Capítulo 56

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Acordei a sobressalto com a sensação de estar sendo observado.

Não hesitei por um único momento em pegar meu leque, já tomado pelo meu poder enegrecido misturado com o vermelho vibrante, apontando-o para o pescoço do invasor. Dando de cara com minha prima, que segurava um riso que não pode ser contido por muito tempo.

- O que está fazendo aqui? – perguntei rispidamente, chateado por ter sido acordado dessa forma – Não é apropriado para uma dama visitar o quarto de um homem casado – proferi, apenas por estar irritado

- Se eu fosse um inimigo, já estaria morto – sentenciou, ignorando a minha pergunta enquanto piscava – Precisa aprimorar seus reflexos, querido primo – sua pose despojada condizia com sua personalidade livre

- Se eu tivesse tido os reflexos mais rápidos, seria minha prima que estaria morta – disse a contragosto, já que ela tinha interrompido a primeira noite que eu realmente tinha conseguido dormir bem depois de tantos meses

- Meu primo tem um ponto – ela se sentou sobre a beirada da cama, ignorando a minha carranca – Por que não deixou que meus pais viajassem juntos?

Olhei-a surpreso pela pergunta direta, não esperando que ela viesse aqui no meio da noite apenas para questionar as minhas decisões tomadas e já em vigor.

- Isso não é assunto seu – respondi, tentando soar o mais incisivo possível, na esperança de que ela simplesmente fosse embora e não insistisse no assunto, mas com a personalidade dela é claro que isso foi apenas um sonho distante

- Eles são os meus pais, como pode não haver relação comigo? – sua cabeça inclinou para o lado, com um sorriso zombeteiro estampado no seu rosto, que era realmente tão semelhante ao do meu tio

- Mesmo assim, eu não acho que tenho que te explicar as minhas decisões como líder – retruquei mal-humorado

- Quando usa da sua posição para interferir na relação deles tem sim – seus braços se cruzaram, enquanto uma de suas pernas foi jogada sobre a outra, assumindo uma pose totalmente intimidadora, sem fazer menção de que ia recuar até receber uma resposta satisfatória

- Seu pai paterno machucou meu tio, o desprezou e o abandonou mesmo grávido. Meu tio então teve que passar a vida lutando com a dor do luto e as feridas que não cicatrizavam em seu coração, incluindo a lembrança constante da rejeição do seu até então único amor. Ele nunca se permitiu amar novamente, prima, não até meu mestre. E quando meu tio achou alguém realmente especial, mas tão machucado quanto, quando ele finalmente se permitiu amar novamente, seu pai voltou. E com seu jeito egoísta, que só pensa em si, decidiu de uma hora para outra que quer estragar a felicidade do meu tio. Como se já não fosse suficiente tê-lo feito várias vezes no passado – cuspi as palavras, uma por uma, precisando controlar o impulso de quebrar cada móvel dentro daquele quarto pitoresco para descontar em alguma coisa a minha frustação e indignação – Me desculpe prima, por apenas não quero ver o meu tio sendo machucado novamente pelo seu pai

Ela continuou me olhando, analisando minhas palavras e feições com máxima concentração e dedicação, refletindo sobre meus pensamentos e os seus próprios, soltando toda a sua respiração cansada.

- Como pode saber que foi de uma hora para outra? Às vezes só percebemos o que realmente amamos quando perdemos, e com o meu pai não foi diferente. Meu pai errou e passou quase uma vida se arrependendo todos os dias e se agarrando à esperança de que um dia poderia tentar outra vez. Não que meu pai mereça isso ou não mereça, a questão, primo, é que quem tem que decidir isso é meu pai, seu tio, e não nós por ele. Se a felicidade dele for o seu mestre, meu pai vai escolhê-lo, e meu outro pai aceitará e respeitará. Mas até que ele faça essa escolha, por que meu pai não poderia tentar? – voltou a indagar, suas palavras sendo como um tapa direto em minha face

O Cultivador TransmigradoNơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ