Atenção passageiros, bem-vindos a vida de Norihiko Takamori, um comissário de voo azarado que jurou não amar novamente depois de algumas experiências turbulentas em sua adolescência. Só que sua promessa sofre uma despressurização quando se apaixona...
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Aeroporto Internacional de Narita, Tóquio, Portão 56
— Hiko, eu não sei o que é maior: as asas que Ícaro usou para voar ou os bíceps do nosso copiloto.
Tento controlar o riso bobo com o que disse meu amigo Étienne, mas acabo falhando.
Eu deveria estar concentrado no trabalho, mas desde quando vi nosso copiloto de hoje que não consigo me concentrar no meu dever. Há algo nele que é como um enigma para mim, mas não sei decifrar, nem mesmo quando nossos olhares se encontraram quando estávamos na porta da aeronave.
Desde a adolescência que não sinto isso, esse calor em meu peito, que cresce quando trocamos olhares ou quando estamos próximos de alguém. E o que me intriga é que esse calor não surgiu há um bom tempo, sabe por quê?
Porque é a primeira vez em toda a minha vida que vejo esse homem.
Como tripulantes, estamos fadados a rotatividade de colegas de trabalho, então voamos raramente com as mesmas pessoas. Só que, sempre que possível, eu e meus dois melhores amigos damos um jeito de voarmos juntos devido às sabotagens de Étienne, no caso, hoje.
— Norihiko, está tudo bem? — ele me desperta dos pensamentos, o voo ainda nem saiu do chão e minha cabeça já flutua nas nuvens.
Étienne é um dos meus melhores amigos, o outro?
— Amor, essa cara de abobalhado dele já prova que não tem nada bem. — Esse que está me delatando é Nilo, namorado de Étienne.
Não dá, nós três formamos o que os invejosos mais temem: o trio de amigos tripulantes para sempre e que choram de rir sempre que a escala mensal — e as sabotagens de Étienne — nos premia em um voo juntos. As escalas são uma espécie de cronograma onde, nos dias 20 de cada mês, recebemos os nossos voos do mês seguinte, juntamente com o nome dos nossos colegas de trabalho, dias de nossas folgas e os destinos nos quais vamos voar, todos já prontinhos e agendados.
E quando nossos nomes batem com as escalas, somos o trio de comissários de bordo mais temidos da base do aeroporto de Narita da Starwind Airways, pois além de atenciosos com os passageiros, fora da aeronave, nossa amizade de múltiplas nacionalidades é louca e intensa. Sou japonês, Nilo é egípcio e Étienne, francês, não tinha como dar certo, somos terríveis.
Nilo nota nossos sorrisos contidos e olhares nada discretos para um ponto em específico do avião. E em vez de conferirmos os últimos detalhes dos trolleys — os carrinhos de comida — estamos de olho na altura do meu alvo, tão alto que nem parece humano.
— Ele é mesmo humano ou um Avatar? — Sussurra Nilo, aproximando-se de nós. Ele aponta para o lugar onde o primeiro oficial está enquanto dá risadas discretas.
— Se é alto assim, magina o tamanho do "manete" dele — zomba o francês.
— Senhor Langlois, cuidado com o que você diz! — Nilo reclama.
