher meu cabelo loiro de gel e o deixar igual a de um Donald Trump da vida. Agora minha franja loira está livre novamente, assim como meus brincos preferidos em forma de estrelas pendurados em minhas orelhas. Totalmente folgado, sequer me importo em me vestir, deitando sobre a cama fofa do hotel com o roupão entreaberto.
Deslizo o dedo na tela do celular e mesmo vendo caras muito bonitos no Grindr, não me contento. Hiyama me chama mais atenção que qualquer um daqueles caras aleatórios. Bloqueio a tela por um instante e suspiro, pondo o telefone sobre meu peito nu e branquelo. Poderia apenas dormir, e estou aproveitando muito mal minha primeira vez na cidade.
Procuro algo para fazer e desbloqueio novamente o telefone, iria convidar Nilo e Étienne para sair na noite nova-iorquina, mas vejo pelos status do Instagram que os desgraçados não perderam tempo e foram a um restaurante romântico. Parece que estou sozinho novamente; que seja, melhor procurar algo para fazer.
Penso em alguma ideia, um filme para ver ou um livro, mas o que vem em minha mente parece contrariar todas as alternativas que tenho para despistar meu cérebro: a não brilhante ideia de procurar o Instagram de Hiyama. Isso não soa como algo mega inteligente a se fazer, mas é o que posso tentar, afinal, estou sozinho e entediado e pessoas entediadas fazem besteiras. Passo minutos tentando descobrir como é o nick dele, e jogar apenas o seu nome na barra de pesquisas não adianta, eu estou deixando algo muito específico passar despercebido.
